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Cuidados Paliativos26 março 2020

Por quê Cuidados Paliativos na pandemia de Covid-19?

Senti o compromisso urgente em elucidar o imenso elo que os Cuidados Paliativos têm com a realidade atual de pandemia do coronavírus.

Por Carolina Neiva

“Desculpa, mas, o momento não é para Cuidados Paliativos…”

Acabei ouvindo esse comentário de alguns colegas na última semana. Senti o compromisso urgente em elucidar o imenso elo que os Cuidados Paliativos têm com a realidade atual de pandemia do coronavírus.

Para isso, existe um documento acessível da Organização Mundial da Saúde (OMS) chamado: Integrating palliative care and sympton relief into the response to humanitarian emergencies and crises (integração de cuidados paliativos e alívio de sintomas na resposta a emergências e crises humanitárias). Destaco alguns pontos mais importantes e deixo no fim do texto o link desse manual na íntegra.

imagem de cartaz de coletivo de cuidados paliativos e covid-19

Cuidados paliativos e pandemia

Primeiramente, importante definir crises humanitárias. Segundo a OMS são: “eventos de grandes proporções que afetam populações ou sociedade, causando consequências difíceis e angustiantes como a perda maciça de vidas, interrupção dos meios de subsistência, colapso da sociedade, deslocamento forçado e ainda graves impactos políticos, econômicos com efeitos sociais, psicológicos e espirituais.” Portanto, sim, estamos vivendo uma crise humanitária.

Os Cuidados Paliativos (CP) por definição é uma abordagem multidisciplinar que previne e alivia o sofrimento através da identificação precoce, avaliação correta e tratamento da dor e outros problemas, sejam eles físicos, psicossociais ou espirituais destinados a qualquer paciente que tenha uma condição de saúde que ameace ou limite a sua vida.

De posse dessas duas definições fica evidente o vínculo profundo entre a pandemia que vivemos e o CP: alívio do sofrimento humano. Seja ele do paciente, da família, seja de nós, profissionais de saúde envolvidos no cuidado.

Durante as epidemias de infecções com risco de vida, como a que enfrentamos, o sofrimento pode resultar tanto da doença, da resposta médica ou da saúde pública.

Nesse sentido o CP e o tratamento para salvar vidas não devem ser considerados distintos, salvar vidas é uma maneira crucial de atingir esse objetivo, mas não é o único. Portanto, a prevenção e alívio do sofrimento devem ser ofertados a qualquer pessoa que sofra fisicamente, psicologicamente, socialmente ou espiritualmente e não apenas àqueles com condições de risco de vida. Respostas humanitárias que não incluem CP são clinicamente deficientes e eticamente indefensáveis.

Categorização

Os tipos de sofrimentos mais comuns observados nas epidemias de influenza podem ser replicados para pandemia de Covid-19 são: dor, dispneia, febre, tosse, reações de estresse agudo, isolamento social/ estigmatização, luto complicado. Devemos estar atentos para eles e saber criar um plano de cuidados ético e proporcional. O processo de tomada de decisão pode ser complexo, dado a natureza de recursos limitados ou por vezes ausentes. Deve-se considerar para isso as prioridades de atendimento.

Nesse manual é proposta uma categorização médica mais ética quanto à triagem de pacientes dentro daquela classificação padrão em crises humanitárias, nela o CP sempre está associado:

CLASSIFICAÇÃOCORDESCRIÇÃO
Prioridade 1VermelhaSobrevivência possível com tratamento imediato.

Os cuidados paliativos devem ser integrados ao tratamento de manutenção da vida.

Prioridade 2Azul/ PretaA sobrevivência não é possível, devido aos cuidados disponíveis.

Cuidados Paliativos para controle de sintomas, acolhimento família/paciente, luto.

AmarelaNão está em perigo imediato de morte, mas o tratamento é necessário em breve.

Cuidados paliativos e / ou alívio dos sintomas podem ser urgentes.

Prioridade 3VerdeNecessitará de cuidados médicos em algum momento, após o tratamento de pacientes com condições mais críticas.

Pode ser necessário alívio dos sintomas, acolhimento.

Adaptado: WHO, “Integrating palliative care and sympton relief into the response to humanitarian emergencies and crises”, 2018.

O imperativo ético em fornecer cuidados paliativos e controle de sintomas inclusive para pacientes de cor azul/ preta, ou seja, sem perspectiva de sobrevivência baseia-se nos princípios médicos e éticos de beneficência e não abandono. O imperativo ético para salvar vidas não precisa e não deve entrar em conflito com o imperativo ético para confortar pacientes em fim de vida.

Leia também: Porque você importa: webinar sobre Cuidados Paliativos no contexto da Covid-19

Entender o papel do CP permite um cuidado mais integrado e alinhado aos princípios humanitários. É pressuposto para isso algumas ferramentas como: um pacote de medicamentos e equipamentos da cesta básica da OMS, eficazes e baratos, além do treinamento básico de membros da equipe de assistência. Em algumas situações, a presença de um médico especialista em CP pode ser benéfica para fornecer ou supervisionar CP para um grande número de pacientes que necessitam ou para pacientes com sintomas complexos e para ajudar o país ou a comunidade afetada a integrar serviços sustentáveis ​​de cuidados paliativos em seu sistema de saúde.

Por tudo isso o momento atual é para Cuidado Paliativo sim! Devemos unir esforços, capacitar e auxiliar com um único objetivo comum: alívio do sofrimento humano.

Seguem os links desse manual, e de artigos abertos da WHPCA do manual deles sobre CP em crises humanitárias disponível na página deles.

Webinar do coletivo “Eu serei uma janela na sua casa”

O coletivo “Eu serei uma janela na sua casa” é uma iniciativa de mulheres da área da saúde, apaixonadas pela oportunidade de cuidar que já há alguns anos se dedicam a aliviar sofrimentos por meio da abordagem dos Cuidados Paliativos. Mulheres estas que cruzaram seus caminhos em um local muito especial de formação: o Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo, onde fizeram sua casa em diferentes momentos. Sensibilizadas pela presente crise humanitária esse grupo se deparou com a necessidade premente de integração dessa abordagem aos mais diversos e complexos cenários impostos pela epidemia de Covid-19.

Daí surgiu a ideia de ser uma ponte e um apoio para profissionais de saúde que estão na linha de frente do combate a pandemia. Atualmente o coletivo criou um canal no Telegram®️ denominado Cuidados Paliativos-COVID-19 onde são publicados materiais educacionais e um chat para teleinterconsulta e dúvidas do dia a dia.

Pode se juntar, que nessa casa você sempre em bem-vindo! Confira nosso primeiro webinar neste link!

Você também pode escutar o webinar como podcast! Acesse aqui para ouvir!

Referências bibliográficas:

  • WHO, Integrating palliative care and sympton relief into the response to humanitarian emergencies and crises, 2018.
  • Oxford University Press, A Field Manual for Palliative Care in Humanitarian Crises, 2019.
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