Como enfrentar os medos da terapia dialítica do paciente renal crônico
Pacientes com Doença Renal Crônica (DRC) frequentemente carregam medos sobre a possibilidade de precisar de diálise. Pensamentos como “Será que terei que fazer hemodiálise?”, “Será que dói?” ou “Será que vou morrer durante o tratamento?” são comuns. Esse medo é potencializado por experiências de terceiros e pela falta de informação clara. Acompanhar o paciente ambulatorialmente, com explicações transparentes e acolhedoras, pode ajudar a transformar essas dúvidas em conhecimento, tornando o processo menos assustador.
A relação médico-paciente de confiança
A confiança no tratamento e no médico é fundamental para o paciente. Para aqueles em acompanhamento ambulatorial há mais tempo, a introdução gradual ao tema da diálise, ao lado de explicações contínuas, pode ajudar a desmistificar o tratamento. Essa confiança se constrói no tempo e com conversas sobre as opções e os avanços disponíveis. Em pacientes que precisam de terapia dialítica em situações mais agudas, é especialmente útil envolver familiares na conversa, para que juntos compreendam as possibilidades e apoiem o paciente.
Os pacientes vão a óbito assim que começam o tratamento?
A percepção de que a diálise é sinônimo de morte é um mito que surge de situações de pacientes gravemente enfermos, muitas vezes em falência de múltiplos órgãos, que passam pela hemodiálise nos últimos dias de vida. Entretanto, pacientes em tratamento ambulatorial, seguidos rigorosamente, podem viver mais e melhor com a terapia de substituição renal, tendo uma sobrevida prolongada e com maior qualidade de vida. É muito comum que pacientes que iniciam a terapia renal substitutiva voltem ao ambulatório para me perguntar por que eu não comecei a hemodiálise ou diálise peritoneal mais cedo, visto a melhora de seu bem-estar após o início do tratamento.
Leia mais: Doença renal em fase terminal: hemodiálise ou diálise peritoneal?
Existem outras opções além da hemodiálise?
Sim. A diálise peritoneal, por exemplo, é uma alternativa oferecem flexibilidade, especialmente para pacientes que preferem um tratamento em casa, sem a necessidade de ir ao hospital três vezes por semana. Ainda que a diálise peritoneal não esteja disponível em todas as cidades, os retornos mensais e a facilidade do tratamento domiciliar trazem um conforto único para muitos pacientes e a possibilidade de se deslocar para outro município mensalmente ainda estende o tratamento a pacientes que moram mais distante do local de tratamento.
Além disso, o transplante renal é outra opção possível. Embora o tempo de espera para um doador compatível possa ser longo, é uma alternativa que permite ao paciente sonhar com uma vida sem a necessidade de diálise. Até o transplante ser possível, pode-se utilizar a diálise como “ponte” para manter o paciente em boas condições.
O tom ao indicar a necessidade do tratamento faz toda a diferença
Uma abordagem positiva e encorajadora é essencial. Certa vez, expliquei a uma paciente que, há cem anos, a falência renal terminal era praticamente uma sentença de morte. Hoje, porém, temos opções para enfrentar essa condição com opções de tratamento. Uma fala sincera e motivadora pode fazer o paciente perceber que o tratamento é uma oportunidade de vida, não uma sentença de morte. O paciente tem nos tratamentos opções para viver melhor e a equipe médica está para ajudar com o que for necessário.
Desmistificando as “dores” da diálise
Outro aspecto relevante é desmistificar o procedimento em si. Muitos temem dor ou desconforto durante a diálise. É importante explicar que, no início do tratamento pode sim ter algumas sensações estranhas ou leves incômodos, a grande maioria dos pacientes se adapta bem; há ajustes feitos para isso durante o tratamento. Reforce que a equipe estará presente para ajustar o tratamento e minimizar desconfortos; ele não estará sozinho em nenhum momento.
Proporcionando apoio psicológico
Muitas vezes, oferecer o apoio de um psicólogo especializado em pacientes com DRC pode ser um grande diferencial. Esse apoio ajuda o paciente a lidar com as ansiedades e emoções que acompanham o diagnóstico e a adaptação ao tratamento, promovendo uma aceitação mais tranquila do processo.
Conclusão
Ajudar o paciente renal crônico a enfrentar os medos sobre a terapia dialítica é parte essencial de um acompanhamento humano e eficaz. Com informação clara, uma relação de confiança e apoio psicológico, o paciente pode sentir-se mais seguro e encorajado a viver bem com a DRC, encarando o tratamento como uma oportunidade de qualidade de vida. Um tratamento que era antes visto com temor torna-se, assim, uma ferramenta valiosa para a saúde e o bem-estar.
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