Apesar de ser a principal causa de morbimortalidade nas mulheres, as doenças cardiovasculares (DCV) continuam sendo subdiagnosticadas e subtratadas nesta população.
Entre as DCV, a doença isquêmica é a mais prevalente e a síndrome coronaria aguda (SCA) engloba o infarto agudo do miocárdio (IAM) com ou sem supradesnivelamento do segmento ST e a angina instável.
Mulheres com IAM frequentemente tem sintomas intermitentes, com duração de horas, dias ou semanas antes do evento e, embora a dor torácica seja o sintoma mais comum, pode haver outros, como dispneia, sintomas gastrointestinais e fadiga, os chamados sintomas atípicos.
Os sintomas prodrômicos são frequentemente considerados sintomas de alarme, representam estágios precoces da doença e tendem a ser curtos, menos intensos, transitórios e inespecíficos quando comparados a angina. Muitas vezes esses sintomas não são associados a um problema cardíaco, mas sim à estresse ou ansiedade.
Recentemente foi publicada uma revisão sistemática sobre esse assunto, com objetivo de sintetizar e analisar a evidência existente sobre os sintomas prodrômicos apresentados pelas mulheres antes de uma SCA.
Métodos do estudo e população envolvida
Foi revisão sistemática que incluiu estudos quantitativos, com mulheres com 18 anos ou mais e diagnóstico confirmado de SCA que tiveram sintomas prodrômicos, publicados em inglês.
Resultados
Foram incluídos na análise final 11 estudos publicados entre 2003 e 2021. Foram 8 estudos transversais, 1 retrospectivo e 2 descritivos. O total de pacientes foi de 5543 e, apesar de 7 estudos terem avaliados sintomas em homens e mulheres, foi possível extrair os dados apenas das mulheres.
A maioria dos estudos usou uma ferramenta específica de avaliação dos sintomas prodrômicos, o MAPMISS, dois estudos usaram um questionário específico, um estudo utilizou uma outra escala, a PS-SS, e um estudo utilizou uma base de dados ambulatorial, ACCS. O risco de viés dos estudos foi, no geral, moderado a alto, principalmente devido a característica subjetiva das variáveis avaliadas e a natureza observacional e retrospectiva dos estudos.
A prevalência de sintomas prodrômicos foi alta, um estudo de 2021 mostrou que 24% das mulheres tinham pelo menos 2 sintomas prodrômicos, 26% tinham 3, 10,5% 4 e 7,9% tinham até 5 sintomas. Um outro estudo de 2017 mostrou sintomas prodrômicos em 85%. A média de sintomas variou, mas no geral foi de 6 sintomas. Um estudo de 2010 mostrou que mulheres negras tinham média de 7,48 sintomas, hispânicas tinham 6,98 e brancas tinham 5,48, com diferença estatística entre esses grupos.
O momento da ocorrência dos sintomas também foi bastante variável, chegando até há 1 ano antes da SCA e em alguns estudos não foi especificado. Um estudo avaliou apenas sintomas nos últimos 6 meses e outros 2 apenas nos últimos 3 meses.
Um estudo relatou dor torácica em 23,6%, outro relatou dor em tórax superior e interescapular com irradiação para braço esquerdo em 24,3%. Outros dois estudos relataram esses sintomas em 34% e 44% dos casos, mostrando sua elevada frequência. Além da dor torácica, 66% das mulheres relataram dor em ombro e em 2 estudos 37% e 57% relataram dor em dorso. Do total, houve relato de dor em braço em 10 dos 11estudos, com probabilidade maior de SCA quando dor bilateral. A ocorrência de dor em ombros bilateral variou de 23,7% a 61%.
Fadiga foi sintoma encontrado nos 11 estudos, com frequência variável, entre 33,1% e 85%. Já ansiedade, foi relatada em 8 estudos e foi também sintoma comum, variando de 26,2% a 61,3%. Mais de metade dos pacientes relataram distúrbios de sono, dispneia ocorreu em 20,8% a 61,3% e apenas dois estudos avaliaram tontura, que ocorreu em 19,8% e 85%.
Outros sintomas tiveram ocorrência menor, como alterações de pensamento e memória (em 21,8% e 23,9%), gastrointestinais (3,4% a 39%), cefaleia (15,8 a 24%), palpitações (20% a 32,3%) e perda de apetite (19,8%).
Comentários e conclusão
Essa revisão sistemática fez uma síntese e análise quantitativa da evidência disponível sobre sintomas prodrômicos prévios a uma SCA em mulheres e os resultados mostraram alta prevalência de sintomas prodrômicos antes do evento.
Esses sintomas foram bastante heterogêneos e não somente a dor torácica, que ocorreu em menos da metade dos casos. Uma possível explicação poderia ser a inervação e predomínio de ativação do sistema nervoso simpático ou vagal.
O número de sintomas relatados foi relativamente alto, com uma média de 6 sintomas, sendo que as mulheres parecem ter pelo menos 2 ou 3 dos sintomas mais comuns, associados a outros menos frequentes. Porém, o momento da apresentação dos sintomas foi muito heterogêneo, com alguns estudos avaliando 3 meses, outros 6 meses e outros até um ano, o que dificulta comparações.
Essa análise tem diversas limitações, com sua natureza retrospectiva, inclusão de pacientes apenas com diagnóstico confirmado de SCA e possibilidade de viés. Porém, enfatiza a necessidade de avaliar a presença de sintomas prodrômicos na população de mulheres, no intuito de melhorar a acurácia diagnóstica e não retardar o diagnóstico e tratamento de uma SCA, com objetivo final de reduzir morbimortalidade.
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