Todo ortopedista sonha com o paciente que volta ao consultório dizendo: “Doutor, nem lembro mais que tenho uma prótese no joelho!”. Esse é o cenário ideal de uma artroplastia total do joelho (ATJ): quando o implante se torna tão bem integrado à função que o paciente simplesmente… esquece que ele existe.
Essa percepção subjetiva do paciente é justamente o que o Forgotten Joint Score 12 (FJS-12) tenta capturar. Trata-se de um questionário com 12 perguntas que avalia o quanto o paciente percebe ou “esquece” sua articulação substituída durante atividades cotidianas. E, embora cada vez mais valorizado, ainda há pouco conhecimento sobre o que exatamente prediz um bom escore no FJS-12.
Foi com esse objetivo que um grupo do Hartford Healthcare, nos EUA, conduziu um estudo com 672 pacientes submetidos à ATJ primária eletiva. A pergunta era clara: é possível prever, ainda nos primeiros meses após a cirurgia, quem vai “esquecer” o joelho operado até o 12º mês?
O que o estudo avaliou?
Os pesquisadores dividiram os pacientes em dois grupos com base no FJS-12 aplicado 12 meses após a cirurgia:
- Grupo “Esqueceu do Joelho” (FJS-12 > 33,3): 76% dos pacientes
- Grupo “Lembra do Joelho” (FJS-12 ≤ 33,3): 24% dos pacientes
E analisaram uma série de variáveis clínicas e funcionais entre os grupos, como:
- Dados demográficos (idade, sexo, IMC, comorbidades)
- Escore KOOS-JR (funcionalidade do joelho)
- Escala Numérica de Dor (EVA)
- Medicações utilizadas, distância deambulatória, testes de mobilidade
- Satisfação com o procedimento
Principais achados
Os dados mais robustos vieram dos próprios escores funcionais e de dor ao longo do pós-operatório:
- Pacientes que alcançaram KOOS-JR > 65,1 aos 3 meses ou > 72,1 aos 6 meses tinham alta probabilidade de “esquecer” o joelho no FJS-12.
- Da mesma forma, pacientes com dor < 3,0 aos 3 ou 6 meses também estavam fortemente associados a um FJS-12 elevado.
- Ao todo, mais de 85% dos pacientes com bons resultados no KOOS-JR e EVA aos 3 ou 6 meses alcançaram um FJS-12 satisfatório no 12º mês.
- Curiosamente, dados como idade, sexo, IMC e tempo de deambulação não tiveram valor preditivo significativo.
O que isso muda na prática?
- Previsibilidade: agora sabemos que os escores de função e dor, coletados rotineiramente nos retornos de 3 e 6 meses, antecipam o desfecho subjetivo mais valorizado pelos pacientes.
- Intervenção precoce: pacientes com KOOS-JR baixos ou dor persistente no início da recuperação podem se beneficiar de ajustes precoces na reabilitação.
- Evita surpresas: ao invés de esperar 12 meses para descobrir quem teve um bom resultado, o cirurgião pode atuar com base em dados mais cedo.
Mais do que um bom alinhamento ou arco de movimento, o sucesso da artroplastia total do joelho depende, em última instância, da experiência vivida pelo paciente. O estudo mostra que, ao acompanhar de perto o KOOS-JR e a dor nos meses iniciais, podemos prever quem será o paciente que vai dizer, com um sorriso no rosto: “Esse joelho? Nem lembro mais dele.”
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