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Medicina do Esporte13 maio 2019

Medicina esportiva: um olhar mais atento a marcadores bioquímicos

Na prática da medicina esportiva é cada vez mais comum a utilização de análises laboratoriais para prevenir lesões musculares.

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Na prática da medicina esportiva é cada vez mais comum a utilização de análises laboratoriais para individualização das cargas de treino ou períodos de descanso com intuito de prevenir lesões musculares. Além disso, as análises sanguíneas podem fornecer diferentes informações sobre o estado geral de saúde do atleta, perfil nutricional, patologias inerentes à modalidade praticada e detecção de doping sanguíneo.

Testes laboratoriais podem fornecer informações muito sensíveis e específicas a respeito do estado de saúde de um paciente ou atleta. De 60 a 70% das decisões médicas que envolvem o diagnóstico, internação ou uso de medicação são baseadas em resultados de exames.

marcadores bioquímicos

Marcadores bioquímicos

Para a interpretação de exame laboratorial é preciso entender todo o processo que envolve a realização da análise laboratorial e seus principais interferentes. Podemos dividir o processo em três fases:

  • Fase pré-analítica, a que antecede a realização do exame, responsável por quase 70% dos erros; compreende a preparação do paciente, coleta transporte e prepara do material a ser avaliado e principalmente a solicitação adequada do exame laboratorial.
  • Fase analítica, momento o qual efetivamente a análise ocorre e com menor percentual de erro, cerca de 13%.
  • Fase pós-analítica, o momento em que o resultado laboratorial vai gerar um laudo que será entregue ao paciente/atleta e chegará ao médico responsável, e tal etapa é responsável por cerca de 47% dos erros.

A atividade física de diferentes tipos e intensidades pode modificar as concentrações séricas de muitos analitos, por isso devemos conhecer e considerar estas variações.

Outros fatores intrínsecos como: idade, etnia, sexo, dieta, medicamentos podem exercer influência sobre resultados de marcadores bioquímicos.

Idade: valores de excreção urinária diminuem com a progressão da idade, bem como os valores de testosterona, por exemplo; creatinina sérica aumenta constantemente da infância a puberdade, paralelamente ao desenvolvimento da musculatura esquelética. Nas mulheres durante a menopausa é esperado a elevação da alanina aminotransferase, fosfatase alcalina, aspartato aminotransferase, ácido úrico e colesterol.

Gênero: a série vermelha em mulheres apresenta menores valores em relação aos homens, principalmente pela perda mensal de sangue durante a menstruação; a atividade plasmática da enzima creatina quinase e a concentração de creatinina é maior em indivíduos do sexo masculino, em virtude da maior massa muscular.

Etnia: número de leucócitos circulantes é menor nos afro-americanos, quando comparados à outras etnias; indivíduos de origem hispânica, brancos e asiáticos apresentam menores valores para a atividade da enzima CK e lactato desidrogenase.

Dieta: é importante levar em consideração o fator dieta, pois dietas ricas em conteúdo proteico tendem a aumentar de forma importante valores de ureia, amônia e ácido úrico; indivíduos desnutridos irão apresentar diminuição das proteínas plasmáticas.

Variação circadiana: a influência cronobiológica nos exames laboratoriais pode ser de origem linear ou cíclica. O ferro sérico pode variar em até 50% das 8h até 14h; alguns hormônios como cortisol e testosterona possuem variação típica circadiana com concentrações mais elevadas no período matutino entre 7 e 9 horas, por exemplo; enzimas usadas na avaliação de atletas como CK, LDH, AST, ALT e GGT podem apresentar valores mais altos no período vespertino em relação ao matutino.

Parâmetros hematológicos podem variar de acordo com o período de treinamento, onde hematócrito e hemoglobina podem apresentar-se diminuídos em fases de treinamento mais exaustivos para a maior parte dos esportes.

Ingestão de álcool: a ingestão do álcool pode cursar com efeitos agudos (2-4 hrs após), como, por exemplo, diminuição da glicose e aumento do lactato plasmático, pela inibição da gliconeogenese hepática; a ingestão de quantidades moderadas ao longo da semana pode acarretar em um aumento de mais de 20mg/dL na concentração de triglicerídeos; quando há a ingesta de forma crônica, pode acarretar no aumento das enzimas hepáticas.

Medicamentos: o uso de suplementos, fitoterápicos, drogas lícitas ou ilícitas pode levar a uma alteração de exames laboratoriais seja in vivo ou in vitro. Como muitos atletas usam suplementos e principalmente anti-inflamatórios, estes podem acarretar alteração nas enzimas hepáticas; vale lembrar também, que alguns medicamentos, quando administrados pela via intramuscular podem provocar alteração na musculatura esquelética e aumentar a atividade de CK e LDH.

Quando há o uso de suplementos a base de cafeínas pode ter um aumento da glicose sanguínea, por provocar inibição da fosfodiesterase que é a responsável pela degradação do AMP cíclico.

A depender do uso de fitoterápicos pode ser provocado depleção de eletrólitos, alteração no coagulograma, por exemplo.

Com isso podemos observar que levar em consideração em um público específico, todos os possíveis interferentes para a interpretação de exames bioquímicos pode levar a uma melhor tomada de decisão e melhor compreensão do estado atual do atleta/paciente.

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Referências:

  • Nunes LAS, Brenzikofer R, de Macedo DV. Reference change values of blood analytes from physically active subjects, Eur J Appl Physiol. 2010 Sep;110 (1):191-8.
  • Siqueira LO, Muccini T, Agnol ID, Filla L, et al. Análise de parâmetros bioquímicos séricos e urinários em atletas de meia maratona. Arq Bras Endocrinol Metab. 2009;53/7.
  • Lee EC, Fragala MS, Kavouras SA, Queen RM, Pryor JL, Casa DJ. Biomarkers in Sports and Exercise: Tracking Health, Performance, and Recovery in Athletes. J Strength Cond Res. 2017;31(10):2920–2937. doi:10.1519/JSC.0000000000002122
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