Triagem molecular e tratamento para VB na prevenção da prematuridade: viabilidade
Apesar dos resultados em multíparas não serem positivos em relação a triagem de VB, as pacientes nulíparas se beneficiaram dessa triagem.
Parto prematuro afeta 5% a 11% dos partos em todo mundo, sendo um problema de saúde importante, afinal, aumenta a morbidade e mortalidade neonatal. Todas as pesquisas que envolvem evitar o parto pré-termo ou diminuir sua morbidade merecem nossa atenção. Por isso, hoje trago um artigo para discussão que envolve esse tema, juntamente com um dos fatores de risco já bem estabelecido para esse evento, a vaginose bacteriana (VB).
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Em julho de 2023, foi publicado um artigo na JAMA Pediatrics, com o objetivo de avaliar os efeitos clínicos e econômicos da triagem molecular e tratamento para VB em gestantes de baixo risco para nascimento prematuro.
Métodos
Os autores realizaram um estudo prospectivo, multicêntrico, paralelo, ensaio de superioridade aberto, randomizado individualmente, sendo conduzido em 19 centros perinatais franceses entre 9 de março de 2015 e 18 de dezembro de 2017. Todas as gestantes eram de baixo risco, com menos de 20 semanas de gestação e sem partos prematuros anteriores ou abortos tardios.
Os pesquisadores randomizaram as participantes em 1:1 para triagem de VB e tratamento usando esfregaços vaginais (n = 3333) ou cuidados habituais (n = 3338). A VB foi definida como Atopobium vaginae (Fannyhessea vaginae) com carga de 108 cópias/mL ou superior e/ou Gardnerella vaginalis com carga de 109 cópias/mL ou mais. Enquanto o grupo controle recebeu cuidados habituais sem triagem de VB.
Entre as 6.671 mulheres randomizadas (idade média [DP], 30,6 [5,0] anos; idade gestacional média [DP], 15,5 [2,8] semanas), a análise de intenção de tratar do quadro clínico e dos resultados econômicos não mostraram nenhuma evidência de redução na taxa de nascimento prematuro e no total dos custos com a estratégia de triagem e do tratamento em comparação com os cuidados habituais. A taxa de parto prematuro foi de 3,8% (127 de 3333) no grupo de triagem e tratamento e 4,6% (153 de 3338) no grupo de controle grupo (razão de risco [RR], 0,83; IC 95%, 0,66-1,05; P = 0,12).
Em média, o custo da intervenção foi de € 203,6 (US$ 218,0) por participante, e o custo médio total foi de € 3.344,3 (US$ 3.580,5) no grupo de triagem e tratamento versus € 3.272,9 (US$ 3.504,1) no grupo de controle, não sendo observadas diferenças significativas. No subgrupo de nulíparas (n = 3.438), rastrear e tratar foi significativamente mais eficaz do que o tratamento usual (RR, 0,62; IC 95%, 0,45-0,84; P para interação = 0,003), enquanto nenhuma diferença estatística foi encontrada nas multíparas (RR, 1,30; IC 95%, 0,90-1,87).
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Apesar dos resultados em multíparas não serem positivos em relação a triagem de VB, as pacientes nulíparas se beneficiaram dessa triagem. E são exatamente essas pacientes que nos preocupam, afinal, o maior fator de risco para parto prematuro é história de parto prematuro anterior, portanto, em uma paciente que é nulípara não temos como saber se é uma paciente com esse risco ou não. Já as multíparas com história prévia de trabalho de parto prematuro, são diretamente encaminhadas para o pré-natal de alto risco.
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