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Oncologia12 novembro 2019

Prevenção do câncer de mama: uma visão diferente

Apesar de outubro ser o mês conhecido pela conscientização da prevenção do câncer de mama, algumas questões surgem atrás de toda a mobilização e mídia.

Por Sara Dutra

Apesar de outubro ser o mês mundialmente conhecido pela importância da conscientização da prevenção do câncer de mama, algumas questões surgem atrás de toda a mobilização e mídia.

  1. Por que outubro? Não poderia ser todos os meses?
  2. Por que a disponibilidade das pessoas, o interesse da mídia e dos órgãos competentes não pode ser diário? Um incentivo!
  3. Por quê o diagnóstico do câncer de mama no Brasil tem ocorrido tardiamente?
  4. Por quê o número de pacientes jovens com câncer de mama tem crescido?
  5. Por que a população está tão doente quando olhamos pra nossa saúde?

A resposta para todos essas perguntas seria apenas má gestão pública? O intuito desse texto não é falar sobre política, não é criticar os meses comemorativos (outubro rosa/setembro amarelo/novembro azul) nem as ações sociais. Mas, pensando justamente na saúde brasileira como um todo, precisamos ir além dos meses temáticos!

O câncer de mama no Brasil é uma doença de saúde pública que tem crescido assustadoramente e, apesar de ter tratamento eficaz, capaz de curar, são poucas as pacientes que conseguem.

mulher com câncer de mama olhando pela janela

Câncer de mama: Brasil vs Estados Unidos

Eu pude acompanhar o Dr. Armando Giuliano por um mês (setembro/2019) e, ao comparar o Brasil (hospitais de referência pra câncer de mama) e Estados Unidos (hospital de referência no tratamento em Los Angeles), vemos a disparidade nos casos de câncer de mama e no seu diagnóstico inicial, seu tratamento e na taxa de cura do mesmo!

“Ah, mas é impossível comparar Brasil com Estados Unidos!” Sim! Com certeza existem muitas diferenças entre esses dois países, como política, economia e outras, que afetam diretamente a saúde. Mas, passar um mês nesse Hospital em Los Angeles me gerou muitas reflexões aos quais gostaria de compartilhar com vocês!

  1. Temos os mesmos aparelhos de imagem , com qualidade equiparada!
  2. Nossas condutas frente ao câncer de mama (diagnóstico e tratamento) são as mesmas.
  3.  As medicações e os exames genéticos são os mesmos, a diferença está na disponibilidade. No Brasil esses exames apresentam um alto custo, neste hospital dos Estados Unidos também, mas as pacientes conseguem pagar.
  4. Nossos médicos são atualizados e tão capacitados quanto os médicos deste hospital.

Aonde está o erro? Mesmo que as afirmações acima quanto a equipamentos/aparelhagem médica não sejam uma realidade em todos os hospitais brasileiros, o que há de tão diferente?

Alimentação diferente? Qualidade de vida? Talvez para essas respostas seria necessário um estudo comparativo. Mas, comparando a maioria dos casos, cerca de 80% dos atendidos na consulta de primeira vez (nos EUA) possuíam lesão impalpável, câncer de mama inicial, enquanto a realidade no Brasil é uma proporção de dez pacientes com câncer de mama avançado num total de 15 atendidas numa manhã.

Leia também: Outubro Rosa: qual o papel da ultrassonografia?

Enquanto vemos todos os dias tumores avançados que ulceram e deformam a pele, nos EUA nenhuma paciente apresentou (em um mês de visita!) uma lesão tão agressiva ou grande que pudesse alterar a pele da mama. Com isso, conseguimos refletir sobre possíveis soluções para o câncer de mama no Brasil.

Existe uma questão  cultural no Brasil que precisamos vencer. Muitas mulheres dizem “quem procura acha”, “tenho medo de achar câncer”, “sou muito nova e isso não é pra mim”… Devido aos desfechos ruins que temos, muitas pessoas acham que não há solução e preferem deixar pra lá, a ponto de procurarem ajuda apenas quando não conseguem mais andar (metástase?) ou a mama está sangrando e doendo (câncer de mama avançado!).

De maneira nenhuma estou negligenciando a dificuldade de acesso a exames, mas precisamos desconstruir essas crenças. “A primeira atitude para mudança é ter a responsabilidade de olhar para si!” (Remo Pereira Di fazio).

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É necessário conscientizar

Apesar de todos os vieses, podemos responder alguns questionamentos. O que temos ou podemos fazer para mudar esse quadro?! Acredito que, apesar de todas as nossas dificuldades ( política/economia/gestão pública) com a saúde, nosso trabalho precisa começar antes de outubro! Ele precisa ser diário!

Precisamos investir em prevenção. Não podemos aceitar diagnósticos tardios! Acredito que, se disseminarmos a conscientização do autocuidado e a informação “Ei, mulher, não tenha medo! Câncer de mama tem cura. Vamos lutar, vamos prevenir, vamos nos atentar”, já estaremos ajudando muito e em outubro teremos mais pessoas conscientizadas.

A partir daí, nosso trabalho será, de alguma forma, viabilizar o acesso dessas pacientes à mamografia, biópsia e início do tratamento, como cumprimento da Lei 12.732/12, onde o paciente tem direito ao primeiro tratamento da doença em 60 dias após o diagnóstico.

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