O que um triatlo de longa distância pode ensinar sobre a função renal? Uma recente apresentação no Congresso Paulista de Nefrologia de 2025 (CPN 2025) chamou atenção para os efeitos agudos renais em competições de ultrarresistência.
Dados do estudo
O estudo, conduzido pelo Comitê Olímpico Brasileiro e apresentado por Gerliano Martins Nogueira, avaliou atletas em uma prova de meio-Iroman.
Os resultados mostraram que atletas de triatlo apresentaram maior densidade urinária e proteinúria em 95% dos participantes, sendo 30% com níveis moderados (0,3 g/L) e 10% com níveis elevados (3 g/L). Embora a creatinina sérica não tenha sido medida, o padrão sugere injúria renal aguda (LRA), associada à desidratação, distúrbios hidroeletrolíticos e rabdomiólise. Comparativamente, atletas ocasionais, como praticantes de vôlei ou beach tênis, apresentaram menor impacto renal.
CPN 2025: Pouco sabemos sobre o bom cuidado paliativo em nefrologia
A literatura científica reforça que exercícios de alta intensidade podem aumentar o risco de LRA, especialmente em situações de esforço extremo, calor ambiental elevado ou desidratação significativa. Elevações transitórias de biomarcadores de lesão tubular renal (NGAL, KIM-1, IGFBP7) e de creatinina sérica foram observadas em treinos intensos, incluindo CrossFit®, HIIT e exercícios de resistência. Casos de LRA geralmente são autolimitados em indivíduos sem comorbidades, mas a repetição de episódios de injúria renal levanta preocupações sobre efeitos cumulativos.
Rabdomiólise induzida por esforço é um mecanismo crítico de LRA, pois a liberação de mioglobina e produtos de degradação muscular pode causar dano tubular. Eventos de ultrarresistência podem levar até 85% dos participantes a apresentar alterações laboratoriais compatíveis com LRA, especialmente quando há uso de anti-inflamatórios, hiponatremia ou hidratação inadequada. Por outro lado, exercícios de intensidade moderada e regularidade comprovada parecem exercer efeito protetor, modulando respostas inflamatórias e oxidativas, sem aumento do risco de LRA.
Considerações e mensagem prática
Em resumo, a mensagem é clara: a prática de exercícios físicos deve ser incentivada, mas com moderação e constância. Atenção especial deve ser dada à hidratação adequada e à prevenção de rabdomiólise, principalmente em situações de esforço extremo. A função renal pode ser preservada com planejamento inteligente do treinamento, evitando episódios agudos de lesão que, embora geralmente reversíveis, podem se acumular ao longo do tempo.
CPN 2025: GESF colapsante associada a neoplasia – Raro, mas catastrófico
Autoria

Ester Ribeiro
<div class="c-message_kit__blocks c-message_kit__blocks--rich_text"> <div class="c-message__message_blocks c-message__message_blocks--rich_text" data-qa="message-text"> <div class="p-block_kit_renderer" data-qa="block-kit-renderer"> <div class="p-block_kit_renderer__block_wrapper p-block_kit_renderer__block_wrapper--first"> <div class="p-rich_text_block" dir="auto"> <div class="p-rich_text_section">Graduada em Medicina pela PUC de Campinas. Médica Nefrologista pelo Hospital Santa Marcelina de Itaquera. Título em Nefrologia pela Sociedade Brasileira de Nefrologia.</div> </div> </div> </div> </div> </div>
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