Monkeypox: atualização confiável com evidências vivas
A monkeypox, ou varíola dos macacos, é uma nova doença infectocontagiosa que representa desafios na área de pesquisa médica.
Na era da informação ubíqua, está cada vez mais difícil para nós médicos nos atualizarmos de forma confiável. Assim, trago uma dica de uma fonte de evidências científicas em relação ao surto de varíola do macaco (monkeypox), visando diminuir a chance de acontecer o dano causado pelas fake news ou mesmo pela utilização “seletiva” de informação científica, que o mundo presenciou na pandemia de Covid-19.
Vale a pena lembrar que todo e qualquer conhecimento sobre essa nova doença está sendo construído a partir de dados prévios limitados. De certa forma, todos voltamos ao tempo de faculdade, onde o aprendizado de conceitos fisiopatológicos era novidade, assim como aquele relativo a domínios de decisão clínica do dia a dia do médico no encontro com seus pacientes, tais como o diagnóstico, o prognóstico, o tratamento e o dano das intervenções.
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Dito isto, o documento que trago se trata de um compilado de diferentes tipos de evidências científicas, juntamente com atualizações de dados de diferentes locais, no caso países onde o surto de monkeypox já está ganhando escalas alarmantes.
Perfil de evidências vivas
O chamado “Living Evidence Profile” ou “perfil de evidências vivas” (PEV) consiste numa iniciativa financiada pela Agência de Saúde Pública do Canadá. O documento vem sendo produzido e atualizado regularmente pela CoVaRR-Net (Coronavirus Variants Rapid Response Network), uma rede de pesquisadores de instituições canadenses criada para auxiliar o governo do Canadá a lidar com a ameaça de variantes emergentes do SARS-CoV-2.
Suas versões estão disponíveis no site do McMaster Health Forum, cujo objetivo é gerar respostas e ações sobre as atuais questões prementes do sistema de saúde, com base nas melhores evidências de pesquisa disponíveis, sistematicamente obtidas, fortalecendo os sistemas de saúde canadense e internacionais. Este “perfil de evidências vivas” fornece um resumo das principais descobertas e evidências criteriosamente elegíveis, incluindo aqueles disponíveis sobre a natureza zoonótica da monkeypox globalmente.
A mais recente atualização do “perfil de evidência viva” que se encontra na 6ª versão, foi preparada no equivalente a três dias, sendo disponibilizada no dia 5 de agosto de 2022. Clique aqui e acompanhe as versões mais recentes.
Estrutura de organização
Uma vez que a monkeypox se trata de uma doença até recentemente pouco conhecida, são necessários dados e informações visando responder questões tanto básicas (por exemplo, mecanismos de doença), quanto questões avançadas as quais se encontram nos diferentes domínios de ação clínica. Assim, o PEV estrutura a apresentação de seus achados nos seguintes domínios:
– Biologia
– Epidemiologia (incluindo transmissão)
– Prevenção e controle
– Apresentação clínica
– Diagnóstico
– Prognóstico
– Tratamento
Estratégia de busca e seleção das evidências
Na confecção do documento é utilizado um protocolo padrão de busca, análise crítica e inclusão/exclusão, garantindo que a abordagem de identificação tanto das evidências científicas, quanto das experiências de outros países e de províncias/territórios canadenses sejam sistemáticas e transparentes. Durante este processo, foram incluídas evidências publicadas, “preprint” e literatura não publicada (cinzenta). Não houve exclusão de documentos com base no idioma, sendo as principais conclusões obtidas de documentos escritos em chinês, inglês, francês ou espanhol.
Quanto a informações disponíveis em outras línguas, foram usadas funções de tradução específicas do site ou o Google tradutor. Todas as pesquisas foram limitadas à literatura publicadas ou registradas a partir de 2017 até o dia 1 agosto de 2022, objetivando-se obter qualquer evidência relacionada a surtos de Monkeypox recentes fora da África.
Os bancos de dados e fontes de evidências científicas que foram pesquisados incluem o ACCESSSS, HealthEvidence, Health Systems Evidence, PROSPERO (protocolos de revisão e títulos registrados), PubMed e MedRxiv, nos quais foram considerados para análise e inclusão os seguintes:
1) diretrizes (fornecendo recomendações ou outras declarações normativas derivadas de um processo explícito para síntese de evidências)
2) revisões sistemáticas completas
3) revisões rápidas
4) protocolos de revisões ou revisões rápidas em andamento
5) títulos/perguntas para revisões que estão sendo planejadas
6) estudos clínicos individuais (quando não são identificadas diretrizes, revisões sistemáticas ou revisões rápidas)
Cada fonte desses documentos foi atribuída a um membro da equipe que realiza pesquisas manuais (quando uma fonte contém um número menor de documentos) ou pesquisas por palavras-chave para identificar documentos potencialmente relevantes. Uma avaliação final de inclusão foi realizada tanto pela pessoa que fez a triagem inicial quanto pelo autor principal do perfil de evidência rápida, com discordâncias resolvidas por consenso ou com a contribuição de um terceiro revisor da equipe.
A equipe de autores usou um canal virtual dedicado para discutir e refinar iterativamente os critérios de inclusão/exclusão ao longo do processo, fornecendo uma lista contínua de considerações a qual todos os membros podem consultar.
As experiências jurisdicionais de territórios específicos foram identificadas por pesquisa manualmente nos sites do governo e das partes interessadas tanto no Canadá, quanto em outros 11 países (Austrália, Bélgica, França, Alemanha, Itália, Holanda, Portugal, Espanha, Suécia, Reino Unido e Estados Unidos), nos quais a Monkeypox não é endêmica e que tiveram casos documentados recentemente.
Para outros países, foram pesquisados sites relevantes dos governos e das partes interessadas., foram pesquisados sites do governo, ministérios e agências federais e provinciais relevantes (por exemplo, Agência de Saúde Pública do Canadá).
Avaliação da qualidade metodológica
A qualidade das diretrizes foi avaliada por dois revisores considerando três domínios no AGREE II (envolvimento das partes interessadas, rigor de desenvolvimento e independência editorial). As diretrizes foram consideradas como de alta qualidade se obtivessem pontuação igual ou superior a 60% em cada um desses domínios.
Também dois revisores avaliam independentemente a qualidade metodológica de revisões sistemáticas e revisões rápidas, com os critérios do AMSTAR (Assessing the Methodological Quality of Systematic Reviews), sendo as discordâncias resolvidas por consenso com um terceiro revisor, quando necessário.
O AMSTAR classifica a qualidade metodológica geral em uma escala de 0 a 11. Revisões de alta qualidade são aquelas com pontuação de 8 ou mais de um total de 11. Já as revisões de qualidade média são aquelas com pontuação entre 4 e 7 e as revisões de baixa qualidade são aquelas com pontuação inferior a 4. Uma pontuação alta indica que os leitores da revisão podem ter um alto nível de confiança em suas “descobertas”.
Uma pontuação baixa, por outro lado, não significa que a revisão deva ser descartada, apenas que há menor confiança em seus achados e que a revisão precisa ser examinada de perto para identificar suas limitações.
Avaliação da relevância
A relevância de cada documento incluído foi classificada como sendo de alta, moderada ou baixa, representada por um gradiente de cor sendo a de relevância alta destacada em azul mais escuro e a de baixa em azul mais claro.
Para cada documento incluído (diretrizes, revisões sistemáticas, revisões rápidas e estudos individuais), quando considerado de alta relevância, foi fornecido um breve resumo dos seus principais achados, fundamentando as principais mensagens disponíveis no texto do PEV. Todos os documentos tiveram disponíveis seus hiperlinks para seu acesso a sua fonte original independente da sua relevância.
Resumo do Perfil de Evidências Vivas (versão #6)
Essa 6ª versão do PEV possui 146 documentos no total, sendo que 90 (incluindo aqueles da versão anterior) são considerados altamente relevantes. Desde a última atualização, publicada online no dia 22 de julho de 2022, nessa nova versão, foram identificados 16 novos documentos, dos quais 13 foram considerados altamente relevantes, incluindo:
⦁ 01 revisão sistemática
⦁ 01 protocolo para uma revisão sistemática
⦁ 11 estudos individuais
O documento disponibiliza três tabelas. A Tabela 1 fornece um resumo do número total de evidências em cada domínio da sua organização estruturada (com o número de novos documentos identificados entre parenteses). O documento possui ainda outras duas tabelas. A Tabela 2 fornece mais detalhes sobre as principais conclusões de cada um dos documentos recém-identificados e novos relatos das diferentes jurisdições. Por fim, a Tabela 3 são disponibilizados os resultados da versão anterior do PEV. Confira um exemplo:
Mensagem final
Em tempos de novas doenças com abrangência mundial, nós médicos precisamos ter fontes de informações atualizadas e confiáveis para que possamos construir nosso conhecimento e ao mesmo tempo tomar decisões clínicas diante dos pacientes informados cientificamente. Especificamente no caso da monkeypox, o PEV é uma de tantas outras fontes disponíveis para esse fim.
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