Radioterapia: especialidade que envolve muito contato com pacientes
Todo dia traremos para você a visão de um especialista sobre sua respectiva área! Hoje vamos falar sobre Radioterapia com a Dra. Patricia Izetti.
Como parte da nossa série de artigos sobre Residência e as especialidades médicas, hoje Dra. Patricia Izetti sobre a Radioterapia. Veja abaixo tudo o que você precisa saber!
1) O que é?
Radioterapia é uma modalidade terapêutica que utiliza a radiação ionizante para o tratamento de diferentes patologias, especialmente o câncer. Mais recentemente, a especialidade tem recebido preferencialmente a denominação de Rádio-Oncologia, por estar cada vez mais voltada para o estudo e para a geração e disseminação de conhecimento sobre as causas, formas de prevenção e tratamento do câncer, envolvendo conhecimentos específicos para a aplicação terapêutica da radiação ionizante. Algumas patologias benignas também podem ser tratadas com radioterapia, como tumores benignos, malformações vasculares, quelóides, ginecomastia, entre outros.
Não há necessidade de curso pré-requisito para o ingresso na residência de Rádio-Oncologia, sendo a mesma de acesso direto ao término da graduação.
Em relação ao perfil para a especialidade, é importante desfazer o mito de que em Radioterapia tem-se pouco contato com paciente. O dia a dia do médico rádio-oncologista envolve muito contato com pacientes, especialmente porque a maioria deles tem câncer, o que gera muitas dúvidas, angústias, toxicidades e queixas relacionadas ao tratamento. O especialista deve acompanhar semanalmente todo paciente que se encontra em tratamento radioterápico, o que resulta em muitos atendimentos diários, além das demandas relacionadas ao tratamento.
2) Como é o dia a dia?
O rádio-oncologista passa boa parte do seu tempo atendendo pacientes, na maioria oncológicos, ambulatorialmente ou em internação hospitalar (nesse caso, principalmente em avaliações e tratamentos de urgência). Quando não está atendendo pacientes, o médico rádio-oncologista encontra-se planejando os tratamentos radioterápicos dos seus pacientes em sistemas de planejamento específicos, checando imagens de indivíduos em tratamento ou acompanhando a aplicação da radioterapia.
Para muitos, o planejamento conformacional é a parte mais encantadora da especialidade nos dias de hoje. Nele, utiliza-se a tomografia computadorizada, associada ou não a outros exames de imagem como ressonância magnética e PET-CT, para a definição das áreas a serem tratadas e também das áreas que devem ser protegidas. Dessa forma, define-se a dose que deve ser entregue sobre o tumor, áreas de drenagem linfática e regiões em risco de conter células tumorais.
3) Oportunidades de trabalho:
Infelizmente, por necessitar de uma estrutura extremamente complexa para realizar o tratamento radioterápico, o médico rádio-oncologista é muito dependente de clínicas e hospitais que tenham ou que criem um serviço de radioterapia, com equipe de físicos e técnicos em radioterapia, além do aparelho de tratamento, o qual tem custo elevado de aquisição e manutenção. Por conta disso, o mercado de trabalho em radioterapia acaba sendo extremamente volátil, pois há momentos de expansão (em que muitas vagas de trabalho são disponibilizadas) e retração (especialmente em momentos de crise econômica).
4) Número de especialistas:
No momento, temos aproximadamente 600 rádio-oncologista registrados pela Sociedade Brasileira de Radioterapia.
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5) Curiosidade(s):
– Apesar de ser uma especialidade em constante renovação e inovação, a Rádio-Oncologia é uma disciplina médica relativamente antiga, embora não reconhecida como especialidade desde os primórdios dos tratamentos com radiação. Os primeiros tratamentos datam do ano de 1896, logo após a descoberta dos raios-x, em 1895. Em 1898, com a descoberta do rádio pelo casal Pierre e Marie Curie, os tratamentos com radiação foram potencializados. Howard Atwood Kelly, um dos médicos fundadores do Hospital da Universidade Johns Hopkins, foi um dos pioneiros na disseminação do tratamento oncológico com radioterapia. Infelizmente, muitos pacientes tiveram consequências graves com a administração de radiação nessa fase inicial, uma vez que não se conhecia bem os efeitos tardios e potentes do tratamento com energia radioativa. Somente na década de 1920 que médicos e físicos começaram a desenvolver as primeiras teorias de radioproteção e a estabelecer doses seguras para o tratamento com radiação ionizante.
– Marie Curie, uma das mais exímias cientistas da história da medicina, também conhecida como a primeira dama da Ciência, foi responsável pelos primeiros estudos sobre a radioatividade e sobre os efeitos terapêuticos de diferentes substâncias radioativas. Foi, ainda, a primeira mulher a ser laureada com um Prêmio Nobel e a primeira pessoa a ganhar o prêmio duas vezes.
– No início do século XX, patologias de tratamento relativamente simples eram tratadas com o uso de radiação ionizante: 1) hipertricose; 2) pediculose e 3) eczema cutâneo e acne. Ainda no início da década de 1990 muitos pacientes eram encaminhados para tratar hiperidrose com radioterapia.
– Recentemente, descobriu-se que a radioterapia pode apresentar efeitos distantes da área irradiada, e não só locais como se acreditava. Esse fenômeno é denominado de “Efeito Abscopal” e pode resultar na remissão completa de tumores distantes da área irradiada, especialmente quando associada a tratamentos com imunomodulares. O primeiro relato de caso clínico desse fenômeno no âmbito da imunoterapia foi publicado por um grupo do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center em 2012.
6) Especialidades correlacionadas:
As especialidades mais relacionadas ao dia a dia do médico rádio-oncologista são a Oncologia Clínica e a Cirurgia Oncológica, seguidos da Neurocirurgia, Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Mastologia, Cirurgia Torácica e Hematologia. Radiologia, Medicina Nuclear e Patologia também são especialidades muito importantes.
7) Área de atuação:
As áreas de atuação envolvem o atendimento ambulatorial e, em menor proporção, hospitalar, podendo-se realizar tratamentos que vão desde tratamentos de baixa tecnologia, como tratamentos que utilizam basicamente o planejamento baseado em radiografias (denominado tratamento 2D), até tratamentos de alta tecnologia, como a radiocirurgia e radioterapia estereotática corporal (SBRT). Outra área de atuação importante é a braquiterapia, um tipo de radioterapia em que é realizada a inserção de aplicadores em cavidades próximas ao tumor, ou mesmo intratumorais, que conduzirão a radiação diretamente à região a ser tratada, com menor exposição dos órgãos sadios adjacentes.
8) Mensagem para quem quer seguir essa especialidade:
Se você estiver em dúvida entre seguir a especialidade de radioterapia ou alguma outra especialidade, é importante levar em consideração a previsão de expansão do mercado em Radioterapia no Brasil para os anos seguintes à sua Residência Médica, pois existe uma chance real de dificuldade de ingresso no mercado de trabalho em períodos de pouca expansão. Mas, se você se apaixonou pela ideia da especialidade, siga em frente! O retorno pessoal compensa qualquer dificuldade inicial que possa aparecer.
*Os artigos sobre as especialidades médicas foram produzidos em parceria com a Associação Nacional de Médicos Residentes
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Referências:
- Demografia médica no Brasil 2015 – USP. Disponível em: https://www.usp.br/agen/wp-content/uploads/DemografiaMedica30nov2015.pdf
- https://www.sbradioterapia.com.br/
- https://anmr.org.br/
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