No último mês, a American Heart Association (AHA), publicou as novas diretrizes de atendimento a pacientes em parada cardiorrespiratória (PCR), tanto as diretrizes do suporte básico de vida (BLS) quanto do suporte avançado (ACLS). Aqui, vamos abordar os principais pontos em relação às recomendações do BLS.

Novas orientações
O objetivo das diretrizes do BLS é padronizar o tratamento da parada cardiorrespiratória (PCR) e de outras situações ameaçadoras a vida, incluindo parada respiratória e obstrução de via aérea por corpo estranho, tanto para socorristas leigos quanto profissionais de saúde. A atualização dessas diretrizes ocorreu a partir de novas evidências que sugiram a partir de 2020, data da publicação da diretriz anterior.
Todas as recomendações são classificadas de acordo com classes de recomendação, que se refere à força e consistência da evidência, e nível de evidência, que se refere à qualidade da evidência.
Esta nova diretriz incluiu 3 algoritmos no BLS, um para profissionais de saúde, que incorporou a utilização de antagonistas de opioides para PCR e parada respiratória, um para socorristas leigos e um que aborda o tratamento de obstrução de via aérea por corpo estranho.
A sequência da ressuscitação se baseia inicialmente em reconhecer a PCR. Caso haja um adulto inconsciente, arresponsivo ou com gasping, o socorrista leigo deve considerar que esteja em PCR. Já o profissional de saúde deve checar o pulso por até 10 segundos e, na sua ausência, considerar PCR.
Ao se diagnosticar PCR, deve-se iniciar a ressuscitação cardiopulmonar (RCP) com compressões torácicas e, caso o socorrista esteja sozinho, deve primeiro acionar o serviço de emergência. Se houver um telefone celular, o sistema de emergência pode ser acionado simultaneamente ao início das compressões torácicas.
Se o socorrista leigo for treinado, pode também realizar ventilações. Caso não seja, deve prosseguir apenas com compressões torácicas, já que essa é uma das medidas de maior impacto na sobrevida de pacientes com PCR. Profissionais de saúde devem fornecer ventilações após o início das compressões torácicas, desde que com proteção individual.
Profissionais de saúde devem também realizar a abertura da via aérea, com realização de duas manobras, desde que não haja suspeita de lesão cervical: inclinação da cabeça (head tilt) e elevação do queixo (chin lift). O objetivo é manter a via aérea sem obstrução, que pode ocorrer com a queda da língua para a orofaringe. Na ausência de contraindicações, também podem ser utilizadas as cânulas orofaríngeas ou nasofaríngeas, as últimas contraindicadas em casos de fratura de base de crânio suspeita ou confirmada.
Quando há suspeita de lesão cervical, pode-se utilizar a manobra de tração da mandíbula (jaw-thrust) para abertura da via aérea, na qual a mandíbula é “empurrada” anteriormente.
As compressões torácicas devem ser iniciadas rapidamente e realizadas com o compressor posicionado na altura do tórax do paciente. Devem ser realizadas no terço distal do esterno, no centro do tórax, com uma mão sobreposta a outra, sendo que a mão dominante deve ficar preferencialmente em contato com o esterno. A RCP pode ser realizada no local onde o paciente foi encontrado, desde que este seja seguro, de preferência em uma superfície rígida.
As pausas na compressão devem acontecer pelo menor tempo possível, seja nos momentos pré ou pós choque, para checagem de pulso e ritmo (máximo 10 segundos de pausa), troca de compressores, que ocorrem a cada 2 minutos, e na pausa para ventilação, quando são realizadas 2 ventilações. Espera-se uma fração de compressão de no mínimo 60%, ou seja, espera-se que o paciente esteja recebendo compressões torácicas em 60% do tempo total de atendimento, já que isto leva à melhora de sobrevida.
As compressões torácicas devem ser realizadas com uma profundidade de 5 a 6cm, a uma frequência de 100 a 120 por minuto, com retorno completo do tórax entre as compressões e, se possível, com utilização de dispositivos de feedback, para sua otimização em tempo real.
A ventilação pode ser realizada boca a boca (se seguro para o socorrista) ou com dispositivo bolsa-máscara. Sempre que possível, esta deve ser realizada por dois socorristas (um abre a via aérea e posiciona a máscara e o outro aperta a bolsa) e a quantidade de volume ofertado deve ser suficiente para se observar a elevação do tórax. Deve-se evitar hipo e hiperventilação.
Geralmente realiza-se ciclos de 30 compressões seguidas de 2 ventilações, porém pode-se considerar realização de compressões contínuas e ventilações assíncronas (1 a cada 6 segundos).
Caso o paciente apresente parada respiratória, ou seja, não tenha ventilação espontânea, mas tenha pulso, o socorrista deve fornecer ventilações, sendo 1 ventilação a cada 6 segundos.
Pacientes em PCR devem receber as pás do desfibrilador, geralmente o desfibrilador externo automático (DEA) na posição anterolateral ou anteroposterior do tórax sem roupas e as pás devem ter diâmetro de pelo menos 8 cm. O desfibrilador deve ser utilizado assim que disponível em casos de ritmo chocável.
Caso o paciente receba o choque, as compressões devem ser retomadas imediatamente após. Caso o ritmo não seja chocável, as compressões devem ser retomadas imediatamente após a verificação do ritmo.
Durante o atendimento inicial, se houver suspeita de intoxicação por opioides, deve-se considerar a administração do antagonista naloxona.
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Obstrução de vias aéreas por corpo estranho
Pacientes com obstrução de vias aéreas por corpo estranho devem receber ciclos de 5 batidas nas costas, seguidas de 5 compressões abdominais, até que o objeto seja expelido ou a vítima fique arresponsiva. O paciente deve ser encaminhado ao hospital assim que possível pelo serviço de emergência.
Caso o paciente fique arresponsivo, deve-se iniciar a RCP da forma como descrita anteriormente. Qualquer corpo estranho visível deve ser removido da via aérea.
Autoria

Isabela Abud Manta
Editora médica de Cardiologia da Afya ⦁ Residência em Clínica Médica pela UNIFESP ⦁ Residência em Cardiologia pelo Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) ⦁ Graduação em Medicina pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) ⦁ Atua nas áreas de terapia intensiva, cardiologia ambulatorial, enfermaria e em ensino médico.
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