As fraturas do úmero distal e diafisárias são consideradas complexas e de difícil tratamento, necessitando profissionais treinados e experientes para a melhor tomada de decisão. As fraturas diafisárias muitas das vezes são tratadas de forma conservadora com índices de pseudoartrose acima de 20,6%. Quando tratadas cirurgicamente os índices ficam entre 2 e 21% segundo a literatura dependendo da rigidez do sistema e estabilidade.
No tratamento cirúrgico, o uso de dupla placa pode aumentar a estabilidade do sistema, apesar de gerar uma maior desvascularização e o seu impacto nos resultados de pseudoartrose não é bem definido na literatura.
Diante disso, foi publicado recentemente no “European Journal of Orthopaedic Surgery and Traumatology” um estudo com o objetivo de comparar o risco de não consolidação em pacientes adultos submetidos à fixação com placa dupla versus placa única para fraturas de úmero para melhorar a tomada de decisão e o atendimento ao paciente.

Metodologia
O estudo foi uma revisão sistemática com metanálise nas bases de dados PubMed, CINAHL, MEDLINE, Web of Science e SPORTDiscus até janeiro de 2025. Foram incluídos artigos que compararam desfechos clínicos para fraturas de úmero usando fixação com placa dupla versus única, em pacientes adultos (> 18 anos e que foram escritos em inglês. Os critérios de exclusão foram artigos que eram revisões sistemáticas, meta-análises, relatos de caso, revisões narrativas, estudos em animais, estudos biomecânicos rigorosos e estudos em cadáveres.
O desfecho primário estudado foi o risco de não consolidação para fraturas do úmero distal/diáfise do úmero. Os desfechos secundários incluíram análise de subgrupos de não consolidação por localização e indicação, complicações totais, perda sanguínea estimada, tempo operatório, risco de falha prematura do implante e tempo de consolidação.
Resultados
Treze estudos retrospectivos de qualidade moderada foram incluídos, dentre os 211 artigos recuperados. Os pacientes (n = 788; 47,8% do sexo masculino) tinham idade média de 50,4 ± 14,2 anos e tempo médio de acompanhamento de 18,1 ± 14,4 meses, com 378 pacientes (48,0%) recebendo fixação com placa dupla e 410 pacientes (52,0%) recebendo fixação com placa única para fratura de úmero (38,4% úmero distal; 61,7% diáfise umeral). Não houve diferença estatisticamente significativa no risco de pseudoartrose entre os grupos de fixação com placa dupla e única (p = 0,502; RR: 0,99; 5,0% vs. 7,3%).
Na análise de subgrupos por localização, não houve diferença estatisticamente significativa no risco de não consolidação para fraturas distais do úmero ou fraturas diafisárias do úmero, por indicação cirúrgica para risco de não consolidação para fratura primária ou não consolidação, ou por indicação cirúrgica para tempo até a consolidação para fratura primária ou não consolidação. Não houve diferença estatisticamente significativa no total de complicações em todos os subgrupos, exceto que a placa dupla apresentou um risco aumentado de complicações totais em comparação à placa única para fraturas distais (p = 0,014; RR: 1,40).
Mensagem prática
De acordo com o estudo, não há diferença nos índices de pseudoartrose pós fraturas de úmero distais e diafisárias quando comparados os sistemas com dupla placa e placa única.
É importante lembrar que, na prática, quanto mais estabilidade é adquirida na fixação, maior a possibilidade de liberação de mobilidade precoce e reabilitação. Isso deve ser considerado de acordo com cada tipo de fratura e cada paciente a fim de definir o melhor tratamento.
Autoria

Giovanni Vilardo Cerqueira Guedes
Editor Médico de Ortopedia da Afya ⦁ Mestre em Ciências Aplicadas ao Sistema Musculoesquelético (INTO) ⦁ Ortopedista, Cirurgião da Mão e Microcirurgião formado pelo Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia Jamil Haddad - INTO ⦁ Graduação em Medicina pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) ⦁ Fellowship em Cirurgia da Mão e Artroscopia de Punho pela International Bone Research Association - IBRA (Clínica Teknon, Barcelona, Espanha, 2022)
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