Estudo identifica principais abordagens não farmacológicas para o manejo do delirium em crianças sob cuidados intensivos
Os cuidados paliativos no tratamento intensivo são fundamentais para melhorar o bem-estar. Conheça os métodos não farmacológicos indicados.
Um recente estudo envolvendo profissionais de saúde que atuam em Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) levou os pesquisadores a desenvolver um bundle não farmacológico para o manejo do delirium em crianças sob cuidados intensivos. O artigo Development of a non-pharmacologic delirium management bundle in paediatric intensive care units foi publicado recentemente no periódico Nursing in Critical Care.
Crianças em estado crítico são propensas a sentir desconforto, dor e angústia. Frequentemente, os pacientes pediátricos são submetidos a procedimentos dolorosos, como inserção de acessos intravenosos, drenos, cateteres, aspiração de tubo endotraqueal e outras invasões necessárias e, muitas vezes, recorrentes. Ademais, esses pacientes estão sujeitos a ruído e luz intensos.
Para reduzir o sofrimento, medicamentos analgésicos e sedativos são comumente administrados, mais frequentemente opioides e benzodiazepínicos. Ao mesmo tempo, o uso excessivo desses fármacos acarreta o risco de ventilação mecânica (VM) prolongada, permanência prolongada na UTIP, síndrome de abstinência iatrogênica (SAI) e delirium. Os distúrbios do sono e o delirium são frequentemente tratados com drogas adicionais, o que pode levar a um ciclo vicioso que contribui para o aumento da morbimortalidade infantil. Equilibrar a sedação adequada, evitando a super e a sub sedação, é um desafio nessas unidades.
Bundles não farmacológicos para prevenção de delirium têm se mostrado eficazes em Unidades de Terapia Intensiva para adultos. O estudo então teve como objetivo analisar opiniões de especialistas e gerar decisões de consenso informadas sobre o conteúdo de um bundle não farmacológico para manejar o delirium em pacientes de UTIP.
Método
O estudo foi realizado com base na metodologia Delphi, um método sistemático e interativo baseado nas opiniões de um painel de especialistas na área de um tópico específico. Após várias rodadas com questionários, chega-se a um consenso sobre o tema. Foram duas rodadas efetuadas de fevereiro a abril de 2021.
Participaram do estudo especialistas em UTIP, incluindo enfermeiros, médicos, pesquisadores, fisioterapeutas, especialistas em brincadeiras e terapeutas ocupacionais localizados na Europa, América do Norte, América do Sul, Ásia e Austrália.
Resultados
Os pesquisadores desenvolveram um questionário com base nos resultados de uma pesquisa bibliográfica abrangente nos domínios:
- Apoio à cognição;
- Suporte ao sono;
- Apoio à atividade física.
Sob esses domínios, foram listadas 11 estratégias para promover apoio com 61 intervenções. Os participantes avaliaram a viabilidade de cada intervenção em uma escala Likert de nove pontos (variando de 1 [“discordo totalmente”] a 9 [“concordo totalmente”]). O índice de discordância e a mediana do painel foram calculados para determinar o nível de concordância entre os especialistas.
Na segunda rodada, os participantes reavaliaram as afirmações revisadas e classificaram as intervenções em cada domínio em ordem de importância para as faixas etárias: 0-2, 3-5 e 6-18 anos de idade.
Durante a primeira rodada Delphi, 53 de 74 (72%) questionários foram preenchidos. Na segunda rodada, 45 de 74 (61%) foram preenchidos. Cinco das intervenções mais bem classificadas em todas as faixas etárias foram:
- Desenvolver uma rotina diária;
- Ajustar a exposição à luz de acordo com a hora do dia;
- Programar o horário para dormir;
- Fornecimento de óculos e aparelhos auditivos, se apropriado;
- Incentivar a presença dos pais.
Conclusões
Neste relevante estudo, intensivistas pediátricos internacionais e interprofissionais identificaram intervenções não farmacológicas para o manejo do delirium que consistem em desenvolver uma rotina diária, ajustar a exposição à luz de acordo com a hora do dia, programar o horário para dormir, fornecer óculos e aparelhos auditivos, se apropriado, e incentivar a presença dos pais.
As intervenções dirigidas por enfermeiros com envolvimento dos pais são preferidas no manejo do delirium em pacientes de UTIP. O próximo passo, conforme descrito pelos pesquisadores, será o teste de viabilidade e estudo-piloto de um programa de manejo de delirium não farmacológico em UTIP (non-pharmacologic delirium management program-pediatric intensive care unit – NDB-PICU), investigando o envolvimento dos pais na prática clínica, avaliação e implementação do bundle.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.