Implicações clínicas do cálcio coronariano e o papel do escore de cálcio
A doença cardiovascular (DCV) é uma preocupação global de saúde, responsável por cerca de 30% das mortes anuais e que se destaca como o principal fator para a carga global de doenças. A aterosclerose representa uma das principais causas de DCV. Reduzir a mortalidade e a morbidade associadas à doença arterial coronariana (DAC) é um objetivo central nos cuidados cardiovasculares. Já se sabe que o escore de cálcio (EC) serve como um marcador de desenvolvimento e vulnerabilidade das placas, fornecendo evidências diretas da extensão da carga de DAC e prevendo eventos cardiovasculares futuros. Modalidades de imagem não invasivas, como a tomografia computadorizada (TC), permitem avaliar com precisão tanto a extensão das calcificações quanto seus padrões, com correlação ideal com dados de prognóstico.
Calcificação coronariana: definição
O significado da calcificação coronariana ainda não foi totalmente elucidado. Embora a calcificação vascular sirva como um marcador da aterosclerose coronariana, sua associação com uma maior taxa de eventos agudos ainda não é totalmente compreendida. De fato, vários estudos sugerem que uma carga de cálcio maior proporciona estabilidade às placas em vez de induzir instabilidade. Por outro lado, outros estudos destacam que microcalcificações (< 50 mm) ou calcificações pontuais (< 1 mm) podem estar associadas à vulnerabilidade das placas, devido ao estresse localizado nos tecidos e à progressão acelerada do volume da placa.
Esses achados ressaltam a complexidade de interpretar os EC. Em vez de indicar diretamente lesões culpadas futuras, o EC reflete predominantemente a carga total de aterosclerose coronariana. Assim, fica claro a importância de se analisar os padrões de cálcio na avaliação da vulnerabilidade das placas.
A tomografia computadorizada (TC) destaca-se como o principal método não invasivo para identificar calcificação coronariana, utilizando o escore de Agatston. A maioria das diretrizes internacionais usa um limite acima de 100 para decisões clínicas.
As TC atuais têm limitações na avaliação das fases iniciais de calcificação na aterosclerose, devido à sua resolução espacial. Para garantir uma detecção precisa na imagem, a calcificação deve ter um diâmetro maior que 0,4 mm.
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Novas tecnologias
Embora ainda não aplicável em ambientes clínicos, a micro-TC permite uma resolução espacial superior, atingindo até 2 mm.
Além disso, resultados promissores estão surgindo com os detectores de contagem de fótons recém-introduzidos, que oferecem melhor resolução espacial, maior contraste de tecido mole e menor ruído nas imagens.
Uma modalidade alternativa capaz de identificar a atividade de calcificação é a imagem PET com fluoreto de sódio 18F (18F-NaF). O 18F-NaF supera os limites de resolução da TC e é eficaz na detecção de depósitos de cálcio recém-formados, especialmente em áreas de microcalcificação.
Imagem de freepikQual o papel do escore de cálcio (EC)?
Diretrizes em todo o mundo destacam a importância do EC tanto para reclassificar o risco de doença aterosclerótica, aumentando ou reduzindo a probabilidade de eventos, quanto para orientar decisões sobre o início ou a continuidade de terapias preventivas. Por exemplo, a maioria das diretrizes atuais concorda que um escore igual a 0 leva à decisão de se suspender a terapia com estatinas, assim como à decisão de se iniciar a terapia se EC > 100 (o início de AAS permanece controverso).
Talvez a questão mais crucial seja se um escore de cálcio zero realmente reflete a ausência de calcificações coronárias “significativas” ou se a tecnologia de TC com contagem de fótons poderia aprimorar ainda mais a estratificação de risco de eventos cardiovasculares ao identificar calcificações menores, porém significativas.
Na avaliação de pacientes sintomáticos com suspeita de DAC, o EC pode ser utilizado para aumentar a probabilidade pré-teste de DAC obstrutiva e para identificar pacientes de baixo risco para os quais os exames podem ser adiados. Importante: Não exclui DAC em pacientes jovens, já que esses podem apresentar placas moles (sem cálcio).
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As taxas de eventos em 10 anos aumentam de forma consistente com as categorias crescentes de EC. As taxas de eventos para indivíduos com um escore de CAC de 0 variam de 1,3% a 5,6%, enquanto para aqueles com um escore de CAC superior a 300 variam de 13,1% a 25,6%.
Vale destacar que estudos demonstraram que o EC subestima substancialmente o risco cardiovascular em mulheres. As mulheres levam 10 anos mais para apresentar alterações de cálcio e têm um risco duas vezes maior de morte cardiovascular em comparação com os homens com o mesmo EC.
Conclusão
Escore de cálcio alto está associado a avanço da aterosclerose. Trata-se de um preditor confiável de futuros eventos cardiovasculares tanto em pacientes assintomáticos quanto naqueles com suspeita de síndrome coronariana aguda. Entretanto, possui limitações, principalmente nos pacientes jovens e nas mulheres.
Os avanços tecnológicos em modalidades de imagem, como TC de contagem de fótons e imagem com 18F-Na, podem facilitar, no futuro, a detecção precoce de microcalcificações e atividades de calcificação.
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