No último dia do ICO, Congresso Internacional de Obesidade, foi abordada a saúde da mulher. Uma das aulas da mesa trouxe o tema “Terapia de Reposição Hormonal na mulher com obesidade: avaliando riscos e benefícios”. A aula foi realizada pela dra. Dolores Pardini, que é médica do ambulatório de climatério da UNIFESP e diretora do departamento de Endocrinologia Feminina, Andrologia e Transgeneridade da SBEM.
A indicação de terapia hormonal da menopausa na mulher com obesidade requer alguns cuidados, devido ao maior risco de câncer de mama e endométrio, assim como maior risco de tromboembolismo. Apesar de alguns riscos aumentados, precisamos saber os sintomas de síndrome climatérica podem ser piores na menopausa associada à obesidade.
Como em todas as terapias que prescrevemos, aqui também será importante avaliar riscos e benefícios, não deixando a mulher sem o cuidado necessário nesse momento da vida. Os benefícios incluem controle dos sintomas, como redução dos fogachos e sintomas genitourinários, assim como melhora de massa óssea. Quando iniciada precocemente, pode levar a melhora de composição corporal e redução de risco cardiovascular. A terapia combinada com estrogênio e progesterona pode aumentar o risco de câncer de mama, enquanto o estrogênio aumenta o risco de eventos tromboembólicos, o que nessa população é a maior preocupação.
Dados de um dos principais estudos sobre terapia hormonal da menopausa, o WHI (Women’s Health Iniciative) , publicado em 2002, mostram incidência aumentada de eventos tromboembólicos em pacientes com mais de 60 anos, principalmente após 70 anos. No entanto, com a terapia hormonal abaixo de 59 anos, há evidências de benefícios de redução de risco cardiovascular.
Avaliando os motivos para prescrever a terapia hormonal da menopausa, sabemos da piora do sono ao longo do tempo em associação à menopausa, o que em parte se deve aos fogachos noturnos. A piora do sono na menopausa pode levar à redução da disposição da mulher para a prática de exercícios físicos, assim como ao aumento da fome, o que também contribui para o ganho de peso nesse momento da vida.
Para a prática clínica
Por fim, além de avaliar riscos e benefícios, ao prescrever a terapia hormonal da menopausa, é muito importante priorizar a reposição de estrogênio por via transdérmica para minimizar o risco de tromboembolismo, e a progesterona natural, que não apresenta evidências de aumento do risco de câncer de mama como as progesteronas sintéticas.
Na discussão da mesa, um participante perguntou sobre a reposição de testosterona em mulheres com obesidade. A palestrante se posicionou sobre a contraindicação da reposição de testosterona em mulheres com diabetes mellitus tipo 2 e obesidade.
Na prática, uma preocupação frequente das pacientes é se a terapia hormonal levaria ao ganho de peso, sendo importante o médico ter o conhecimento, para esclarecimento das pacientes, que a terapia de estrogênio, isolada ou em combinação com progesterona, não leva ao aumento do peso, podendo melhorar a composição corporal quando iniciada precocemente.
Confira os destaques do ICO 2024!
Autoria

Raquel Muniz
Médica formada pela escola de medicina Souza Marques. Residência em clínica médica pelo hospital federal servidores do estado. Residência em endocrinologia pelo IEDE. Atualmente trabalha como médica do serviço de diabetes do IEDE. Instagram: <a href="https://www.instagram.com/raquelbmuniz/" target="_blank" rel="noopener">@raquelbmuniz</a>
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