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Clínica Médica8 novembro 2024

Piúria estéril: você sabe reconhecer e definir devidamente?

A piúria estéril é definida pela presença de leucocitúria ao exame simples de urina na presença de uroculturas sistematicamente negativas
Por Leandro Lima

A piúria estéril é definida pela presença de leucocitúria ao exame simples de urina na presença de uroculturas sistematicamente negativas.  

Os critérios de leucocitúria podem ser assim definidos: 

  • Contagem de piócitos > 10/mm³ ou > 3 células/campo de grande aumento; 
  • Presença de leucócito-esterase positiva. 

O reconhecimento dessa entidade é importante na prática médica, pois frequentemente leva à consideração inadequada sobre infecção bacteriana do trato urinário. Sua prevalência é de aproximadamente 15% em mulheres e 3% em homens. O diagnóstico errôneo motiva antibioticoterapia por vezes infundada, além de poder estar atreladas a patologias específicas a exigir investigações adicionais para o melhor esclarecimento.   

Leia mais: Piúria é um dado isolado confiável para o diagnóstico de bacteriúria?

Piúria estéril

Divisão etiológica 

Os principais grupos etiológicos de piúria estéril podem ser agrupados conforme exposto na tabela abaixo: 

 

Infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) 

ISTs prevalentes: 

  • Gonorreia (N. gonorrhoeae) 
  • Clamídia (C. trachomatis) 
  • Mycoplasma genitalium 
  • Ureaplasma urealyticum 
  • Herpes genital (HSV-2, principalmente) e herpes zóster 
  • HPV e HIV 

 

Ferramentas úteis na investigação:  

  • Testes rápidos de hibridização de ácidos nucleicos na suspeita de uretrite e cervicite. 
  • PCR-HSV ou teste de detecção antigênica por imunofluorescência. 
  • Pesquisa de DNA do HPV e sorologia para HIV. 
Infecções virais não sexualmente transmissíveis 
  • Adenovírus; 
  • BK poliomavírus; 
  • CMV (causa de cistite hemorrágica em imunossuprimidos); 
  • Mpox (por plausibilidade, embora não tenha sido citado nas referências). 
Tuberculose genitourinária 

Trata-se, depois da forma ganglionar, do principal sítio não pulmonar de tuberculose, compreendendo infecções renais, ureterais, vesicais, prostáticas e genitais. O potencial destrutivo urológico pode comprometer os cálices, deformando-os e gerando obstrução, incluindo hidronefrose.  

  

Ferramentas úteis na investigação:  

  • Pesquisa de BAAR e cultura (sensibilidade < 40%); 
  • Biópsia da bexiga (sensibilidade < 50%); 
  • PCR para M. tuberculosis (sensibilidade > 90%). 
Infecções fúngicas Agentes a serem considerados (com fatores de risco entre os parênteses): 

  • Candida albicans, C. glabrata, C. tropicalis e C. krusei (DM2, DRC, oncológicos e submetidos à antibioticoterapia ou corticoterapia prolongadas); 
  • Aspergilose (receptores de transplantes); 
  • Criptococcúria (HIV); 
  • Blastomicose, coccidioidomicose e histoplasmose (exposições ambientais intensas, como construções, tempestades de areia, tornados e contato com excrementos de pássaros). 

 

O crescimento em cultura costumeiramente é lento, com duração entre 3 dias e 3 semanas.  

Há preocupação com bolhas fúngicas, especialmente com Candida e Aspergillus 

Infecções parasitárias 

Principais agentes: 

  • Trichomonas vaginais  
  • Schistosoma haematobium (acometimento urogenital é esperado em ¾ dos casos e deve ser considerado entre os procedentes da África) 

 

Ambos podem ser identificados em pesquisas diretas e, com maior sensibilidade, por técnicas de PCR. 

Condições autoimunes, inflamatórias,  mecânicas e malignas 
  • Cistite intersticial e síndrome da bexiga dolorosa 
  • Envolvimento renal da doença de Kawasaki  
  • Lúpus eritematoso sistêmico (¼ dos pacientes apresenta piúria estéril) 
  • Sarcoidose 
  • Nefropatia por IgA 
  • Nefropatia induzida por antibióticos/analgésicos/contraste associada a nefrite intersticial crônica e necrose papilar  
  • Cistite actínica 
  • Ureterolitíase 
  • Uretrite / Prostatite / Balanite 
  • Corpos estranhos (stents, cateteres, nefrostomia/cistostomia ou procedimentos urológicos recentes) 
  • Fístulas urinárias 
  • Doença renal policística 
  • Rejeição de transplante renal 
  • Câncer renal, de bexiga e próstata 
Processos inflamatórios não urológicos 
  • Gestação 
  • Pneumonia 
  • Sepse 
  • Infecções intraabdominais 
  • Enterite 
  • Apendicite / Diverticulite 
  • Trombose de veia renal 
  • Embolização de colesterol 
  • Infecções do trato genital feminino, como a doença inflamatória pélvica 

Saiba mais: Exame de urina: saiba como interpretar os resultados corretamente

Conclusão e mensagens práticas 

O diagnóstico diferencial da piúria estéril é amplo, mas deve ser estreitado a partir de dados da entrevista médica e exame físico. Faz-se necessária a consideração de infecções, entre as quais as sexualmente transmissíveis, bem como agentes especiais, como parasitas e fungos, conforme as exposições e dados epidemiológicos. Os exames de imagem podem ser úteis em pacientes febris, imunossuprimidos ou com sintomatologia específica (dor pélvica, dor abdominal, lombalgia, sintomas urinários ou manifestações sistêmicas). No nosso meio uma consideração sempre válida é a tuberculose genitourinária.  

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Referências bibliográficas

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