EADV 2024: Dermatologia na pele negra
Já no primeiro dia do congresso European Academy of Dermatology & Venereology (EADV 2024) tivemos dois blocos de aulas destacando os desafios no diagnóstico de doenças dermatológicas mais prevalentes na pele negra.
Quais são os desafios no diagnóstico de doenças dermatológicas comuns?
Como principal destaque aqui foi levantada a ausência do eritema nas lesões, que podem aparecer hipercrômicas, hipocrômicas ou acinzentadas, além da presença mais frequente de hiperpigmentação pós-inflamatória, o que torna o diagnóstico e o tratamento mais desafiadores. Também a gravidade da doença pode ficar subestimada. Reconhecer características-chave aqui pode ajudar e, se focarmos no eritema, podemos não diagnosticar corretamente.
Na dermatite atópica, eczema de aspecto folicular, acometimento anti-cubital e em fossa poplítea, presença de eczema numular, lesões semelhantes à prurigo e liquenificação são comuns na pele negra. Além disso, o eritema pode ter coloração mais violácea e ter mais lesões hiper ou hipopigmentadas. O uso de escores de avaliação de gravidade podem ficar comprometidos pelas diferenças clínicas, destacando-se o PO-SCORAD como um bom método para essa avaliação.
Já na psoríase, o eritema também parece ser menos visível, mas com escamas mais grossas e formando placas hipertróficas e de coloração violácea ou acinzentada.
Na acne, destaca-se a hiperpigmentação pós-inflamatória que acompanha as demais lesões e torna-se uma preocupação no tratamento.
No que tange as dermatoses infecciosas, a pitiríase versicolor pode assumir mais a forma hiper ou hipocrômica. A tinea pedis também se apresenta mais hiperpigmentada com fissuras, parecendo menos inflamada, mas causando o mesmo desconforto. No impetigo, por sua vez, tem menos eritema, a crosta fica mais escura e grossa e menos cor de mel.
Os palestrantes enfatizaram a importância do uso do dermatoscópio para conseguir diferenciar algumas doenças e auxiliar no diagnóstico precoce, além de treinar o olho para melhorar a acurácia diagnóstica.
Quais são as doenças dermatológicas que devemos ficar alertas na pele negra?
A acne é comum devido ao uso frequente de produtos comedogênicos e pelo uso de corticoide para tratamento de pigmentações. A dermatite seborreica também é comum, podendo ser exacerbada pela baixa frequência de lavagem do couro cabeludo, uso de óleos e penteados. No líquen plano, os subtipos hipertrófico, pigmentoso e actínico se destacam.
A pele negra também é um fator de risco para formação de queloide e os tratamentos podem aumentar o risco de discromia.
Sobre as doenças infecciosas, S. aureus e Streptococcos spp. podem ser 40% mais comuns, além de tinea versicolor e tinea corporis, pela transpiração exacerbada.
Referente ao câncer de pele, apenas 2% dos casos ocorre nessa população e seu diagnóstico pode ser atrasado pela baixa suspeição. O melanoma acral é responsável por 90% dos casos de melanoma nesse grupo, sendo comum encontrarmos melanomas extensos e metastáticos. Sobre o carcinoma espinocelular, alerta-se para lesões em área de cicatriz, associada ao líquen escleroso ou em área não fotoexposta. No carcinoma basocelular, a forma pigmentada é a mais comum e é possível encontrarmos lesões extensas e já ulceradas.
Por fim, em relação às desordens do cabelo, o cabelo crespo é mais propenso à quebra. Entre as alopecias mais comuns nesse grupo, temos a alopecia de tração, com o sinal da franja na região frontotemporal, e a alopecia central centrífuga cicatricial, com menor densidade no vértice do couro cabeludo. Aqui também a dermatoscopia é de grande auxílio.
Confira os destaques do EADV 2024!
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.