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Medicina de Família23 setembro 2024

Como identificar a demência na Atenção Primária? 

Neste artigo traremos os principais pontos do guia "Identificação da Demência na Atenção Primária" do Ministério da Saúde
Por Renato Bergallo

A demência representa um desafio crescente para a saúde pública global, impactando significativamente a qualidade de vida das pessoas afetadas e impondo uma carga considerável aos sistemas de saúde. No Brasil, estima-se que cerca de 80% das pessoas com demência desconhecem o diagnóstico, o que dificulta o acesso a intervenções terapêuticas adequadas. Assim, reconhecendo a importância da identificação precoce da demência, o Ministério da Saúde lançou recentemente o documento “Identificação da Demência na Atenção Primária“. Este guia prático, destinado a médicos que atuam na atenção primária à saúde (APS), propõe um passo a passo de 3 etapas para apoiar no diagnóstico oportuno da demência. Em primeiro lugar, recomenda-se identificar a população-alvo, seguido de uma avaliação cognitiva inicial para aqueles com indicação e de uma avaliação médica mais aprofundada nos casos de alterações nessa avaliação.  

Como identificar a demência na Atenção Primária? 

Imagem de freepik

Identificação da população alvo 

Apesar de não haver evidências que comprovem benefícios de se realizar testes cognitivos de rastreio de demência em toda a população idosa, a presença de sinais ou sintomas suspeitos já indica a investigação. As alterações de memória são as mais frequentes nesses casos. Também são comuns o aparecimento de trocas de palavras, desatenções, comportamentos inadequados, entre outros. Essas alterações podem ser percebidas tanto pelo paciente, quanto pelos familiares ou cuidadores e até mesmo pelos profissionais de saúde que o acompanham. Caso a funcionalidade (atividades da vida diária) do paciente esteja sendo afetada, já se recomenda uma avaliação médica mais detalhada. O fluxograma do documento resume como indicação de rastreio os casos de:  

  • Busca espontânea por atendimento médico devido a alterações (memória, atenção, linguagem, comportamento ou declínio funcional) em pessoas idosas, em comparação a um padrão anterior de desempenho; 
  • Resposta “sim” para pelo menos uma das perguntas: “algum familiar ou amigo falou que você está ficando esquecido(a)?”; “os esquecimentos estão piorando nos últimos meses?”; “os esquecimentos estão impedindo a realização de alguma atividade do cotidiano?”. 

Avaliação Cognitiva Inicial 

Podendo ser aplicadas por qualquer profissional de saúde, o documento recomenda a aplicação de duas escalas: a 10-CS (10 Point Cognitive Screener), direcionada ao paciente; e o QMC8 (Questionário de Mudanças Cognitivas), direcionada ao acompanhante. Caso qualquer uma das duas apresente rastreio positivo para demência, já se indica a avaliação médica. A 10-CS avalia orientação, aprendizado, fluência verbal e evocação, com ajuste para escolaridade e é considerada positiva caso tenha pontuação ≤ 7. Já o QMC8 investiga se houve mudanças cognitivas (sim/não) nos últimos anos através de perguntas ao acompanhante, sendo considerado positivo com pontuação ≥ 4. 

Em caso de testes negativos, recomenda-se, ainda assim, manter acompanhamento próximo do paciente, com uma nova avaliação em pelo menos 6 meses. 

Leia também: A poluição do ar: Fator de risco na demência?

Avaliação Médica 

Por fim, nos casos de testes de rastreio positivo, recomenda-se uma avaliação médica mais aprofundada na APS. Na anamnese, que deve ser detalhada, o documento recomenda a aplicação da Bateria Breve de Rastreio Cognitivo, um instrumento que tem o objetivo de apoiar na avaliação dos diferentes domínios cognitivos que podem estar afetados (incluindo nomeação, aprendizado, fluência verbal, função executiva, reconhecimento e memória incidental, imediata e tardia). Além disso, é essencial investigar possíveis diagnósticos diferenciais, como transtornos de humor, uso de medicamentos (como benzodiazepínicos e anticolinérgicos), uso de outras substâncias, doenças infecciosas, doenças autoimunes e delirium. Deve-se também avaliar a solicitação de exames complementares para descartar delirium e causas reversíveis (como hemograma, creatinina, eletrólitos, TSH, B12, albumina, enzimas hepáticas, sorologias para sífilis e HIV e, se disponível, neuroimagem). 

Deve-se considerar o encaminhamento para serviços especializados especialmente em casos de declínio cognitivo progressivo associado a testes alterados na Bateria Breve de Rastreio Cognitivo e a prejuízos na realização das atividades da vida diária. 

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Referências bibliográficas

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