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Infectologia26 julho 2024

IAS 2024: o próximo paciente de Berlim – mais um caso de cura de HIV 

No IAS 2024 foram apresentados os dados do sétimo paciente com infecção pelo HIV considerado curado da doença.

Outra apresentação muito aguardada no IAS 2024 e que gerou muito interesse foi a dos dados do sétimo paciente com infecção pelo HIV que foi considerado curado da doença. O caso ocorreu na cidade de Berlim e, por esse motivo, o paciente está sendo referenciado como “próximo paciente de Berlim”. 

Assim como os pacientes anteriores, o próximo paciente de Berlim foi submetido a um transplante de medula óssea como tratamento para leucemia mieloide aguda (LMA). O que diferencia esse caso dos demais é o fato de que o doador era heterozigoto para CCR5, o que significa que suas células apresentavam receptores CCR5 funcionais. 

O receptor CCR5 é um dos receptores alvo utilizados pelo vírus HIV para infectar as células humanas. Embora dentre os seis casos anteriores de cura, todos tenham sido submetidos a transplantes de medula óssea, em cinco, o doador era homozigoto para o gene de CCR5 mutado, o que confere resistência à infecção por vírus HIV com tropismo por esse receptor. 

Somente um caso, a paciente de Geneva, também recebeu um transplante em que o doador apresentava CCR5 funcional e apresentou remissão sustentada da infecção, mantendo níveis indetectáveis de carga viral sem uso de terapia antirretroviral (TARV) em 2 anos de acompanhamento. 

IAS 2024 o próximo paciente de Berlim – mais um caso de cura de HIV 

Imagem de jcomp/freepik

O paciente 

Segundo os dados apresentados, o próximo paciente de Berlim é um homem branco de 60 anos, que foi diagnosticado com HIV em 2009. Ele iniciou tratamento antirretroviral em 2015, com um esquema de raltegravir, abacavir e lamivudina. Na mesma época, ele também foi diagnosticado com LMA, para a qual um transplante de medula óssea foi indicado. O doador tinha compatibilidade HLA completa e apresentava um genótipo de heterozigose para CCR5, com um alelo selvagem e um alelo com mutação relacionada à resistência ao HIV. 

O transplante ocorreu sem intercorrências clínicas importantes e o paciente desenvolveu somente doença do enxerto vs. hospedeiro leve (grau I), que foi limitada a acometimento cutâneo e tratada com corticoides tópicos. Quimerismo completo com a medula do doador foi comprovada no primeiro mês após o procedimento. 

Ao iniciar TARV em 2015, o paciente alcançou controle virológico adequado, mantendo carga viral indetectável antes de ser submetido ao transplante de medula. Análises realizadas em amostras de sangue anteriores ao início da terapia indicaram tropismo viral pelo CCR5. Em 2018, ele optou por interromper o tratamento e foi monitorado para identificação de possível rebote de viremia. Contudo, ele se mantém sem carga viral detectável no plasma até o momento, em mais de 5 anos de acompanhamento. 

A avaliação de infecção de células do reservatório, por meio de análise de células em sangue periférico e de biópsias de células intestinais, vem sendo periodicamente realizada desde 2023, sem evidências de infecção pelo HIV. Ao mesmo tempo, os pesquisadores não têm encontrado respostas específicas ao HIV em células T-CD8 e CD4 estimuladas com antígenos específicos e os níveis de anticorpos anti-HIV foram progressivamente caindo. 

Esses resultados são importantes e inovadores uma vez que demonstram que remissão duradoura de HIV, com reduções efetivas de reservatório, e potencial cura da infecção podem ser alcançados mesmo na presença de CCR5 funcional. Ainda são necessários mais estudos para entender o papel dos diferentes braços da imunidade na remissão do HIV, mas esse novo caso pode ser mais um passo para o desenvolvimento de uma terapia curativa para a doença. 

Confira todos os destaques do congresso aqui! 

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