As infecções de sítio cirúrgico (ISC) após cirurgias ortopédicas podem ocorrer em 1 a 3% dos casos e são definidas como infecções ocorridas até 30 dias após a cirurgia quando não há implante e até 1 ano após a cirurgia quando há implante. Essas infecções podem ser subdivididas também em superficiais quando estão limitadas à pele ou subcutâneo adjacente à incisão ou profundas.
A reinternação por infecção de sítio cirúrgico pode representar um aumento de custo de quase 300% em relação à cirurgia sem complicações, ocasionando semanas a mais de internação para administração de antibioticoterapia venosa e cuidados relacionados à troca de curativos. Além disso, do ponto de vista do paciente, a internação prolongada se torna um grande problema levando a danos psicológicos e financeiros ao saírem momentaneamente do mercado de trabalho.
Alguns estudos prévios analisaram os fatores de risco para ISC em diferentes áreas da ortopedia, mas não foram encontrados trabalhos que avaliassem essa estatística nas cirurgias ortopédicas em geral.
Diante disso, foi publicado recentemente no “International Wound Journal” um estudo com o objetivo de aprofundar a compreensão da ocorrência e dos elementos de risco associados às ISCs, visando aliviar a pressão sobre os recursos médicos e melhorar o prognóstico dos pacientes. O foco principal foi a realização de análises multivariadas de fatores de risco. A ênfase secundária foi a determinação da ocorrência de ISSCs após cirurgia ortopédica.
Metodologia
Foram estudadas as bases de dados Pubmed, Embase e Cochrane até março de 2024 e incluídos estudos atendendo aos critérios diagnósticos para ISCs e artigos de pesquisa compreendendo estudos de caso-controle e estudos de coorte investigando fatores de risco associados a ISCs em pacientes ortopédicos pós-cirúrgicos. Os critérios de exclusão incluíram: resumos de conferências, meta-análises, protocolos de estudo, correspondências, publicações duplicadas, revisões sistemáticas, acesso incompleto a artigos em texto completo, insuficiência de dados utilizáveis e estudos animais.
Resultados
Entre os 1.248 registros recuperados, 45 artigos foram considerados elegíveis após a triagem de estudos que incorporaram análises multivariadas de fatores de risco associados a ISCs. Estes incluíram quatro estudos de caso-controle e 41 estudos de coorte, envolvendo coletivamente 1.572.160 pacientes, entre os quais 43.971 casos de ISSCs foram relatados no pós-operatório.
Os resultados da meta-análise indicaram associações significativas entre ISCs e os seguintes fatores: baixos níveis de albumina (<35 g/L; OR = 2,29, intervalo de confiança [IC] de 95%: 1,45–3,62, p = 0,0001), escore ASA >2 (OR = 2,32, IC de 95%: 1,86–2,89, p = 0,0001), índice de massa corporal (IMC) elevado (>24 kg/m2)
(OR = 2,15, IC de 95%: 1,60–2,90, p = 0,0001), diabetes (OR = 2,25, IC de 95%: 1,66–3,05, p = 0,0001), duração cirúrgica prolongada (>60 min) (OR = 2,06, IC de 95%:
1,52–2,80, p = 0,001), submetidos a múltiplas cirurgias/procedimentos (OR = 2,38,
IC 95%: 1,29–4,41, p = 0,006), presença de fratura exposta (OR = 3,35, IC 95%: 2,51–4,46, p = 0,001), tabagismo atual (OR = 2,87, IC 95%: 1,88–4,37, p = 0,0001), classe de ferida mais alta (>2; OR = 3,59, IC 95%: 1,68–7,66, p = 0,001) e utilização de implantes (OR = 1,89, IC 95%: 1,15–3,11, p = 0,0012).
Mensagem prática
Na prática, de acordo com os resultados do estudo, foram identificados inúmeros fatores relacionados ao aumento de chance infecção de sítio cirúrgico sendo alguns desses modificáveis e outros não. Cabe ao cirurgião e à equipe médica intervir nos fatores modificáveis e estar sempre atento aos casos com fatores não-modificáveis cientes da possibilidade maior de complicação.
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