O sulfato ferroso e outros medicamentos à base de ferro são amplamente usados na reposição de ferro em todos os níveis do Sistema de Saúde, desde a atenção primária até a terciária. Disponíveis em formulações orais e injetáveis, são indicados principalmente no tratamento da anemia ferropriva, mas também em outras condições clínicas associadas à deficiência do ferro.
Reposição de ferro por via oral
A via oral é a primeira escolha para a reposição do ferro em adultos, com destaque para os sais ferrosos como o sulfato ferroso (20% de ferro elementar), fumarato ferroso e gluconato ferroso, que são amplamente utilizados devido à sua eficácia e baixo custo. Entretanto, a tolerância é limitada pelos efeitos colaterais, que incluem constipação intestinal (12%), náuseas (11%), diarreia (8%) e dor abdominal.
Não há evidências que comprovem superioridade entre os diferentes compostos. Apesar disso, alguns pacientes relatam melhor tolerância ao bisglicinato ferroso, o que pode ser considerado antes de indicar a via parenteral quando a única justificativa é a má adaptação.
Qual a melhor posologia dos sais ferrosos orais?
Na sequência da ingestão de ferro oral, há um aumento da hepcidina sérica, que induz o fechamento da ferroportina dos enterócitos, fato que bloqueia a absorção de ferro por até 48 horas. Dessa forma, não há justificativa para a administração dos sais ferrosos em frequência superior a uma vez ao dia (65 mg de ferro elementar/dia). Além disso, estudos recentes, especialmente na população geriátrica, têm demonstrado maior eficácia e tolerância com a reposição em dias alternados.
Como otimizar a absorção do ferro oral?
Para melhor absorção, recomenda-se que o ferro oral seja ingerido com o estômago vazio, preferencialmente em conjunto com a vitamina C (por exemplo, 80 mg de ácido ascórbico ou 500 mg se, por intolerância, for ingerido após a refeição), prevenindo a formação de compostos insolúveis e atuando na redução do ferro férrico em ferroso, forma mais bem absorvida.
Lembrando que deve-se evitar o consumo café e chás no período de 1 hora antes e após a ingestão do sal ferroso, pois eles atuam como potentes inibidores da absorção do ferro.
Reposição de ferro endovenosa: quando considerar?
As principais indicações de reposição parenteral de ferro são as seguintes:
- Síndromes graves de má absorção;
- Doença inflamatória intestinal em atividade;
- Pós-operatório de cirurgias bariátricas;
- Síndrome IRIDA;
- Má tolerância ou falha terapêutica com ferro oral (por exemplo, quando as perdas superam a capacidade absortiva)
- Anemia ferropriva intensa e sintomática
Sempre que possível, deve-se optar por formulações que permitam corrigir todo o déficit de ferro em apenas uma ou duas aplicações, como carboximaltose férrica, derisolmatose férrica, ferumoxitol ou ferro dextrano de baixo peso molecular. No sistema único de saúde brasileiro, entretanto, a maior disponibilidade é do sacarato de hidróxido ferro, que demanda múltiplas infusões, em dias alternados.
Riscos e particularidades das formulações endovenosas
A utilização de ferro endovenoso exige ressalvas:
- Carboximaltose férrica: pode causar hipofosfatemia, associada a fadiga e até à osteomalácia.
- Ferumoxitol: atua como agente de contraste supramagnético, devendo ser discutido com um radiologista sobre a viabilidade de uma eventual ressonância magnética, nos três meses subsequentes à infusão.
Evidências em pacientes com doença inflamatória intestinal
Entre os pacientes com doença inflamatória intestinal (DII), uma meta-análise envolvendo 5 RCTs e quase 700 pacientes, demonstrou superioridade da reposição endovenosa em relação à oral, com odds ratio (OR) da 1,57 para incremento da hemoglobina em pelo menos 2 g/dL e de 0,27 para eventos adversos motivadores de descontinuação do tratamento.
Portanto, a via parenteral é a preferencial nesses casos, especialmente quando a hemoglobina estiver abaixo de 10 g/dL e o processo inflamatório estiver ativo (recomendações do ECCO). Caso contrário, pode-se tentar a reposição com formulações orais, com atenção à tolerância e eficácia. O mesmo se aplica para a ferropenia no pós-operatório da cirurgia bariátrica.
Leia também: Ferropenia na gestação: qual a melhor abordagem?
*Este conteúdo foi atualizado em: 23/09/2025 pela equipe editorial do Portal Afya.
Autoria

Leandro Lima
Editor de Clínica Médica da Afya ⦁ Residência em Clínica Médica (2016) e Gastroenterologia (2018) pelo Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG) ⦁ Residência em Endoscopia digestiva pelo HU-UFJF (2019) ⦁ Preceptor do Serviço de Medicina Interna do HU-UFJF (2019) ⦁ Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
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