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Cardiologia9 setembro 2024

Podemos manter ventilação mecânica durante a reanimação cardiopulmonar? 

Estudo avaliou se a efetividade da ventilação mecânica automática é igual à da ventilação manual durante a reanimação cardiopulmonar

No atendimento da parada cardiorrespiratória (PCR) um dos passos fundamentais é a ventilação. Fornecer oxigenação adequada é essencial, principalmente se a causa da PCR for respiratória. A recomendação atual é realizar a ventilação por dispositivo bolsa-valva-máscara, evitando ventilação excessiva, com volume corrente de 500 a 600mL. Porém, essa recomendação é baseada em estudos bastante antigos e a evidência sobre uso de ventilação mecânica nesse contexto é muito pequena. Assim, foi feito um estudo publicado recentemente comparando o uso de ventilação mecânica automática e ventilação com dispositivo manual durante a reanimação cardiopulmonar (RCP) em pacientes com PCR extra-hospitalar. 

Podemos manter ventilação mecânica durante a reanimação cardiopulmonar? 

Imagem de frimufilms/freepik

Métodos do estudo e população envolvida 

Foi um estudo piloto preliminar, randomizado e controlado com objetivo de determinar se a efetividade da ventilação mecânica automática é igual à da ventilação manual durante a RCP de pacientes com PCR extra-hospitalar intubados no departamento de emergência.  

Os pacientes deveriam ter de 19 a 89 anos, PCR extra-hospitalar de provável origem cardíaca e eram transportados ao hospital enquanto recebiam RCP.  Os critérios de exclusão eram causa não cardíaca, término da RCP na chegada e necessidade de via aérea cirúrgica.  

Caso o paciente fosse randomizado para o grupo ventilação mecânica, a intubação endotraqueal era realizada com uso de videolaringoscópio. O paciente era monitorizado com desfibrilador e um acesso venoso era obtido.   

O modo ventilatório utilizado era volume controlado, com frequência respiratória de 10 ventilações por minuto, volume corrente de 500 mL para homens e 350 mL para mulheres, relação inspiração-expiração 1:1, tempo de insuflação 3 segundos, pressão expiratória final (PEEP) 5 cmH2O, fração inspirada de oxigênio de 100% e limitação específica dos alarmes. Foi usado um dispositivo para medir o volume corrente e o volume minuto quando a ventilação manual era utilizada.  

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A reanimação cardiopulmonar era realizada por pelo menos 20 minutos. Durante o atendimento era obtida uma via arterial e uma gasometria era coletada em 10 minutos da chegada e repetida a cada 10 minutos e no RCE. Uma radiografia de tórax era realizada em todos os pacientes para avaliar lesão pulmonar por meio de um escore modificado. Quanto maior o escore maior o grau de lesão. 

O desfecho primário era RCE após o atendimento e os desfechos secundários eram RCE sustentada (≥ 20 minutos), mudança nos parâmetros da gasometria, parâmetros ventilatórios e o escore de lesão pulmonar. 

Resultados 

Foram randomizados 30 pacientes para cada grupo e não houve diferença nas características de base dos pacientes e fatores associados a RCP. Após a transferência ao serviço médico de emergência a intubação endotraqueal foi realizada em cerca de 1 minuto.  

Os resultados da gasometria foram obtidos em 6 minutos no grupo ventilação mecânica e 7 minutos no grupo ventilação manual, com novo exame em 12 e 9 minutos respectivamente. Não houve diferença nos resultados das gasometrias ou nos exames laboratoriais entre os grupos, exceto pelo d-dímero.  

O RCE ocorreu em 56,7% no grupo ventilação mecânica e 43,3% no ventilação manual, sem diferença estatística. Já RCE sustentada ocorreu em 43,3% no primeiro e 36,7% no segundo grupo, sem diferença estatística. Não houve diferença em mudança na gasometria. 

O volume corrente e volume minuto foram menores nos pacientes do grupo ventilação mecânica, o escore de lesão pulmonar foi menor no grupo ventilação mecânica e cada grupo apresentou 4 casos de pneumotórax. 

Comentários e conclusão 

Até o momento, nenhum estudo avaliou completamente a eficácia de métodos de ventilação durante a RCP e esse foi um estudo piloto que não mostrou diferença na efetividade da ventilação mecânica comparada a ventilação manual durante a reanimação cardiopulmonar.  

Apesar disso, o uso da ventilação mecânica com parâmetros adequados parece ter resultado semelhante à ventilação manual e poderia ser útil para reduzir a necessidade de pessoas no atendimento, disponibilizando um socorrista para outra função.  

Neste estudo foi observada perda de volume corrente, sendo a quantidade realmente entregue menor que a predeterminada. O motivo ainda não é claro, mas também já foi encontrado em outros estudos e pode ter ocorrido por alterações pulmonares e da complacência, por conta das compressões torácica.  

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O número de pacientes deste estudo foi pequeno e com objetivo de avaliar a factibilidade de um estudo maior, com amostra e poder estatístico adequados. O uso de ventilação mecânica pode ser factível e efetivo, com resultados semelhantes a ventilação manual. Porém, para confirmar esses resultados é necessário um estudo randomizado, controlado, com maior número de pacientes e de preferência multicêntrico.

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