Apareceu uma suspeita de mpox no plantão? Veja o que é importante saber
A infecção pelo Monkeypox virus do clado IIb, um ortopoxvírus zoonótico com DNA de cadeia dupla, foi identificada primeiramente em 1958, em uma colônia de macacos de laboratório. O primeiro caso humano foi descrito em 1970, na República Democrática do Congo, e tornou-se uma preocupação mundial emergente de saúde pública a partir de 2022, quando se disseminou rapidamente por mais de 100 países.
A transmissão se dá primariamente por contato cutâneo direto, pele a pele, com destaque, no momento epidemiológico atual, para a contaminação durante a atividade sexual. Dessa forma, é sempre útil realizar a triagem para outras infecções sexualmente transmissíveis, como gonorreia, clamídia, sífilis e HIV. por ocasião da suspeita de MPox. Roedores arbóreos (esquilos) são o reservatório.
A incubação mediana é de sete a dez dias, sendo que há registros de incubação de dois até 21 dias. As lesões cutâneas tipicamente são dolorosas. Há a possibilidade de proctite no intercurso receptivo anal, além de faringite, uretrite e conjuntivite. Geralmente o número de lesões é limitado, com mediana de dez.
Saiba mais: Mpox: atualização e manejo das lesões cutâneas
Profilaxia
Vacina: Vaccinia Ankara Modificada – Nordic® (eficácia entre 66% e 86% – Jynneos) e Imvanex: duas doses, intervaladas em quatro semanas, é indicada para populações de alta incidência, como profissionais de risco, homossexuais ou exposição a múltiplos parceiros, além de poder ser utilizada pós-exposição, especialmente nos primeiros quatro dias.
É recomendado o quarto isolado, a paramentação dos profissionais de saúde com capote, luvas, proteção ocular e máscara N95. As lesões são consideradas infectantes até a reepitelização (até quatro semanas, em média).
Pródromo
Febre e linfadenopatia, principalmente, além de mialgia, mal-estar e cefaleia, com duração média de um a cinco dias.
Progressão
Rash centrífugo em face, tronco, membros e genitais. Progressão em 4 estágios, que podem ser simultâneos, ao longo de duas a quatro semanas:
- Máculas (1-2 dias);
- Pápulas (1-2 dias);
- Vesículas (1-2 dias);
- Pústulas (5-7 dias);
- Crostas (7- 14 dias);
Diagnóstico
PCR de amostras provenientes de pelo menos 2 lesões cutâneas por meio de esfregaço vigoroso com um swab estéril sintético e transportado em frasco seco ou meio viral específico.
- Sífilis secundária (VDRL/FTA-ABS), cujas lesões geralmente são indolores;
- HSV genital com lesões dolorosas e semelhantes;
- Impetigo e celulite;
- Enterovírus, molusco contagioso, varicela e varicela zóster.
Tratamento
Cuidados com a pele e analgesia (dipirona, paracetamol, AINEs e, em casos mais intensos, gabapentinoides ou uso pontual de opioides).
Laxativos podem amenizar os sintomas da proctite, bem como banhos de assento e lidocaína em gel tópica. Lidocaína viscosa pode amenizar a dor da faringite.
Reservado para apresentações graves ou potencialmente graves:
- Tecovirimat (alvo na proteína p37 do envelope viral, freando a replicação);
- Cidofovir e Brincidofovir (inibem a atividade da DNA polimerase e a replicação viral);
- Imunoglobulina EV da Vaccínia (fornece imunidade protetora contra o MPXV)
- Trifluridina: agente tópico com potencial emprego na doença oftalmológica.
A evolução geralmente é autolimitada, com recuperação completa em duas a quatro semanas e taxa de mortalidade inferior a 2%, havendo diferenças entre países ricos e pobres (mortalidade nos EUA < 0,2% e 4,6% em algumas regiões africanas).
Lesões cutâneas
As lesões cutâneas podem evoluir com cicatrizes estigmatizantes e, na região genital, podem levar a estenoses com impacto na qualidade e função sexual. As consequências oftalmológicas podem implicar em perda parcial da visão e até mesmo cegueira, sendo a avaliação oftalmológica essencial na fase aguda da doença. O acometimento retal pode cursar com perfurações, fístulas e estenoses, condições em que o suporte da coloproctologia pode ser importante.
Entre os imunodeprimidos, como os portadores de SIDA com CD4 < 200 células/µL ou receptores de transplantes de órgãos sólidos, são esperados casos de maior gravidade, incluindo o risco de óbito.
Nas formas graves podem ocorrer complicações como as lesões necrotizantes cutâneas com superinfecção bacteriana, pneumonia e encefalite. As alterações laboratoriais hepáticas ocorrem em mais de um terço dos casos hospitalizados.
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Conclusão e mensagem prática
- A infecção pelo mpox é transmitida principalmente por contato próximo cutâneo. A evolução, geralmente, é autolimitada, com resolução em duas a quatro semanas. A imunossupressão, entretanto, é um importante fator de risco para as formas graves e potencialmente fatais. O tratamento geralmente é suportivo, mas os tratamentos antivirais específicos, amparados em evidência limitada, podem ser utilizados nas formas graves ou em imunossuprimidos.
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