As fraturas proximais do úmero representam um desafio na prática ortopédica, especialmente em populações idosas. Com o envelhecimento populacional e o aumento da prevalência de osteoporose, compreender as melhores estratégias de tratamento e seus desfechos torna-se imperativo.
Um estudo recente, publicado na revista Injury, buscou mapear as tendências nacionais de tratamento dessas fraturas e avaliar as taxas de readmissão hospitalar em 30 e 90 dias. Mas qual é a real importância desses dados?

Como o estudo foi conduzido?
A pesquisa, realizada por Joshi e colaboradores de instituições como a Rutgers Health New Jersey Medical School e o Hackensack University Medical Center, analisou dados do Nationwide Readmissions Database (NRD) entre 2016 e 2021. Foram incluídos mais de 218 mil casos de fratura proximal do úmero, codificados pelo ICD-10. Os tratamentos avaliados incluíram manejo não operatório, hemiartroplastia (HA), artroplastia total anatômica (aTSA), artroplastia reversa do ombro (rTSA), redução aberta com fixação interna (ORIF) e fixação intramedular (IMN). O desfecho principal foi a readmissão hospitalar não planejada em 30 e 31–90 dias, estratificada por causa cirúrgica ou clínica.
Quais foram as principais tendências de tratamento observadas?
Os resultados revelaram uma mudança paradigmática no manejo dessas fraturas. Enquanto o tratamento não operatório permaneceu o mais frequente (51,8% dos casos), houve um aumento significativo no uso da artroplastia reversa do ombro (rTSA), que passou de 20,27% em 2016 para 22,30% em 2021. Em contrapartida, observou-se uma redução progressiva na utilização da ORIF (de 20,77% para 14,86%). Esse movimento reflete a crescente confiança na rTSA para fraturas complexas, particularmente em pacientes idosos com comprometimento da coifa dos rotadores ou baixa qualidade óssea.
E as taxas de readmissão? Qual tratamento se mostrou mais seguro?
A análise das readmissões trouxe insights valiosos. O tratamento não operatório apresentou as maiores taxas de readmissão tanto em 30 dias (10,5%) quanto em 31–90 dias (8,9%). Em contraste, a rTSA registrou as menores taxas: 5,9% e 4,6%, respectivamente. Esses dados persistiram mesmo após ajuste para idade, comorbidades e escores de gravidade e mortalidade (APR-DRG), sugerindo que a intervenção cirúrgica – especialmente a rTSA – pode estar associada a um menor risco de complicações pós-alta que necessitam de reinternação.
Entretanto, é crucial contextualizar esses números. Entre os pacientes submetidos à rTSA, a principal causa de readmissão foi a instabilidade/luxação, responsável por 1,07% dos casos em 30 dias. Isso indica que, embora a rTSA seja globalmente segura, complicações técnicas específicas ainda representam um ponto de atenção.
Quais fatores influenciam o risco de readmissão?
A regressão logística identificou variáveis independentes associadas a um maior risco de readmissão em 30 dias. Comorbidades como hipertensão, doença cardíaca, DPOC, anemia e uso de anticoagulantes elevaram significativamente as chances de reinternação. Por outro lado, condições como obesidade e osteoporose pareceram exercer um efeito protetor – possivelmente devido a perfis clínicos distintos ou a um manejo mais agressivo de suporte metabólico.
Além disso, a análise reforça que o perfil do paciente influencia não apenas a escolha do tratamento, mas também o seu desfecho. Pacientes tratados de forma não operática tiveram maior probabilidade de alta para instituições de cuidados prolongados, refletindo um status funcional basal mais comprometido.
Quais as implicações práticas desses achados?
Este estudo oferece uma visão abrangente e atualizada do cenário epidemiológico e assistencial das fraturas proximais do úmero nos Estados Unidos. Para o ortopedista, os dados reforçam que:
- A rTSA consolida-se como opção segura e com baixo índice de readmissão, mas exige técnica refinada para minimizar o risco de luxação.
- O tratamento conservador, embora válido em muitos casos, está associado a maior risco de complicações clínicas e reinternação, demandando acompanhamento rigoroso.
- A presença de comorbidades específicas deve ser considerada no planejamento da alta e na orientação ao paciente.
Autoria

Rafael Erthal
Conteudista do Afya Whitebook desde 2017 ⦁ Residência em Ortopedia e Traumatologia pelo INTO ⦁ Especialista em cirurgia de joelho ⦁ Graduação em Medicina pela Universidade Federal Fluminense (UFF)
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