A crescente utilização dos agonistas incretínicos como a semaglutida e a tirzepatida no manejo da obesidade e do diabetes mellitus tipo 2 trouxe novos desafios quanto à segurança medicamentosa, especialmente em populações em idade fértil. Um recente posicionamento da FEBRASGO (03 de julho de 2025) alertou para a necessidade de orientação médica individualizada em mulheres que utilizam contraceptivos orais e medicações injetáveis para perda de peso, com destaque para a tirzepatida, cujos dados indicam uma potencial redução da eficácia contraceptiva.
Esse alerta se justifica principalmente por evidências que mostram que a tirzepatida, um agonista duplo de GLP-1 e GIP, pode impactar significativamente a absorção de anticoncepcionais orais. Isso ocorre pela sua ação acentuada de retardo do esvaziamento gástrico, que pode comprometer a farmacocinética de fármacos de administração oral, como etinilestradiol e progestágenos.
Métodos
Uma revisão sistemática publicada no Journal of the American Pharmacists Association em 2024 comparou os efeitos de diversos agonistas incretínicos na farmacocinética de anticoncepcionais orais. Dentre os seis estudos analisados, apenas a tirzepatida apresentou redução clinicamente significativa na área sob a curva (AUC), no pico de concentração plasmática (Cmax) e no tempo para alcançar esse pico (Tmax) dos anticoncepcionais.
Resultados
No estudo específico com tirzepatida, observou-se uma redução de 20% na AUC do etinilestradiol e de 21% do norgestimato, com uma diminuição ainda mais expressiva da Cmax (59% e 66%, respectivamente). Essa interferência ocorreu após uma única dose subcutânea de 5 mg, momento em que o retardo do esvaziamento gástrico é mais acentuado. O efeito tende a se atenuar com o uso contínuo, devido à taquifilaxia, mas é importante ressaltar que a tirzepatida é escalonada em doses crescentes a cada 4 semanas, reiniciando esse processo de retardo gástrico a cada ajuste. No mesmo levantamento, agentes como liraglutida, dulaglutida, exenatida, semaglutida subcutânea e oral não demonstraram alterações clinicamente relevantes na absorção de contraceptivos orais.
Conclusão e mensagem prática
Diante das evidências disponíveis, a recomendação atual da FEBRASGO é que pacientes em uso de contraceptivos orais utilizem método de barreira adicional por, pelo menos, quatro semanas após a iniciação da terapia com tirzepatida ou após cada aumento de dose, ou então troquem o método contraceptivo durante o tratamento. Essa recomendação não se estende aos demais agonistas do receptor de GLP-1.
A FEBRASGO reforça ainda que não há evidência de segurança para o uso destes medicamentos para perda de peso durante a gestação e amamentação. A recomendação é suspender a semaglutida por no mínimo dois meses e a tirzepatida por pelo menos um mês antes de uma eventual gravidez.
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