A meningite e a encefalite são infecções importantes do sistema nervoso central (SNC), que cursam com uma alta taxa de morbimortalidade. Os principais agentes etiológicos envolvidos nessas condições – por ordem decrescente de prevalência no Brasil segundo dados do Ministério da Saúde (MS) – são os vírus, bactérias e fungos.
O diagnóstico laboratorial dessas infecções, classicamente, é realizado através da análise do líquido cefalorraquiano (LCR), empregando-se uma série de técnicas citológicas (ex.: contagem global e específica de células), testes bioquímicos (ex.: glicose, proteínas totais, LDH), provas imunológicas, e microbiológicas (ex.: exames diretos, cultura, TSA).
Embora a cultura seja o teste considerado padrão-ouro para o diagnóstico etiológico das infecções bacterianas e fúngicas, devido às suas características metodológicas, é uma técnica que demanda mais tempo até a liberação do resultado definitivo, o que pode retardar o diagnóstico e a instituição do tratamento específico.
Para que se possa reduzir as potenciais sequelas e mortes causadas por essas graves infecções, o diagnóstico e a identificação rápida e precisa do agente causador da meningite e/ou encefalite são fundamentais para que se estabeleça um tratamento precoce e eficaz.
Nesse sentido, com o advento, difusão e aumento da disponibilidade das técnicas moleculares nas últimas décadas (baseadas, notadamente, na Reação em Cadeia da Polimerase – PCR), o arsenal diagnóstico das meningites/encefalites ficou mais completo e assertivo.
Esses testes de biologia molecular podem ser utilizados para a detecção de apenas um agente etiológico específico ou, por meio de uma técnica mais avançada, serem direcionados para a detecção de múltiplos microrganismos, conhecidos como painéis PCR multiplex.
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Teste PCR multiplex direto rápido para diagnóstico de meningite e encefalite
Esse teste é baseado em uma metodologia molecular pela Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) rápida (cerca de 1 hora até o resultado final), que permite a detecção qualitativa de múltiplos patógenos associados à meningite/encefalite em uma única reação e amostra de líquor (multiplex) com alta acurácia (sensibilidade geral de 94,2% e especificidade de 99,8%, de acordo com o fabricante).
Após ampla discussão e análise pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec), em seu relatório de recomendação (Produto Nº 938) de novembro de 2024, foi sugerida a aprovação dessa tecnologia no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), com um o prazo de até 180 dias para as áreas técnicas efetivarem a oferta no SUS.
E, por conseguinte, de acordo com a Lei Nº 14.307/2022, após uma recomendação positiva de incorporação pela Conitec para a inclusão de uma tecnologia no SUS, é determinado que esses produtos também sejam incorporados no Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde Suplementar da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) em um prazo de até 60 dias.
Sendo assim, conforme a Resolução Normativa ANS nº 627, a cobertura obrigatória pelos planos de saúde já é válida a partir de 17 de fevereiro de 2025. O novo procedimento incorporado “Agentes infecciosos na encefalite e meningite – Detecção por PCR multiplex em painel no líquor”, é capaz de detectar um painel de 14 dos principais agentes causadores de meningite e/ou encefalite na comunidade, quais sejam:
- Bactérias: Escherichia coli K1, Haemophilus influenzae, Listeria monocytogenes, Neisseria meningitidis, Streptococcus agalactiae, Streptococcus pneumoniae;
- Vírus: Citomegalovírus (CMV), Enterovírus (EV), Herpes simplex vírus 1 (HSV-1), Herpes simplex vírus 2 (HSV-2), Herpesvírus humano 6 (HHV-6), Parechovírus humano (HPeV), Vírus varicela-zóster (VZV);
- Fungos do gênero Cryptococcus: C. neoformans/C. gattii.
Segundo o relatório, o teste PCR multiplex, quando utilizado em conjunto com o método convencional, versus o método convencional isoladamente, apresentou uma melhor custo-efetividade, tanto em relação à redução do tempo de hospitalização quanto ao do tempo de tratamento empírico.
O uso do teste levou a uma redução de um 1 e 2 dias evitados de hospitalização para a população geral e para a população pediátrica, respectivamente. Já o tempo de tratamento empírico apontou 12 dias evitados de hospitalização para a população geral e 4 dias para a pediátrica.
Considerações finais
A meningite e encefalite são condições potencialmente graves, que podem cursar com elevadas taxas de morbimortalidade. A oferta, tanto no sistema público quanto no privado de saúde, de um teste molecular rápido no líquor para o diagnóstico sindrômico de 14 patógenos causadores de meningite e encefalite, é crucial para um melhor manejo das doenças.
Podemos destacar, como pontos positivos da tecnologia incorporada, a alta acurácia diagnóstica, a rapidez do resultado (que permite o direcionamento e racionalização do uso de antibióticos e antivirais), a diminuição do tempo de internação e da morbimortalidade, além do apoio à vigilância epidemiológica, apresentando assim uma redução de custos em geral ao sistema de saúde.
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