Com o avanço da ciência, muitas medicações novas surgiram no tratamento do diabetes mellitus tipo 2 (Dm2) nos últimos tempos. Hoje, muitos deles além de proporcionarem melhor controle glicêmico, também promovem perda ponderal, reduzem desfechos cardiovasculares e são protetores renais.
Dada a relevância do tema, recentemente foi publicado um artigo que visou avaliar as novas tendências de prescrição no tratamento do DM2 para pacientes recém diagnosticados. Vamos ver o que o artigo nos mostra.
Introdução
Aproximadamente um em cada dez norteamericanos possuem DM2, sendo um grande problema de saúde pública. As doenças cardiovasculares lideram o ranking de mortalidade nos Estados Unidos e o DM2 é o principal fator de risco para o desenvolvimento delas.
Os guidelines mais recentes enfatizam a importância do controle glicêmico associado ao manejo das complicações cardio-metabólicas-renais, sendo os análogos de GLP-1 e os inibidores de SGLT-2 os principais avanços nesse sentido. O objetivo do presente estudo foi analisar o padrão de prescrição em pacientes com DM2 recém diagnosticado.
Metodologia
Esse estudo retrospectivo ocorreu de 01 de janeiro de 2014 a 31 de dezembro de 2022, incluindo adultos com DM2 recém diagnosticados no sistema de Saúde da Universidade da Califórnia. Foram determinadas medicações utilizadas em até um ano após o diagnóstico e avaliação de evidências estatísticas de mudança no padrão das prescrições. Também foram categorizados alguns grupos considerados como grupos de risco.
Resultados
Dos 40150 pacientes diagnosticados com DM2, 38,5% iniciaram medicações para controle glicêmico em até um ano do diagnóstico. A média de idade foi de 61,1 anos, 51% eram mulheres e 53,9% eram brancos. A média de IMC foi de 30,3 kg/m2 (Obesidade Grau I) enquanto a pressão arterial média sistólica foi de 131 mmHg configurando hipertensão arterial grau I. Dentre os participantes, 54% estavam na categoria que necessitava de proteção cardio-metabólica-renal.
De 2014 a 2022, o uso de análogos de GLP-1 inibidores de SGLT-2 cresceu exponencialmente (em 2014: a prescrição de análogos de GLP-1 foi de 1,7% e de inibidores de SGLT-2 foi de 0,9%, enquanto no ano de 2022, a prescrição aumentou para taxas de 20,2% e 14,2% respectivamente), coincidindo com a redução da prescrição de sulfonilureias (20,5% em 2014 para 5,7% em 2022).
Dentre os pacientes de alto risco, insulina foi a mais prevalente nos indivíduos com insuficiência cardíaca (IC) ou doença renal crônica (DRC).
No entanto, em todos os grupos avaliados, a prescrição de insulina decaiu. Já o uso de inibidores de SGLT-2 foi maior em pacientes com histórico prévio de IC e a metformina foi a medicação mais prescrita de modo inicial para os pacientes com Dm2 recém diagnosticado.
Discussão
Em adultos com Dm2 de diagnóstico recente, o uso de análogos de GLP-1 e inibidores de SGLT-2 cresceu, coincidindo com a recomendação dos principais guidelines de também dar atenção à proteção cardio-renal. Para pacientes com histórico de IC, a prescrição de inibidores de SGLT-2 foi maior do que de análogos de GLP-1, mas de um modo geral, a prescrição de análogos de GLP-1 também aumentou, provavelmente devido aos seus efeitos no peso corporal e na redução de desfechos cardiovasculares.
Entretanto, devido à diversos fatores, sendo o mais relevante o preço, a prescrição de tais medicações ainda é baixa. As sulfonilureias tiveram redução na sua prescrição, enquanto a metformina prevalece sendo a mais prescrita de maneira inicial.
O presente estudo contou com pontos de força como o fato de ter sido feita uma análise de um bom tempo de prescrições utilizadas, principalmente com muitas mudanças nos guidelines de tratamento de DM2 nos últimos anos.
No entanto, como fator de limitação, o estudo avaliou apenas a população do sistema de saúde da Califórnia, o que pode afetar a generalização dos fatos estudados.
Conclusão e mensagem prática
Apesar dos avanços na prescrição de análogos de GLP-1 e Inibidores de SGLT-2, é importante que hajam estudos com maior abrangência populacional e a longo prazo para avaliar a consistência dos achados do presente estudo.
Cabe ressaltar que também é importante que haja uma reavaliação do custo de tais medicações, de modo que elas possam ser mais acessíveis, mais prescritas e proporcionem uma melhor qualidade de vida para os pacientes que precisam fazer o uso delas.
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