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Gastroenterologia22 setembro 2023

Eixo cérebro-intestino: Impacto do estresse e ansiedade no intestino

A sensação de “frio” no estômago ou a diarreia que antecede algo importante são exemplos de como uma resposta mediada pelo cérebro pode ser sentida no intestino.

Este conteúdo foi produzido pela Afya em parceria com Cellera Farma de acordo com a Política Editorial e de Publicidade do Portal Afya.

O intestino exerce um papel significativo na saúde mental.1 A sensação de “frio” no estômago ou a diarreia que antecede uma importante apresentação em público são ilustrações comuns de como uma resposta mediada pelo cérebro pode ser sentida no intestino. A coevolução do genoma humano e do microbioma intestinal permitiu que interações bidirecionais complexas entre o intestino, o sistema nervoso entérico e o sistema nervoso central fossem estabelecidas, formando o que hoje se denomina de eixo cérebro-intestino-microbioma. Sabemos que a microbiota intestinal participa amplamente na síntese/liberação de vários hormônios, produção de ácidos graxos de cadeia curta, tais como acetato, propionato e butirato, e neurotransmissores relacionados ao eixo cérebro-intestino (ex: serotonina), que então modulam a função cerebral e o comportamento do hospedeiro.2

Eixo cérebro-intestino Impacto do estresse e ansiedade no intestino

Comunicação entre o cérebro e o intestino

Distúrbios gastrointestinais como a síndrome do intestino irritável (SII), dispepsia e dor abdominal funcional são conhecidos por se associarem com condições mentais, incluindo estresse, ansiedade e depressão. Por outro lado, doenças presumivelmente neurodegenerativas como a doença de Parkinson e Alzheimer têm parte de sua fisiopatologia explicada por alterações da microbiota intestinal.3,4 O estresse sabidamente altera a composição da microbiota intestinal, com diminuição na abundância relativa do gênero Lactobacillus e Bifidobacterium e aumento de  patógenos oportunistas, como Odoribacter, Clostridium e Mucisprillum.2  A título de exemplo, mulheres com maior abundância fecal de Prevotella experimentam maior resposta emocional negativa quando expostas imagens negativas e menor atividade cerebral no hipocampo do que aquelas com maior abundância de Bacteroides.5 Camundongos livres de germes (nascidos e criados sem microbiota) mostram resposta alterada a eventos estressores quando comparados àqueles com microbiota intestinal livre de patógenos específicos, o que possivelmente é explicado por alterações nos níveis de corticosterona, triptofano e 5-hidroxitriptamina, envolvidos na regulação do humor e ansiedade.2

O produto de uma comunicação desordenada entre o cérebro e o intestino se associa a distúrbios de motilidade, hipersensibilidade visceral e alterações no sistema imune, barreira intestinal e comportamentais, sendo uma nova fronteira de pesquisa para os distúrbios relacionados ao estresse e ansiedade. Nesse contexto, o uso de probióticos surge como uma ferramenta interessante, já que potencialmente modula o eixo cérebro-intestino-microbioma.6 Diversos estudos em modelo animal demonstram uma melhora significativa dos comportamentos do tipo ansioso ou depressivo após a suplementação com probióticos.7-9 O Lactobacillus rhamnosus é um dos probióticos mais estudados, uma vez que é capaz de regular positivamente os níveis de serotonina.7 Em camundongos, a colonização intestinal por Lactobacillus rhamnosus GG no início da vida foi capaz de modular o eixo intestino-cérebro, reduzindo a ansiedade na idade adulta.7

Por outro lado, em humanos, os resultados são ainda controversos. Recentemente, um estudo randomizado, controlado por placebo demonstrou que a suplementação de Lactobacillus rhamnosus HN001, quando administrado em mulheres gestantes durante a gravidez e o pós-parto, é capaz de reduzir significativamente os escores de depressão e ansiedade no período pós-parto, em comparação ao placebo.10 Outros estudos revelaram que Lactobacillus rhamnosus CNCM I-3690 e Saccharomyces boulardii CNCM I-1079 melhoraram a resposta ao estresse frente a discursos em público e exames acadêmicos, respectivamente.11,12

Em pacientes com SII, uma metanálise recentemente publicada por Ceccherini e colaboradores sugeriu que Lactobacillus rhamnosus e Lactobacillus acidophilus têm a maior eficácia em SII, especialmente na qualidade de vida, distensão e dor abdominal.13 Embora os Consensos Japonês e Britânico de síndrome do intestino irritável tenham recomendado o uso de probióticos, o Colégio Americano de Gastroenterologia ainda não adotou essa recomendação, uma vez que ainda existe grande heterogeneidade de resultados e uma indefinição de qual a melhor cepa e a melhor dose para tratamento dessa condição que afeta o eixo cérebro-intestino.14-16

Conclusão

Episódios de depressão e ansiedade geralmente seguem um evento estressor. Indivíduos que são capazes de experimentar estresses intensos ou prolongados sem um efeito emocional negativo são considerados resilientes ao estresse. A resiliência ao estresse é influenciada por vários fatores psicológicos e biológicos, incluindo o eixo microbioma-intestino-cérebro. Pesquisas recentes demostram que a microbiota intestinal pode influenciar o humor e que o estresse é uma variável importante nessa relação. O estresse altera a microbiota intestinal e, potencialmente, contribui para mudanças de humor. Da mesma forma, pacientes com transtornos funcionais do trato gastrointestinal, como síndrome do intestino irritável, dispepsia e dor abdominal funcional, em sua maioria, apresentam algum grau de ansiedade e depressão, sugerindo realmente existir uma via bidirecional de comunicação entre o cérebro e o intestino. Nesse cenário, os probióticos surgem como novas ferramentas capazes de impactar positivamente no tratamento dessas condições.

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Referências bibliográficas

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