FEBRASGO: atualização sobre imunização e saúde da mulher
A Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) publicou seu FEBRASGO POSITION STATEMENT número 10 de 2024, com o título “Imunização na vida das mulheres: presente e futuro”. As principais orientações do texto serão descritas nesse artigo.
Introdução
O Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Brasil oferece gratuitamente 49 vacinas em mais de 38 mil salas de vacinação, com capacidade dobrada durante campanhas. Há 52 Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE) para atender grupos com necessidades especiais. Desde a década de 1980, a cobertura vacinal aumentou, mas vem caindo desde 2015-2016, agravada pela pandemia de covid-19, e por uma geração menos consciente dos riscos de doenças infecciosas. Os desafios atuais incluem melhorar registros de cobertura, ampliar acesso e horários, combater a hesitação vacinal e aumentar a adesão a vacinas com baixa cobertura, como dTpa em gestantes e HPV em adolescentes. Estratégias sugeridas incluem simplificar calendários, realizar microplanejamento regional e melhorar a comunicação nacional. A colaboração de sociedades científicas e profissionais de saúde é essencial para o sucesso das campanhas em um país tão diverso quanto o Brasil.
Vacina contra HPV
A vacinação contra o HPV é fundamental na prevenção do câncer de colo de útero, cuja principal causa é a infecção persistente por esse vírus. A OMS recomenda a vacinação entre 9 e 13 anos, e o Brasil disponibiliza a vacina para meninos e meninas de 9 a 14 anos em dose única. Evidências recentes indicam que uma única dose pode oferecer proteção equivalente a duas ou três doses, dependendo da idade, o que levou à adoção desse esquema para ampliar a cobertura vacinal. Para pessoas imunocomprometidas e vítimas de violência sexual, permanece o esquema de duas ou três doses, conforme cada situação clínica. A vacinação também é recomendada para mulheres com histórico de lesões cervicais de alto grau, já que estudos apontam que a imunização reduz significativamente a reincidência dessas lesões, inclusive em locais como o ânus e a laringe.
A vacina é indicada para vítimas de violência sexual, indivíduos imunocomprometidos, incluindo os que vivem com HIV, e a população LGBTQ+ que têm acesso reduzido a cuidados de saúde. Além disso, a vacinação é aconselhada para pacientes em uso de profilaxia pré e pós-exposição (PREP e PEP) a partir de 18 anos. Essa recomendação visa ampliar a prevenção não apenas para os subtipos oncogênicos mais comuns (HPV-16 e HPV-18), mas também para outros subtipos de HPV. As evidências mostraram redução de até 70% na reincidência de lesões em pacientes vacinados que realizaram tratamento para lesões de alto grau. Esses dados reforçam a importância de incluir a vacina como uma estratégia ampla de saúde pública para reduzir o impacto das infecções por HPV e suas complicações.
Vacina contra o VSR
A vacinação contra o vírus sincicial respiratório (VSR) é essencial para prevenir infecções graves, especialmente em lactentes e idosos. O VSR afeta quase todas as crianças até os dois anos, causando desde bronquiolite até doenças respiratórias graves. Para proteger recém-nascidos, a vacinação de gestantes entre 24 e 36 semanas de gestação, com transferência de anticorpos ao feto, é uma das estratégias discutidas. A vacina aprovada para gestantes é bivalente e utiliza a proteína F, alcançando alta eficácia na prevenção de infecções graves dos lactentes, com uma taxa de proteção que diminui gradualmente nos primeiros seis meses. Já para os idosos, o VSR pode exacerbar condições respiratórias, e vacinas aprovadas recentemente no Brasil para essa faixa etária, baseadas na proteína F, têm mostrado eficácia na prevenção de doenças graves, como pneumonia. Embora raros, eventos adversos neurológicos e cardíacos foram observados, mas o perfil de segurança é considerado adequado. Além disso, a coadministração da vacina VSR com a vacina contra influenza apresentou segurança, sem interferir na resposta imunológica de ambas.
Vacina dTpa
A vacinação contra coqueluche, tétano e difteria (dTpa) para gestantes é fundamental para proteger os recém-nascidos por meio da imunização passiva via placenta, reduzindo em 90% o risco de infecção nos primeiros meses de vida. No Brasil, a vacina dTpa foi incluída no Programa Nacional de Imunizações em 2014, recomendada a partir da 20ª semana de gestação. Estudos demonstram segurança e eficácia da vacina, e recomenda-se também a imunização de familiares próximos (estratégia “casulo”).
Vacina contra Influenza e covid-19 em gestantes
A vacinação contra gripe é crucial para gestantes, protegendo contra complicações e oferecendo anticorpos ao feto. Existem vacinas trivalentes e tetravalentes, recomendadas anualmente. Para covid-19, vacinas de RNA e inativadas são seguras para gestantes, excluindo as de vetor viral. Ambas as vacinas ajudam a reduzir o risco de complicações tanto para mãe quanto para o recém-nascido.
Vacinação contra Streptococcus pneumoniae
A bactéria S. pneumoniae causa pneumonia e meningite, sendo uma preocupação global. A vacina conjugada 13-valente (VPC13) oferece proteção contra sorotipos resistentes, enquanto a vacina 10-valente (VPC10) é usada no Brasil. A imunização de crianças reduz a transmissão para adultos, criando proteção indireta.
Vacinação contra Herpes-Zóster (HZ)
A vacina recombinante inativada contra HZ é recomendada para pessoas a partir de 50 anos, com esquema de duas doses. Estudos demonstram alta eficácia na prevenção em várias idades. A vacinação também é indicada para imunossuprimidos a partir dos 18 anos, com recomendações específicas após episódios prévios de HZ.
Imunização contra Influenza em adultos
A gripe é uma doença respiratória sazonal que afeta gravemente idosos e imunocomprometidos. No Brasil, é usada a vacina trivalente com três cepas principais. A versão de alta dose, recomendada a partir de 2023, melhora a imunidade em idosos. A vacinação anual reduz complicações graves e mortalidade.
Vacinação contra Dengue
A vacina TAK-003 protege contra os quatro sorotipos de dengue, sendo eficaz especialmente para pessoas previamente expostas. Indicada para pessoas de 4 a 60 anos, a vacina é contraindicada para gestantes e imunossuprimidos. Estudos continuam para avaliar sua segurança com outras vacinas.
Vacinação contra Meningite
A vacina conjugada contra meningite foi introduzida no Brasil em 2010, reduzindo significativamente os casos. A vacina ACWY foi implementada em adolescentes, ampliando a proteção. A FEBRASGO recomenda a vacina contra o meningococo B para adolescentes até 20 anos e para imunossuprimidos, adiando para gestantes e lactantes, exceto em surtos.
Imagem de freepikResumo das principais recomendações de imunização:
Aqui estão as principais recomendações do Primeiro Fórum FEBRASGO de Vacinação da Mulher:
1. Vacina contra o HPV:
- Para não vacinados(as) de 9 a 20 anos, recomenda-se HPV4 (rede pública) ou HPV9 (decisão compartilhada), em duas doses (0-6 meses). Para idades de 21 a 45 anos, recomenda-se HPV9 em três doses (0-2-6 meses).
- A vacina HPV 9V é preferida em todas as faixas etárias, em decisão compartilhada.
- Mulheres previamente vacinadas com as vacinas 4V ou 2V podem receber a vacina 9V para proteção adicional.
2. Vacinas para gestantes:
- Influenza: dose anual, intramuscular, em qualquer período da gestação.
- dTpa (tríplice bacteriana): recomendada em todas as gestações.
- Covid-19: dose única da variante em circulação, em qualquer fase gestacional.
- Hepatite B: três doses (0, 2, e 6 meses), para não vacinadas ou suscetíveis.
- VSR: dose única entre 24 e 36 semanas de gestação.
- A vacinação contra febre amarela deve ser evitada, exceto em emergências epidemiológicas.
3. Puerpério: Mulheres não vacinadas durante a gestação devem ser vacinadas o mais cedo possível.
4. Vacinação acima de 60 anos:
- S. pneumoniae: dose única da VPC13 ou VPC15, e uma dose de VPP23 após 2-6 meses (reforço após 5 anos).
- VSR: recomendada, especialmente para cardiopatas, pneumopatas, diabéticas, nefropatas e hepatopatas.
5. Vacinas adicionais:
- Dengue: para mulheres de 4 a 60 anos, com duas doses (intervalo de três meses).
- Meningocócica: esquema variado por idade e histórico vacinal.
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