Logotipo Afya
Anúncio
Ginecologia e Obstetrícia8 agosto 2025

SLAMS 2025 - Discussão de caso: Impacto emocional da dor penitopélvica 

O transtorno da gênito-pélvica da penetração é uma condição complexa e multissistêmica com comprometimento da vida.
Por Sérgio Okano

O XVIII Congresso da Sociedade Latino-Americana de Medicina Sexual (SLAMS 2025) apresentou diversos momentos de discussão de casos clínicos envolvendo equipes multidisciplinares. Neste artigo, abordaremos o que foi apresentado na condução de um caso clínico de casal heterossexual, no qual a dor na relação sexual se tornou um agravante na qualidade do relacionamento. 

O transtorno da gênito-pélvica da penetração é uma condição complexa e multissistêmica com comprometimento da vida, e pode atingir de 14 a 65% mulheres este diagnóstico. A sua etiologia pode ter origem tanto psicogênica quanto orgânica.  

Cobertura SLAMS 2025

Discussão de caso: Quando a mulher sente dor? 

Claudia, 38 anos, é bancária, casada há oito anos e em relacionamento estável com o marido há dez. Ela procura atendimento por dor intensa durante a relação sexual, descrita como uma fisgada no fundo da vagina, acompanhada de travamento corporal. Por conta disso, tem evitado relações, que se tornaram dolorosas e frustrantes. Desde o início da vida sexual, sempre sentiu dor, mas a situação se agravou após o diagnóstico e tratamento cirúrgico de endometriose por videolaparoscopia. Atualmente, teme ser infértil e preocupa-se com o impacto da dor na relação conjugal. O medo da penetração é tão intenso que se estende inclusive a toques externos na região genital. Claudia não possui filhos (G0), não utiliza contraceptivos, apresenta IMC de 22 e pratica ioga regularmente. No exame ginecológico, apresenta dor à mobilização uterina e ao toque no assoalho pélvico. 

A ginecologista, dra. Silvina Valente, diretora da CONSEXUAR (Argentina) reforça a importância de cuidados contínuos com o tratamento da endometriose e na investigação da infertilidade, destacando que a cirurgia prévia não garante resolução completa do quadro. A fisioterapeuta pélvica, Mônica Lopes, Coordenadora do Comitê Social e Integrante do Departamento de Disfunções Sexuais Femininas da Associação Brasileira de Estudos em Medicina e Saúde Sexual (ABEMSS) avalia que o caso se enquadra em dor pélvica crônica com tônus aumentado da musculatura do assoalho pélvico, agravado por sintomas de catastrofização e medo da penetração. O fato de a dor ter piorado após a cirurgia levanta suspeita de modulação central da dor. Ela recomenda tratamento fisioterapêutico de primeira linha, incluindo terapia manual, biofeedback, estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) e exercícios específicos para o assoalho pélvico, além de estímulo à prática regular de atividade física. 

O parceiro de Claudia, por sua vez, apresenta disfunção erétil há oito meses, com evitação não apenas de relações sexuais, mas também da masturbação, apesar de manter ereções matinais. Relata receio de machucá-la durante o ato sexual. Não apresenta comorbidades.  

A urologista, dra. Milena Mayer (Argentina), considera que o caso é uma disfunção erétil de origem psicogênica, recomendando avaliação psicológica e, se necessário, o uso de inibidores da 5-fosfodiesterase para garantir segurança e confiança no desempenho. Ela observa que a hipervigilância é comum nesses contextos. O Dr. Itor Finotelli, psicólogo, presidente da SBRASH (Brasil), ressalta que muitos casais chegam primeiro ao consultório médico, e não ao psicológico, retardando a abordagem emocional do problema.  

No caso de Claudia e seu parceiro, os três anos de convívio com a dor sexual reduziram a ocorrência de desejo espontâneo e responsivo. Embora o fator inicial de afastamento tenha sido a dor, o casal desenvolveu padrões de evitação e de “anestesia” das sensações. Quando o parceiro sente excitação, tende a querer aproveitar o momento para a penetração, mas Claudia, temendo a dor, se retrai, reforçando um ciclo de frustração mútua. 

Veja também: CBGO 2025: Desvendando os desafios da dor e da excitação sexual feminina

Conclusão

A mesa de discussão conclui que este é um caso típico de transtorno da dor gênito-pélvica/penetração com forte impacto psicossocial, em que fatores orgânicos e psicogênicos se entrelaçam. O tratamento deve ser necessariamente interdisciplinar, integrando ginecologia, fisioterapia pélvica, urologia e psicoterapia para restaurar não apenas a função sexual, mas também a qualidade de vida do casal. 

Acompanhe a cobertura completa do Congresso da Sociedade Latino-Americana de Medicina Sexual aqui no Portal Afya!

Como você avalia este conteúdo?

Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.

Compartilhar artigo

Newsletter

Aproveite o benefício de manter-se atualizado sem esforço.

Anúncio

Leia também em Ginecologia e Obstetrícia