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Ginecologia e Obstetrícia2 julho 2025

FMF World Congress 2025: Destaques em diabetes na gestação  

Neste artigo trazemos um resumo dos principais trabalhados apresentados no 22º World Congress in Fetal Medicine, sobre diabetes na gestação
Por Ênio Luis Damaso

O diabetes na gestação continua sendo um dos principais temas da saúde materno-fetal, por sua relação direta com complicações perinatais e maternas a curto e longo prazo. No 22º World Congress in Fetal Medicine, realizado de 29 de junho a 3 de julho de 2025, em Praga, foram apresentados diversos trabalhos/resumos sobre o tema. Abaixo, destaco alguns resumos relevantes, anexados nos anais do evento, incluindo três com minha participação. 

Complicações neonatais em gestantes com diabetes

O trabalho Clinical and ultrasonographic predictors of neonatal complications in pregnant women with hyperglycemia investigou fatores clínicos e  fetais associados a complicações neonatais em gestantes com diabetes. Foram analisados 381 casos atendidos em um hospital universitário no interior de São Paulo. Parâmetros como idade gestacional, alterações no índice de pulsatilidade do ductuo venoso, maior índice de líquido amniótico e razão cerebroplacentária reduzida estiveram associados a eventos adversos como hipóxia, hipoglicemia e necessidade de UTI neonatal, embora esses achados não tenham se mantido significativos na análise multivariada. O estudo reforça a importância da vigilância fetal integrada nessas gestantes. 

Prevalência de diabetes gestacional

Em Impact of diagnostic criteria on the prevalence of gestational hyperglycemia in women in a public maternity hospital in Brazil, comparamos a prevalência de diabetes gestacional segundo quatro critérios diagnósticos internacionais (FIGO, NICE, OMS e ADA). Observamos variação importante na frequência de diagnóstico — de 3,1% a 10,3% — dependendo do critério utilizado. A concordância entre os critérios foi apenas moderada, o que reforça a necessidade de padronização para que o rastreamento seja efetivo, especialmente em sistemas públicos de saúde. 

FMF World Congress 2025: Alterações do Sistema Nervoso Fetal e Neurossonografia

Indução de parto

O terceiro trabalho com participação brasileira, Predictors of delivery mode and labor induction success in pregnant women with hyperglycemia, analisou fatores associados ao tipo de parto e ao sucesso da indução em 400 gestantes com diabetes. Os resultados indicaram que a ausência de cesariana anterior, escores de Bishop mais altos e história prévia de parto vaginal aumentaram as chances de parto vaginal após indução. Esses achados podem contribuir para o planejamento obstétrico individualizado e redução de cesarianas desnecessárias nesse grupo de risco. 

Peso ao nascer em gestantes com diabetes tipo 1

Entre os estudos internacionais, o trabalho The relation of glucose and adipokines to birth weight in type 1 diabetic pregnancy, apresentado por autores da Croácia e Bósnia-Herzegovina, correlacionou os níveis de glicose, insulina, leptina e adiponectina ao peso ao nascer em gestantes com diabetes tipo 1. O estudo mostrou que a leptina fetal elevada e a adiponectina reduzida se associaram à macrossomia, tanto em gestantes com diabetes quanto em controles, sugerindo a importância dessas adipocinas na regulação do crescimento fetal. 

Exposição intrauterina ao diabetes materno

Já o estudo dos Emirados Árabes Unidos, Fetal cardiac morphometry changes and their correlation with cardiac dysfunction in pregnancies with gestational diabetes, demonstrou que a exposição intrauterina ao diabetes materno leva a alterações estruturais e funcionais cardíacas nos fetos. Os fetos de mães com diabetes gestacional apresentaram maior espessura septal e ventricular, além de alterações significativas no índice de desempenho miocárdico, sugerindo risco cardiovascular precoce. 

FMF World Congress 2025: Terapia de reposição enzimática intraútero

Diagnóstico tardio de diabetes em gestantes

Por fim, outro tema abordado durante o congresso foi o valor do rastreamento tardio da doença, com o trabalho Late diagnosis of gestational diabetes in women with normal glucose challenge test – what is the utility of the third-trimester oral glucose tolerance test?, conduzido por pesquisadores de Israel. O estudo avaliou 585 gestantes que realizaram teste oral de tolerância à glicose (TOTG) no terceiro trimestre, mesmo após teste de triagem normal no segundo trimestre. A taxa de diagnóstico de diabetes foi de 22,9%, com maior frequência de cesarianas e distúrbios hipertensivos entre mulheres com fatores de risco. No entanto, a presença de diabetes diagnosticada tardiamente não se associou a piores desfechos neonatais, levantando questionamentos sobre a real utilidade do TOTG tardio em gestantes sem rastreamento alterado no segundo trimestre 

Os trabalhos apresentados reforçam a importância da pesquisa clínica aplicada à realidade dos serviços, especialmente em populações de maior vulnerabilidade. A participação brasileira em congressos internacionais amplia o diálogo científico global e contribui para a construção de evidências mais robustas e contextualizadas.

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Referências bibliográficas

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