Como as mudanças climáticas podem afetar as doenças respiratórias
As mudanças climáticas são responsáveis por impactos significativos na saúde respiratória, exacerbando doenças existentes e facilitando o surgimento de novas condições. A elevação das temperaturas, a poluição do ar, a maior ocorrência de eventos climáticos extremos – como tempestades e secas – e o aumento da umidade contribuem para a piora de doenças respiratórias como asma, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), infecções respiratórias e alergias. O guia de “Mudanças Climáticas para Profissionais da Saúde”, do Ministério da Saúde, publicado em 2024, analisa como esses fatores podem impactar na saúde respiratória, discutindo sobre mecanismos fisiopatológicos e apresentando dados empíricos e orientações práticas para os profissionais de saúde.
A poluição do ar é um dos principais fatores agravantes das doenças respiratórias em cenários de mudanças climáticas. O material particulado fino (PM2,5), o ozônio e outros poluentes atmosféricos aumentam durante períodos de calor intenso e de queimadas, resultando em uma maior incidência de sintomas respiratórios, como tosse, dispneia e exacerbação da asma. Estima-se que a cada aumento de 10 µg/m³ na concentração de PM2,5, a hospitalização por doenças respiratórias aumente em até 3%. A poluição do ar por ozônio e por partículas finas, agravada por altas temperaturas, pode intensificar sintomas de hiper-reatividade brônquica e asma, causando irritação e inflamação nos pulmões. Em áreas muito secas, a poeira também eleva o risco de piora da asma em indivíduos suscetíveis.
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Eventos climáticos
Nesse sentido, as secas desempenham um importante papel no agravamento das doenças respiratórias. A baixa umidade resulta em uma maior concentração de poeira e de partículas no ar, contribuindo para descompensações de doenças como asma e DPOC. Em regiões do Brasil recentemente afetadas pela seca, como o Nordeste, há relatos de aumento significativo nos casos de crises asmáticas durante os meses mais secos, especialmente em crianças e idosos. A poluição por partículas em suspensão pode ainda levar ao desenvolvimento de doenças mais graves a longo prazo, incluindo câncer de pulmão, devido à exposição crônica.
Inundações e aumento da umidade também são fatores que podem afetar a saúde respiratória, pois facilitam a proliferação de fungos e de mofo, os quais liberam esporos que, ao serem inalados, causam inflamação das vias aéreas. Estudos indicam que populações expostas a ambientes úmidos e com presença de mofo têm até 30% mais chances de desenvolver sintomas respiratórios, como rinite, tosse crônica e dispneia.
Eventos climáticos como as próprias tempestades também podem contribuir para a piora de doenças respiratórias. Um fenômeno chamado “asma de tempestade” tem sido observado em várias regiões do mundo, inclusive no Brasil, onde tempestades são acompanhadas por aumentos de pólen no ar, aumentando significativamente os casos de asma. Durante essas tempestades, os grãos de pólen são fragmentados em partículas menores, tornando-se mais facilmente inaláveis, inclusive pela presença de ventos fortes,e levando a respostas asmáticas.
Para profissionais de saúde, a adaptação das estratégias de manejo das doenças respiratórias é essencial em contextos de mudanças climáticas. Por exemplo, durante ondas de calor, é necessário ajustar a prescrição de medicamentos para minimizar o risco de desidratação, já que muitos medicamentos utilizados no tratamento da asma e da DPOC, como os broncodilatadores beta-adrenérgicos, podem aumentar a perda de líquidos e piorar a dispneia. A educação dos pacientes sobre a importância da hidratação e o uso adequado de medicamentos também é uma intervenção chave.
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Conclusão
O reconhecimento precoce dos sintomas e a adaptação das condutas clínicas são fundamentais para reduzir a morbidade e mortalidade associadas às doenças respiratórias em contextos climáticos extremos. Os profissionais de saúde devem estar atentos às condições ambientais locais, utilizar sistemas de alerta precoce para ondas de calor e poluição e orientar os pacientes sobre como reduzir a exposição aos poluentes. A implementação de políticas públicas que promovam a qualidade do ar, como o controle de queimadas e a redução das emissões de gases de efeito estufa, é uma estratégia essencial para diminuir os efeitos das mudanças climáticas na saúde respiratória.
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