Laringoespasmo na anestesia. Como proceder?
Apesar de ser, na maioria das vezes, um evento autorresolutivo e ocasionado por fatores que podem ser evitados, em alguns cenários o laringoespasmo pode desencadear outras complicações graves e evoluir para hipóxia severa e óbito, uma vez que o ar é incapaz de entrar nos pulmões. Corresponde a 30% dos eventos respiratórios encontrados durante o procedimento anestésico, portanto, não é raro.
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O laringoespasmo
Fisiologicamente pode ser definido como um reflexo exagerado do fechamento glótico principalmente devido à manipulação das vias aéreas do paciente. O reflexo do fechamento glótico é um mecanismo essencial para proteção das vias aéreas, ocorre durante a deglutição, impedindo que partículas indevidas penetrem na árvore brônquica, sendo proveniente do estímulo do nervo laríngeo superior, responsável pela inervação da epiglote, estimulando impulsos provenientes do bulbo cerebral. O laringoespasmo decorre de uma exacerbação desse reflexo com ausência da sua inibição, fazendo com que o fechamento glótico seja severo e permaneça por mais tempo.
Durante o episódio, o paciente apresenta uma obstrução respiratória, podendo evoluir se não diagnostica e tratado a tempo, para queda da saturação de oxigênio, bradicardia e parada cardiorrespiratória.
Caso clínico: Convulsão ao despertar
Pode ocorrer em qualquer paciente, porém é mais observado na população pediátrica devido ao maior tônus parassimpático, sendo que em recém-nascidos até três meses a incidência é maior e mais grave, devido a própria anatomia das vias aéreas. Além do fator idade, também podem ocorrer em pacientes com infecção de vias aéreas, pacientes obesos e com síndrome de Down. Fatores externos que promovam uma maior manipulação de vias aéreas também podem desencadeá-lo como por exemplo aspiração constante de vias aéreas, múltiplas tentativas de intubação, colocação de sondas ou de dispositivos facilitadores, procedimentos em cavidade oral, uso de medicações que causem sialorreia, entre outros
Durante o procedimento anestésico, mais especificamente durante a anestesia geral, onde há maior manipulação de vias aéreas, o laringoespasmo pode ocorrer em dois momentos distintos: durante a indução, quando o paciente é intubado e durante a extubação, sendo este o momento mais frequente.
Laringoespasmo durante a indução
- Evitar excessiva manipulação de vias aéreas como aspirações.
- Realizar oxigenioterapia com O2 100% em CPAP.
- Aprofundar o plano anestésico com agentes venosos.
- Caso não consiga resolver, administrar relaxante muscular de curta latência como succinilcolina ou rocurônio em doses altas.
Laringoespasmo durante a extubação
- O laringoespasmo ocorre após a retirada do tubo, portanto deve-se imediatamente, assim que diagnosticado, ventilar o paciente com pressão positiva de aproximadamente 10 cmH2O, fazendo a elevação da mandíbula. Essa manobra afasta as cordas vocais por enfraquecer os músculos tireoidianos, facilitando a entrada de ar.
- Realizar a manobra de digitopressão retroauricular: Pressionar em direção anterior, deslocando a mandíbula para frente, o ponto do laringoespasmo, que se situa atrás do lóbulo da orelha entre o processo mastóideo e o ramo mandibular.
- Caso não consiga resolver, pode administrar relaxante muscular de rápida ação, como a succinilcolina e manter o paciente em ventilação positiva sob máscara.
O melhor tratamento para o laringoespasmo ainda é a prevenção, evitando ao máximo a excessiva manipulação das vias aéreas, principalmente em pacientes de risco.
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