O artigo “A Systematic Review on Biomarkers for Gestational Diabetes Mellitus Detection in Pregnancies Conceived Using Assisted Reproductive Technology: Current Trends and Future Directions”, publicado na revista International Journal of Molecular Sciences (2025), analisou as evidências mais recentes sobre o uso de biomarcadores para o diagnóstico precoce do diabetes mellitus gestacional em gestações decorrentes de técnicas de reprodução assistida. O número de gestações obtidas por fertilização in vitro e injeção intracitoplasmática de espermatozoides aumentou nas últimas décadas, e essas mulheres apresentam risco maior de complicações como pré-eclâmpsia, macrossomia e hipoglicemia neonatal, além de maior chance de desenvolver distúrbios metabólicos no futuro.
O risco de diabetes gestacional é maior em gestantes com idade acima de 35 anos, sobrepeso ou síndrome dos ovários policísticos, condições comuns entre usuárias de reprodução assistida. Alterações hormonais, metabólicas e placentárias também contribuem para o desenvolvimento da doença. A identificação de biomarcadores séricos e ultrassonográficos no início da gestação pode permitir diagnóstico e intervenção mais precoces, reduzindo complicações e melhorando o acompanhamento pré-natal.

Metodologia
O estudo é uma revisão sistemática registrada na plataforma INPLASY (número INPLASY202550080, DOI 10.37766/inplasy2025.5.0080) e conduzida conforme as diretrizes PRISMA. A busca bibliográfica foi realizada na base PubMed/MEDLINE, cobrindo os últimos dez anos até março de 2025, por dois revisores independentes. Foram incluídos estudos publicados em inglês, com texto completo e revisados por pares, que compararam gestantes com diagnóstico de diabetes mellitus gestacional e gestantes normoglicêmicas em gestações únicas concebidas por técnicas de reprodução assistida. A seleção seguiu o modelo PICO, considerando como desfecho os biomarcadores associados ao desenvolvimento do diabetes gestacional.
Principais achados
A revisão sistemática analisou 17 estudos sobre biomarcadores associados ao risco de diabetes mellitus gestacional (DMG) em gestações obtidas por técnicas de reprodução assistida, como FIV e ICSI. O índice de massa corporal (IMC) foi o fator mais fortemente associado ao desenvolvimento de DMG: mulheres com IMC elevado antes da gestação ou nas primeiras 12 semanas apresentaram risco significativamente maior, mesmo após ajustes para idade e síndrome dos ovários policísticos. Cada aumento de uma unidade no IMC elevou o risco de DMG em aproximadamente 15%. Também se observou que ganho ponderal precoce na gestação estava relacionado a maior incidência da doença.
Entre os biomarcadores laboratoriais, níveis elevados de glicose de jejum, insulina, HOMA-IR, colesterol total e LDL foram consistentemente associados ao desenvolvimento de DMG, enquanto níveis mais altos de HDL mostraram efeito protetor. As razões LDL/HDL e colesterol total/HDL se destacaram como os melhores preditores lipídicos. Além disso, níveis mais baixos de estradiol e uma menor relação estradiol/folículo (E2/F) aumentaram o risco de DMG, enquanto valores acima de 246 pg/mL foram associados a redução significativa da incidência da doença, sugerindo utilidade clínica desse marcador hormonal para rastreamento precoce.
Outros fatores identificados incluíram níveis aumentados de ácido úrico sérico, maior estresse psicológico pré-concepção, uso de progesterona injetável nas primeiras semanas (associado a risco duas vezes maior) e sono prolongado acima de 10 horas, principalmente em mulheres mais jovens. Por outro lado, marcadores angiogênicos como PlGF e sFlt-1 e a espessura endometrial não apresentaram correlação significativa com DMG.
Conclusão
Há uma necessidade urgente de identificar biomarcadores capazes de detectar precocemente o diabetes mellitus gestacional (DMG) em gestações obtidas por reprodução assistida. O reconhecimento antecipado do risco permitiria intervenções oportunas e reduziria complicações maternas e fetais. Biomarcadores como os níveis de estradiol (E2), β-hCG, a relação E2/F e as razões lipídicas TC/HDL e LDL/HDL se mostraram promissores para esse fim.
Autoria

Ênio Luis Damaso
Doutor em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) ⦁ Professor no Curso de Medicina da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo (FOB-USP) ⦁ Professor no Curso de Medicina da Universidade Nove de Julho de Bauru (UNINOVE).
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