Na mesa Ponto e Contraponto, sobre pornografia e sexualidade feminina, realizada no XVIII Congresso da Sociedade Latino-Americana de Medicina Sexual (SLAMS 2025), discutiu-se o que existe de positivo e negativo em relação ao consumo de pornografia por mulheres.
A Dra. Bárbara Lucena, psicóloga, professora do Centro Universitário Christus em Fortaleza – CE, apresentou os aspectos negativos associados ao uso de pornografia por mulheres. Ela iniciou destacando que a pornografia, em sua maioria, ainda é produzida para o consumo masculino e permanece de fácil acesso, abrangendo os mais diversos tipos de conteúdo. Entre mulheres, a prevalência de consumo varia de 30% a 80%, sendo que o primeiro contato geralmente ocorre antes dos 18 anos e vem aumentando a cada geração. O público feminino tende a preferir conteúdos mais “tradicionais” e “soft”.
Em comparação aos homens, o consumo por mulheres está frequentemente ligado à autoexploração, aprendizado e curiosidade. No entanto, também há motivações relacionadas ao alívio de estresse e à procrastinação, o que pode evidenciar a ausência de estratégias eficazes para regulação emocional.
Aspectos negativos no consumo de pornografia por mulheres
Mas por que esse consumo pode ter efeitos negativos? A teoria dos scripts sexuais propõe que nossos comportamentos são moldados pelos conteúdos aos quais somos expostos. A pornografia, nesse sentido, frequentemente reforça padrões sexistas e machistas, apresentando a mulher como fornecedora de prazer sexual, sem considerar suas próprias necessidades de satisfação. Além disso, a comparação com o desempenho de atrizes e atores pornográficos pode gerar inadequação, insatisfação e impacto negativo na imagem corporal.
A exposição prolongada tende a promover habituação, exigindo estímulos cada vez mais intensos para alcançar o mesmo nível de excitação. Uma meta-análise de Wright et al. (2019) identificou, inclusive, associação entre consumo de pornografia e comportamentos violentos. Outros estudos, como os de Johnson et al. (2019) e Maas & Dewey (2018), reforçam que o conteúdo pornográfico pode contribuir para a perpetuação da cultura do estupro.
Por outro lado, a psicóloga Ana Larissa Perissini, doutoranda em ciências da saúde da FAMERP, ressaltou que o consumo de pornografia aumentou nos últimos anos, especialmente após a pandemia. Ela destacou, entretanto, que os estudos sobre os impactos desse consumo na saúde das mulheres enfrentam várias limitações, como a heterogeneidade das características das consumidoras (idade, estado civil, orientação sexual), o tipo de conteúdo consumido, o contexto de uso, o tempo de exposição e a qualidade das relações afetivas.
Possíveis aspectos positivos no consumo de pornografia por mulheres
E quanto aos possíveis aspectos positivos? A pornografia pode ter um papel educativo, favorecendo a experimentação e a ampliação de roteiros sexuais. Também pode oferecer um ambiente seguro para a vivência de fantasias e contribuir para melhorias em diferentes fases da resposta sexual, ao aumentar a motivação. Ainda assim, como enfatizou a Dra. Bárbara, a pornografia não deve ser utilizada como recurso de regulação emocional.
Dessa forma, não se deve banalizar a recomendação de consumo de pornografia em contextos clínicos. É essencial avaliar caso a caso, considerando seu uso apenas quando houver real indicação terapêutica.
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