Evidências do agulhamento seco nos pontos gatilhos ativos de pacientes com dor no pescoço
A dor no pescoço é um dos distúrbios mais comuns na população em geral, afetando 2,2% das pessoas no mundo.
A maioria dos casos de dor no pescoço evolui em uma condição crônica que afeta o estado psicológico, físico e social dos pacientes. A etiologia da cervicalgia crônica permanece incerta podendo ser causada pela disfunção de várias estruturas na região do pescoço. Vários autores demonstraram uma relação entre dor cervical crônica e pontos-gatilho miofasciais. Esses são definidos como pontos hipersensíveis em uma faixa palpável e tensa de fibras musculares esqueléticas. Os pontos gatilhos miofasciais ativos levam ao desenvolvimento de dor no pescoço e as disfunções físicas e psicológicas sofridas por pacientes com cervicalgia crônica.
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O agulhamento seco é um dos tratamentos mais comuns para dor miofascial. O objetivo do tratamento é eliminar ou inativar a contração miofascial. Estudos anteriores mostraram que o tratamento com agulhamento seco dos pontos- gatilho ativados no músculo trapézio superior, elevador da escápula e esternocleidomastóideo é eficaz para diminuir a intensidade da dor e incapacidade em pacientes com cervicalgia. No entanto, faltam evidências sobre os efeitos do agulhamento seco nos pontos-gatilho miofasciais sobre cinesiofobia, catastrofização da dor e sofrimento psíquico em pacientes com cervicalgia crônica. E, por isso, o objetivo do estudo analisado neste resumo foi investigar os efeitos do agulhamento seco na cervicalgia crônica também nestes aspectos situados acima, além da intensidade da dor, incapacidade.
O estudo
O desenho do estudo piloto publicado no Research, Society and Development Journal foi do tipo duplo cego (paciente e avaliador) randomizado e controlado. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Clínica de Aragon. Todos os pacientes compreenderam os procedimentos e assinaram um consentimento informado por escrito.
Métodos
Entre setembro de 2019 e fevereiro de 2020, 37 pacientes com cervicalgia crônica foram encaminhados por médicos da atenção básica para o serviço de fisioterapia em Soria. Os critérios de inclusão foram: cervicalgia por mais de três meses; idade de 30 à 65 anos; e pelo menos um ponto-gatilho ativo no trapézio superior, elevador da escápula ou músculos esternocleidomastóideos.
Os pontos-gatilho miofasciais ativos foram localizados por palpação manual nos músculos do pescoço de acordo com os seguintes critérios, desenvolvidos pelos pesquisadores Travell e Simons: 1) presença de uma banda tensa palpável, 2) dor local à pressão aplicada no nódulo da banda tensa, 3) reprodução da dor dos pacientes com a palpação, 4) limitação dolorosa da amplitude de movimento durante o alongamento. A palpação manual é o padrão-ouro atual para diagnóstico dos pontos gatilhos.
Os critérios de exclusão foram: história de trauma cervical, radiculopatia cervical, dor aguda no pescoço, história de cirurgia na região anterior do pescoço ou ombro, história do diagnóstico de cefaleia primária, deformidade, infecção ou malignidade, tratamento fisioterapêutico prévio nos últimos três meses; experiência prévia com a técnica de agulhamento seco. Assim como as contra-indicações do agulhamento seco: infecção local, sangramento, imunossupressão, medo significativo de agulhas e incapacidade de compreender as instruções.
Resultados
Dos 37 pacientes com dor crônica no pescoço selecionados, 16 pacientes foram excluídos e 21 pacientes preencheram todos os requisitos de elegibilidade. Os selecionados foram aleatoriamente designados a um dos três grupos. De acordo com esses achados clínicos, não houve diferença estatística no número de pontos gatilhos ativados em cada paciente. O grupo “agulhamento seco” apresentou maior diminuição na intensidade da dor, catastrofização da dor e incapacidade em comparação com o grupo “agulhamento seco falso” e o grupo “controle”. Enquanto o grupo “agulhamento seco falso” e o grupo “controle” não apresentaram diferenças estatísticas entre si. Uma das limitações do estudo foi o pequeno tamanho da amostra.
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Considerações
Pode-se concluir que as duas sessões de agulhamento seco, nos pontos gatilhos ativos no pescoço dos pacientes do grupo “agulhamento seco”, diminuíram a intensidade da dor, assim como o sofrimento psíquico, cinesiofobia, catastrofização da dor e incapacidade.
Mensagem prática
Este estudo, somado aos outros realizados até o momento sobre esse tema, encontraram evidência científica para uso desta ferramenta prática de baixo custo, rápida e com poucos efeitos adversos. Sendo assim, o agulhamento seco representa uma estratégia de cuidado relevante para manejo dos pacientes com cervicalgia crônica.
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