No XVIII Congresso da Sociedade Latino-Americana de Medicina Sexual (SLAMS 2025), a sessão da Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana discutiu temas relacionados a dor genito-pélvica da penetração, o impacto da IA sobre a sexualidade e propôs uma reflexão sobre uma visão além das evidências científicas na abordagem da sexualidade no consultório.
Dor genito-pélvica da penetração
A ginecologista Mariana Pereira Maldonado destacou que a dor sexual não se limita a aspectos físicos: trata-se de uma experiência complexa, influenciada por fatores emocionais, relacionais e sociais. Ressaltou que o desenvolvimento de habilidades sexuais é essencial para promover autonomia e prazer, indo além do manejo da dor. Nesse contexto, diversas ferramentas podem ser objetiva e capazes de transformar experiências subjetivas em dados mensuráveis, facilitando o acompanhamento clínico.
Impacto da inteligência artificial na sexualidade
A psicóloga e sexóloga Quetie Monteiro, do Hospital Pérola Byington, trouxe à discussão o impacto da inteligência artificial na sexualidade. Destacou que algoritmos influenciam diretamente o desejo, moldando preferências e padrões como exemplificado pelo fenômeno viral “morando do amo” na internet. Apontou que a IA reforça normatividades de gênero, raça e corpo, afetando as vivências sexuais, e cria novas formas de vínculo, funcionando como ferramenta de acolhimento e de enfrentamento da solidão. Apresentou exemplos de tecnologias emergentes, como o uso de avatares, realidade aumentada, teledildonics, e robôs sexuais, utilizados como campo de experimentação e prática. Abordou ainda riscos éticos, como o uso de deepfake, a ausência de consentimento e a falta de leis que regulem o uso e a proteção de dados. Entre as aplicações clínicas, citou plataformas como Replika e Woebot, voltadas para ansiedade sexual e exploração do desejo.
Necessidade além da medicina baseada em evidências
Encerrando a mesa, a médica Sandra Scalco, ginecologista e Coordenadora de Serviço de Saúde Sexual– SAISS/HMIPV, propôs uma reflexão sobre a necessidade de ir além da medicina baseada em evidências. Reconheceu a importância de protocolos e escalas, mas alertou para suas limitações quando não acompanhados por uma escuta qualificada e uma relação terapêutica sólida. Defendeu que ciência e inspiração devem caminhar juntas, com o desenvolvimento de ferramentas práticas para tratar disfunções sexuais, como o método FOI (focado na escuta e compreensão do paciente), mapeamento das disfunções, identificação de crenças e tabus e estratégias de alinhamento às expectativas do paciente. Para casos complexos, recomendou condução gradual, com metas claras e comprometimento mútuo — “um passo de cada vez”. Mencionou o uso de “caixas de ferramentas” terapêuticas, que podem incluir mindfulness, exercícios de EOP, dilatadores e outros recursos voltados à adesão e continuidade do tratamento.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.