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Ginecologia e Obstetrícia24 outubro 2024

Desfechos obstétricos associados à infecção por coqueluche e influenza 

Estudo avaliou o impacto das infecções por coqueluche e influenza durante a gravidez nos desfechos maternos e infantis.

Recentemente, foi publicado no Journal of Obstetrics and Gynaecology (BJOG) o estudo intitulado “Birth Outcomes After Pertussis and Influenza Diagnosed in Pregnancy: A Retrospective, Population-Based Study“. O artigo, de autoria de Jane E. Frawley e colaboradores examina os desfechos maternos e neonatais após o diagnóstico de coqueluche (pertussis) e gripe (influenza) durante a gestação, com base em um estudo retrospectivo de base populacional. 

A coqueluche e a gripe são doenças altamente infecciosas que continuam a circular, apesar da existência de vacinas eficazes. A infecção por influenza durante a gravidez está associada a um aumento significativo da morbidade tanto materna quanto infantil, com maior risco de hospitalização em gestantes, em comparação com mulheres não grávidas. A vulnerabilidade das gestantes à gripe pode ser explicada por mudanças fisiológicas e imunológicas, ainda não totalmente compreendidas, que ocorrem durante a gestação. 

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Em contrapartida, há poucas informações sobre os efeitos da coqueluche em gestantes, limitadas a séries de casos e relatos isolados. Este estudo foi desenvolvido para preencher essa lacuna, comparando os desfechos de gestantes diagnosticadas com coqueluche com aquelas diagnosticadas com influenza, usando essa última como referência para validar os resultados. O objetivo foi analisar o impacto dessas infecções no nascimento e na saúde dos recém-nascidos, oferecendo novas evidências para melhorar as práticas de saúde durante a gestação. 

Desfechos obstétricos associados à infecção por coqueluche e influenza 

Metodologia 

O estudo utilizou dados de quatro bases populacionais de New South Wales (NSW), Austrália, abrangendo informações sobre nascimentos, admissões hospitalares, notificações de doenças e registros de nascimento, óbito e casamento. Os dados foram vinculados por métodos probabilísticos e incluíam registros de nascimentos de bebês com pelo menos 400 g ou 20 semanas de gestação. Diagnósticos de coqueluche e gripe durante a gravidez foram identificados através de notificações ou hospitalizações, considerando-se apenas a primeira infecção registrada durante cada gravidez. 

A população do estudo consistiu em mães residentes em NSW que deram à luz bebês únicos entre 2001 e 2016. As características maternas, como idade, status de fumante, hipertensão, diabetes e local de nascimento, foram extraídas dos registros perinatais. Foram examinados os desfechos neonatais de nascimento prematuro (< 37 semanas de gestação, sim vs. não), peso ao nascer (< 2.500 g vs. ≥ 2.500 g), tamanho para a idade gestacional (pequeno definido como abaixo do 10º percentil do peso ao nascer vs. adequado, conforme definido para a Austrália) e escore de APGAR em 5 minutos (< 7 vs. ≥ 7). Nas análises em que o desfecho foi o nascimento prematuro, foram incluídas apenas infecções diagnosticadas até 37 semanas de gestação na categoria de exposição, enquanto o grupo comparador incluiu aquelas que não apresentaram infecção. 

Análises de regressão de Cox foram utilizadas para estimar as associações entre as infecções durante a gravidez e esses desfechos, ajustando-se para possíveis fatores de confusão, como idade materna, condição socioeconômica e comorbidades. 

Principais resultados 

O estudo analisou uma coorte de 1.453.037 gestações únicas envolvendo 855.173 mães para avaliar o impacto das infecções por coqueluche e influenza durante a gravidez nos desfechos maternos e infantis. Do total da coorte, 925 mulheres foram identificadas com notificações ou internações hospitalares por coqueluche, enquanto 2.850 apresentaram registros semelhantes para influenza. Notavelmente, uma maioria significativa dos casos de coqueluche (97,4%) foi notificada, com 91,6% confirmados por teste de PCR. Para a influenza, 80% dos casos foram notificados, com consideráveis 67,6% confirmados por PCR. Os dados indicam uma taxa de hospitalização mais alta para casos de influenza, com 1.092 (38,3%) requerendo internação, em comparação com 49 (5,3%) para coqueluche. 

Uma análise longitudinal revelou taxas flutuantes de infecções por coqueluche e influenza de 2001 a 2015, com um aumento acentuado nas hospitalizações por influenza a partir de 2009. O total de internações por influenza disparou nesse ano, enquanto os registros anuais para coqueluche permaneceram baixos até 2008. A análise indicou que não havia um padrão sazonal para os casos de coqueluche, em contraste com a influenza, que atingiu o pico durante os meses de inverno, de junho a setembro. Além disso, observou-se que a idade gestacional na qual os diagnósticos de influenza aumentaram sugeriu que as infecções eram mais comuns no final da gestação. 

Saiba mais: Influenza: novas perspectivas para tratamento e prevenção

Em relação às características maternas, as mulheres com coqueluche ou influenza eram frequentemente jovens (19 anos ou menos) e mais propensas a ter tido partos anteriores. Notavelmente, as mães com coqueluche eram frequentemente mais velhas (≥ 35 anos), enquanto aquelas com influenza tinham maior probabilidade de se identificar como indígenas australianos ou das Ilhas do Estreito de Torres. Os achados destacaram que a infecção materna por coqueluche estava associada a um aumento do risco de parto prematuro (razão de risco ajustada [aHR] = 1,30), enquanto a influenza materna correlacionava-se com riscos ainda maiores para parto prematuro (aHR = 1,56), baixo peso ao nascer (aHR = 1,44) e pontuações de APGAR mais baixas (aHR = 1,50). Mães hospitalizadas com qualquer uma das infecções enfrentaram riscos substancialmente mais altos para esses desfechos adversos, sublinhando a necessidade crítica de vigilância e medidas preventivas durante a gravidez. 

Interpretação dos resultados e mensagem prática 

Os resultados deste estudo ampliam a compreensão sobre os desfechos maternos e infantis associados às infecções por influenza e coqueluche durante a gravidez, especialmente em relação à influenza sazonal e ao momento gestacional da infecção. O aumento das hospitalizações por influenza no terceiro trimestre destaca a necessidade de intervenções preventivas para gestantes nesse estágio, reforçando a importância da vacinação. 

A pesquisa também evidencia que a hospitalização por influenza está relacionada a fatores socioeconômicos, com mulheres de áreas mais desfavorecidas apresentando maior risco. Essas desigualdades ressaltam a necessidade de abordar barreiras ao acesso aos serviços de saúde e de oferecer cuidados culturalmente competentes. 

Além disso, este estudo é pioneiro ao mostrar uma associação entre infecção materna por coqueluche e um aumento significativo do risco de parto prematuro. As consequências do parto prematuro são amplas e impactam não apenas a saúde das crianças, mas também das famílias e dos sistemas de saúde. Assim, a vacinação contra a coqueluche no período gestacional torna-se crucial. 

Diante dessas evidências, profissionais de saúde devem reforçar a importância da vacinação contra coqueluche e influenza, monitorar mulheres em situações de risco e educar as gestantes sobre os sinais de infecções respiratórias. Promover vigilância e pesquisa contínuas sobre os efeitos dessas infecções durante a gravidez é essencial para a formulação de diretrizes de saúde pública mais eficazes, garantindo a proteção da saúde materna e neonatal.

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Referências bibliográficas

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