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Ginecologia e Obstetrícia27 outubro 2025

Biomarcadores para diagnóstico do diabetes gestacional na reprodução assistida

Artigo analisou evidências sobre o uso de biomarcadores para o diagnóstico precoce do diabetes mellitus gestacional em gestações decorrentes de técnicas de reprodução assistida
Por Ênio Luis Damaso

O artigo “A Systematic Review on Biomarkers for Gestational Diabetes Mellitus Detection in Pregnancies Conceived Using Assisted Reproductive Technology: Current Trends and Future Directions”, publicado na revista International Journal of Molecular Sciences (2025), analisou as evidências mais recentes sobre o uso de biomarcadores para o diagnóstico precoce do diabetes mellitus gestacional em gestações decorrentes de técnicas de reprodução assistida. O número de gestações obtidas por fertilização in vitro e injeção intracitoplasmática de espermatozoides aumentou nas últimas décadas, e essas mulheres apresentam risco maior de complicações como pré-eclâmpsia, macrossomia e hipoglicemia neonatal, além de maior chance de desenvolver distúrbios metabólicos no futuro. 

O risco de diabetes gestacional é maior em gestantes com idade acima de 35 anos, sobrepeso ou síndrome dos ovários policísticos, condições comuns entre usuárias de reprodução assistida. Alterações hormonais, metabólicas e placentárias também contribuem para o desenvolvimento da doença. A identificação de biomarcadores séricos e ultrassonográficos no início da gestação pode permitir diagnóstico e intervenção mais precoces, reduzindo complicações e melhorando o acompanhamento pré-natal. 

Metodologia 

O estudo é uma revisão sistemática registrada na plataforma INPLASY (número INPLASY202550080, DOI 10.37766/inplasy2025.5.0080) e conduzida conforme as diretrizes PRISMA. A busca bibliográfica foi realizada na base PubMed/MEDLINE, cobrindo os últimos dez anos até março de 2025, por dois revisores independentes. Foram incluídos estudos publicados em inglês, com texto completo e revisados por pares, que compararam gestantes com diagnóstico de diabetes mellitus gestacional e gestantes normoglicêmicas em gestações únicas concebidas por técnicas de reprodução assistida. A seleção seguiu o modelo PICO, considerando como desfecho os biomarcadores associados ao desenvolvimento do diabetes gestacional.  

Principais achados 

A revisão sistemática analisou 17 estudos sobre biomarcadores associados ao risco de diabetes mellitus gestacional (DMG) em gestações obtidas por técnicas de reprodução assistida, como FIV e ICSI. O índice de massa corporal (IMC) foi o fator mais fortemente associado ao desenvolvimento de DMG: mulheres com IMC elevado antes da gestação ou nas primeiras 12 semanas apresentaram risco significativamente maior, mesmo após ajustes para idade e síndrome dos ovários policísticos. Cada aumento de uma unidade no IMC elevou o risco de DMG em aproximadamente 15%. Também se observou que ganho ponderal precoce na gestação estava relacionado a maior incidência da doença. 

Entre os biomarcadores laboratoriais, níveis elevados de glicose de jejum, insulina, HOMA-IR, colesterol total e LDL foram consistentemente associados ao desenvolvimento de DMG, enquanto níveis mais altos de HDL mostraram efeito protetor. As razões LDL/HDL e colesterol total/HDL se destacaram como os melhores preditores lipídicos. Além disso, níveis mais baixos de estradiol e uma menor relação estradiol/folículo (E2/F) aumentaram o risco de DMG, enquanto valores acima de 246 pg/mL foram associados a redução significativa da incidência da doença, sugerindo utilidade clínica desse marcador hormonal para rastreamento precoce. 

Outros fatores identificados incluíram níveis aumentados de ácido úrico sérico, maior estresse psicológico pré-concepção, uso de progesterona injetável nas primeiras semanas (associado a risco duas vezes maior) e sono prolongado acima de 10 horas, principalmente em mulheres mais jovens. Por outro lado, marcadores angiogênicos como PlGF e sFlt-1 e a espessura endometrial não apresentaram correlação significativa com DMG.  

Conclusão 

Há uma necessidade urgente de identificar biomarcadores capazes de detectar precocemente o diabetes mellitus gestacional (DMG) em gestações obtidas por reprodução assistida. O reconhecimento antecipado do risco permitiria intervenções oportunas e reduziria complicações maternas e fetais. Biomarcadores como os níveis de estradiol (E2), β-hCG, a relação E2/F e as razões lipídicas TC/HDL e LDL/HDL se mostraram promissores para esse fim. 

Autoria

Foto de Ênio Luis Damaso

Ênio Luis Damaso

Doutor em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) ⦁ Professor no Curso de Medicina da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo (FOB-USP) ⦁ Professor no Curso de Medicina da Universidade Nove de Julho de Bauru (UNINOVE).

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Referências bibliográficas

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