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Oncologia4 junho 2025

Câncer de próstata oligometastático

Estudo testou se fazer a combinação da radioterapia com o tratamento hormonal antes da cirurgia poderia oferecer mais resultados no tratamento contra o câncer de próstata

O câncer de próstata é a neoplasia maligna mais comum em homens no mundo. Embora muitos casos sejam diagnosticados nos estágios iniciais e tratados com intuito curativo com sucesso, ainda há uma parcela significativa dos pacientes que são diagnosticados com doença metastática. Dentro desse grupo, tem uma categoria chamada câncer de próstata oligometastático, quando volume de doença metastática é pequeno (geralmente até 3 lesões) e pode, teoricamente, ser abordado de maneira mais agressiva e com intuito curativo. 

O tratamento tradicionalmente empregado para essa forma da doença se baseia na deprivação hormonal (bloqueio androgênico) associado ou não à quimioterapia. Porém, com o passar do tempo, as metástases desenvolvem resistência ao tratamento hormonal, entrando naa fase chamada “câncer de próstata resistente à castração”, de difícil manejo e com pior prognóstico. 

Recentemente surgiram novas estratégias para enfrentar esse desafio: uma delas é a combinação das terapias locais (como a radioterapia e a cirurgia do tumor primário) com as terapias sistêmicas (quimioterapia ou hormonioterapia). A ideia é atacar o tumor em todas as frentes, antes mesmo da cirurgia. É nesse contexto que surge este estudo: testar se fazer a combinação da radioterapia com o tratamento hormonal antes da cirurgia poderia oferecer mais bem resultados do que utilizando apenas o tratamento hormonal tradicional. 

Método do estudo 

O NEAR-TOP é um ensaio clínico randomizado, multicêntrico, prospectivo e aberto, ou seja, os participantes são divididos aleatoriamente em dois grupos, e tanto os médicos quanto os pacientes sabem qual em qual grupo de tratamento foram alocados. Esse estudo será conduzido em seis grandes hospitais da China, todos com ampla experiência na cirurgia robótica e na oncologia urológica. 

Como o estudo foi planejado? 

– O número total de pacientes previstos para inclusão é de 174. 

– Os participantes são divididos em dois grupos principais: 

  • Grupo experimental: recebe terapia hormonal + radioterapia antes da cirurgia robótica. 
  •  Grupo controle: recebe apenas o tratamento hormonal padrão por longo prazo, sem cirurgia imediata. 

Após o tratamento inicial, ambos os grupos seguem em acompanhamento, e podem receber tratamentos adicionais caso haja progressão da doença. 

Saiba mais: Tratamento do câncer de próstata com vigilância ativa versus terapia radical

O que o estudo pretende avaliar? 

– Desfecho principal: sobrevida livre de falha em 3 anos (ou seja, pacientes vivos e sem progressão da doença). 

– Desfechos secundários: tempo até a doença se tornar resistente à castração, sobrevida global, qualidade de vida, grau de regressão tumoral após o tratamento e ocorrência de efeitos colaterais. 

População envolvida 

Os pacientes elegíveis para o estudo são homens com até 75 anos, diagnosticados com adenocarcinoma de próstata, que possuem até três metástases (nos ossos ou linfonodos) detectadas por exames de imagem avançados, como a tomografia por emissão de pósitrons com marcador PSMA. 

Critérios principais para participar: 

– Nunca ter feito nenhum tipo de tratamento prévio para o câncer de próstata (cirurgia, hormonioterapia ou radioterapia). 

– Ter expectativa de vida maior que cinco anos. 

-Ter condição clínica adequada para suportar cirurgia e radioterapia. 

Exclusões: 

– Pacientes com outros tumores malignos ativos. 

– Portadores de doenças graves que impossibilitem o tratamento. 

– Pacientes com infecção ativa, doenças autoimunes graves ou HIV. 

Resultados esperados 

Como o artigo descreve um protocolo de estudo ainda em andamento, os resultados definitivos ainda não foram publicados.  O estudo é construído com base em uma fase anterior (fase I/II) conduzida pelo mesmo grupo de pesquisa, na qual: 

– A combinação de terapia hormonal e radioterapia antes da cirurgia foi bem tolerada. 

– Houve controle significativo do tumor, tanto na próstata quanto nos locais metastáticos. 

A maioria dos pacientes recuperou o controle urinário após a cirurgia, o que é um bom sinal de preservação da qualidade de vida. 

Além disso, estudos prévios como STAMPEDE, HORRAD e ORIOLE já haviam demonstrado que incluir radioterapia no tratamento de pacientes com doença metastática de baixo volume pode aumentar o tempo de progressão da doença. 

O que se espera é que a combinação precoce de radioterapia com terapia hormonal e cirurgia resulte em: 

– Maior tempo sem progressão da doença. 

– Menor taxa de transformação para doença resistente à castração. 

– Melhor sobrevida global. 

– Boa qualidade de vida com toxicidade controlada. 

Mensagem prática 

Para estudantes de medicina, especialmente aqueles que estão nos primeiros anos do curso, pode parecer complexo entender a importância de combinar diferentes formas de tratamento em oncologia. Mas pense assim: tratar o câncer não é só destruir o tumor, é evitar que ele volte ou se espalhe ainda mais pelo corpo. E, mais importante, fazer isso sem prejudicar demais o paciente (sempre pesando risco x benefício) 

Este estudo é importante porque: 

– Traz uma proposta inovadora e promissora, que pode mudar protocolos futuros se os resultados forem positivos 

– Valoriza o tratamento individualizado: cada paciente tem uma história e um tipo de doença. O estudo reforça a importância de personalizar o tratamento, pensando não apenas no tumor, mas também nas características clínicas e nos exames de imagem. 

– Envolve tecnologia de ponta: como o uso da cirurgia robótica e radioterapia de precisão, o que mostra como a medicina está cada vez mais integrada com inovação tecnológica. 

Em resumo, o estudo NEAR-TOP é uma iniciativa importante na busca por melhores tratamentos para pacientes com câncer de próstata com doença oligometastática. Ao se testar uma abordagem combinada de terapias antes da cirurgia, os autores do artigo estão tentando responder a uma pergunta que passa na cabeça de todos os envolvidos no cuidado de pacientes com câncer: vale a pena ser mais agressivo desde o início, mesmo quando o câncer já se espalhou para os outros órgãos, mesmo que com doença de baixo volume? Se a resposta for sim, isso poderá mudar a forma como lidamos com milhares de casos todos os anos de pacientes portadores de câncer de próstata. 

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Referências bibliográficas

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