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Cardiologia5 agosto 2025

Quais sintomas prodrômicos podemos encontrar nas mulheres com infarto?

Revisão mostra alta prevalência de sintomas prodrômicos antes da SCA em mulheres, destacando sinais além da dor torácica clássica.
Por Isabela Abud Manta

Apesar de ser a principal causa de morbimortalidade nas mulheres, as doenças cardiovasculares (DCV) continuam sendo subdiagnosticadas e subtratadas nesta população.  

Entre as DCV, a doença isquêmica é a mais prevalente e a síndrome coronaria aguda (SCA) engloba o infarto agudo do miocárdio (IAM) com ou sem supradesnivelamento do segmento ST e a angina instável.  

Mulheres com IAM frequentemente tem sintomas intermitentes, com duração de horas, dias ou semanas antes do evento e, embora a dor torácica seja o sintoma mais comum, pode haver outros, como dispneia, sintomas gastrointestinais e fadiga, os chamados sintomas atípicos.  

Os sintomas prodrômicos são frequentemente considerados sintomas de alarme, representam estágios precoces da doença e tendem a ser curtos, menos intensos, transitórios e inespecíficos quando comparados a angina. Muitas vezes esses sintomas não são associados a um problema cardíaco, mas sim à estresse ou ansiedade. 

Recentemente foi publicada uma revisão sistemática sobre esse assunto, com objetivo de sintetizar e analisar a evidência existente sobre os sintomas prodrômicos apresentados pelas mulheres antes de uma SCA.  

mulheres com infarto

Métodos do estudo e população envolvida 

Foi revisão sistemática que incluiu estudos quantitativos, com mulheres com 18 anos ou mais e diagnóstico confirmado de SCA que tiveram sintomas prodrômicos, publicados em inglês. 

Resultados 

Foram incluídos na análise final 11 estudos publicados entre 2003 e 2021. Foram 8 estudos transversais, 1 retrospectivo e 2 descritivos. O total de pacientes foi de 5543 e, apesar de 7 estudos terem avaliados sintomas em homens e mulheres, foi possível extrair os dados apenas das mulheres.  

A maioria dos estudos usou uma ferramenta específica de avaliação dos sintomas prodrômicos, o MAPMISS, dois estudos usaram um questionário específico, um estudo utilizou uma outra escala, a PS-SS, e um estudo utilizou uma base de dados ambulatorial, ACCS. O risco de viés dos estudos foi, no geral, moderado a alto, principalmente devido a característica subjetiva das variáveis avaliadas e a natureza observacional e retrospectiva dos estudos. 

A prevalência de sintomas prodrômicos foi alta, um estudo de 2021 mostrou que 24% das mulheres tinham pelo menos 2 sintomas prodrômicos, 26% tinham 3, 10,5% 4 e 7,9% tinham até 5 sintomas. Um outro estudo de 2017 mostrou sintomas prodrômicos em 85%. A média de sintomas variou, mas no geral foi de 6 sintomas. Um estudo de 2010 mostrou que mulheres negras tinham média de 7,48 sintomas, hispânicas tinham 6,98 e brancas tinham 5,48, com diferença estatística entre esses grupos. 

O momento da ocorrência dos sintomas também foi bastante variável, chegando até há 1 ano antes da SCA e em alguns estudos não foi especificado. Um estudo avaliou apenas sintomas nos últimos 6 meses e outros 2 apenas nos últimos 3 meses. 

Um estudo relatou dor torácica em 23,6%, outro relatou dor em tórax superior e interescapular com irradiação para braço esquerdo em 24,3%. Outros dois estudos relataram esses sintomas em 34% e 44% dos casos, mostrando sua elevada frequência. Além da dor torácica, 66% das mulheres relataram dor em ombro e em 2 estudos 37% e 57% relataram dor em dorso. Do total, houve relato de dor em braço em 10 dos 11estudos, com probabilidade maior de SCA quando dor bilateral. A ocorrência de dor em ombros bilateral variou de 23,7% a 61%. 

Fadiga foi sintoma encontrado nos 11 estudos, com frequência variável, entre 33,1% e 85%. Já ansiedade, foi relatada em 8 estudos e foi também sintoma comum, variando de 26,2% a 61,3%. Mais de metade dos pacientes relataram distúrbios de sono, dispneia ocorreu em 20,8% a 61,3% e apenas dois estudos avaliaram tontura, que ocorreu em 19,8% e 85%.  

Outros sintomas tiveram ocorrência menor, como alterações de pensamento e memória (em 21,8% e 23,9%), gastrointestinais (3,4% a 39%), cefaleia (15,8 a 24%), palpitações (20% a 32,3%) e perda de apetite (19,8%).  

Comentários e conclusão 

Essa revisão sistemática fez uma síntese e análise quantitativa da evidência disponível sobre sintomas prodrômicos prévios a uma SCA em mulheres e os resultados mostraram alta prevalência de sintomas prodrômicos antes do evento. 

Esses sintomas foram bastante heterogêneos e não somente a dor torácica, que ocorreu em menos da metade dos casos. Uma possível explicação poderia ser a inervação e predomínio de ativação do sistema nervoso simpático ou vagal. 

O número de sintomas relatados foi relativamente alto, com uma média de 6 sintomas, sendo que as mulheres parecem ter pelo menos 2 ou 3 dos sintomas mais comuns, associados a outros menos frequentes. Porém, o momento da apresentação dos sintomas foi muito heterogêneo, com alguns estudos avaliando 3 meses, outros 6 meses e outros até um ano, o que dificulta comparações. 

Essa análise tem diversas limitações, com sua natureza retrospectiva, inclusão de pacientes apenas com diagnóstico confirmado de SCA e possibilidade de viés. Porém, enfatiza a necessidade de avaliar a presença de sintomas prodrômicos na população de mulheres, no intuito de melhorar a acurácia diagnóstica e não retardar o diagnóstico e tratamento de uma SCA, com objetivo final de reduzir morbimortalidade.

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Referências bibliográficas

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