Os grampeadores cirúrgicos são atualmente utilizados de forma ampla em procedimentos, com evidências consistentes de sua superioridade nos resultados comparados às técnicas manuais tradicionais.
Avanços recentes nesses equipamentos, com a transição do disparo manual para o disparo automático elétrico, têm demostrado vantagens como facilidade no manuseio, curva de aprendizado para sua utilização mais curta, compressão uniforme do tecido, além de controle preciso do ângulo do grampeador e maior estabilidade em seu disparo.
A escolha entre o grampeador manual e o elétrico deve levar em consideração fatores como custo, variações entre marcas, familiaridade do cirurgião, dentre outros.
O objetivo dessa revisão sistemática e meta análise é descrever os resultados dos grampeadores cirúrgicos manuais comparados aos grampeadores elétricos para informar aos médicos sobre os diversos métodos de grampeamento de anastomose.
Métodos
Foi realizada uma meta análise utilizando o software Review Manager, e como base de dados o Cochrane, CINAHL, EMBASE, PubMed e Web of Science para identificação de artigos relevantes sobre grampeadores cirúrgicos. A qualidade dos estudos analisados foi verificada utilizando as ferramentas de avaliação crítica do Instituto Joanna Briggs (JBI), sendo incluídos na amostra um total de 13 estudos.
Resultados
A amostra dos estudos constituiu um total de 43.104 pacientes, com idade média de 60,8 anos, com predominância do sexo feminino (73,82%).
Os resultados da meta análise evidenciaram, ao uso de grampeadores elétricos, redução significativa de fístula anastomótica em pacientes submetidos à cirurgia gastrointestinal [OR 0.31, (95% CI 0.17, 0.56), p = 0.0001], com ocorrência de 1.640 casos ao uso de grampeador manual e de 421 ao uso do elétrico.
Mostraram ainda redução de fístulas aéreas pós-operatórias em pacientes da cirurgia torácica, com ocorrência de 1.048 eventos com uso do grampeador elétrico, contrastando com 3.448 eventos com os grampeadores manuais [OR 0.65, (95% CI 0.42, 1.00), p = 0.05].
Foi observado também, nesses 2 grupos de cirurgias, declínio de complicações hemostáticas quando o grampeador elétrico foi empregado com ocorrência de 11.034 eventos nesse grupo, ao passo que com o uso do grampeador manual ocorreram 2.6301 eventos [OR 0.48, (95% CI 0.31, 0.76) p = 0.002].
Nos pacientes submetidos à cirurgia torácica, o uso de grampeadores elétricos reduziu os custos de hospitalização em US$ 1.725,82 em média, com relevância estatística [(95% CI -2475.48, -976.17) p < 0.00001].
Seu uso também esteve relacionado à redução do tempo cirúrgico tanto em cirurgias torácicas quanto nas gastrointestinais em 19,89 minutos e em 12,74 minutos, respectivamente, porém sem relevância estatística na meta análise [(95% CI -41.18, 1.40) p = 0.07 e (95% CI -26.12, 0.65) p = 0.06, respectivamente].
Leia mais: Impacto do diâmetro de grampeadores circulares nas taxas de fístulas e estenoses
Discussão
Essa meta-análise evidenciou impactos positivos do uso de grampeadores elétricos nos resultados e custos nas cirurgias gastrointestinais e torácicas. Alguns dos motivos que poderiam explicar esses resultados é a maior estabilidade e melhor controle do movimento tissular com o uso de grampeadores elétricos, reduzindo o risco de danificação do tecido durante o grampeamento, garantindo maior precisão na anastomose, além de permitir uma compressão uniforme do tecido.
Outro fato seria a necessidade inferior de força a ser aplicada para seu disparo, reduzindo o movimento da ponta distal, comparado aos grampeadores manuais, com menor risco de danificação de estruturas adjacentes.
Alguns estudos mostraram outros benefícios dos grampeadores elétricos, como maior eficácia no tempo cirúrgico, porém nessa meta-análise não houve diferença estatística nesse quesito, possivelmente pelo fato da manipulação e taxa de disparo dos grampeadores serem dependente dos cirurgiões e do tipo do procedimento executado, impactando no tempo cirúrgico.
Outro fator que poderia explicar esse ponto seria a pequena amostra presente nesse estudo.
Apesar do maior custo dos dispositivos dos grampeadores elétricos quando comparados aos manuais, os elétricos foram associados a menores custos hospitalares, em função de suas inferiores taxas de complicações, não gerando custos adicionais.
Conclusão
O uso de grampeadores elétricos está se consolidando como alternativa preferencial em cirurgias devido a evidências científicas de menores taxas de complicações, como fístulas e sangramentos, de redução custos hospitalares e de tempo cirúrgico ao uso deles quando comparados aos grampeadores manuais.
Limitações
Algumas limitações do presente estudo seriam a inclusão de diferentes modelos de grampeadores manuais e elétricos, podendo impactar nos resultados pós-operatórios, além da heterogeneidade de cirurgiões e a inclusão de variados tipos de cirurgias (laparoscópicas ou abertas), podendo resultar em variações nas complicações, tempos cirúrgicos e custos.
Quanto aos resultados sobre os custos, esses poderiam ter sido influenciados por variações nas taxas de inflação e de câmbio ao longo dos anos. Por fim, a base de dados, ainda limitada sobre estudos com grampeadores elétricos, resultou em amostra pequena nesse estudo, podendo dificultar a inferência estatística de seus resultados para a população geral.
Mensagem prática
1 – O uso de grampeadores elétricos reduziu ocorrência de fístulas anastomóticas em cirurgias gastrointestinais.
2- O uso de grampeadores elétricos reduziu ocorrência de fístulas aéreas pós-operatórias em cirurgias torácicas.
3- O emprego do grampeador elétrico reduziu complicações hemostáticas tanto em cirurgias gastrointestinais quanto torácicas.
4- Houve redução dos custos hospitalares com o uso de grampeadores elétricos em cirurgias torácicas.
5- Essa meta-análise não demonstrou diferença estatística entre o uso de grampeadores elétricos e manuais para redução do tempo cirúrgico.
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