A rinite caracteriza-se por uma inflamação da mucosa nasal e pode ser de etiologia alérgica, infecciosa ou não alérgica.1 É uma condição extremamente frequente na prática médica com prevalência média estimada em 29,4% para rinites não especificadas, 12% para rinite não alérgica e 18% para rinite alérgica, gerando alto impacto na qualidade de vida e produtividade.2
Classificação
Anteriormente, a rinite alérgica era classificada em duas categorias baseadas no alérgeno desencadeante: perene e sazonal. Contudo, observou-se que sintomas de uma rinite sazonal poderiam durar longos períodos e de uma rinite perene poderiam não durar, necessariamente, o ano todo.3 Portanto, atualmente, utiliza-se uma classificação baseada na frequência e duração dos sintomas, sendo dividida entre rinite alérgica intermitente (quando os sintomas ocorrem menos de quatro dias por semana e menos de quatro semanas por ano) e persistente (mais de quatro semanas e mais de quatro dias por semana), independente do alérgeno associado.1 Apesar dessa mudança na classificação, ainda vemos o termo “rinite alérgica sazonal” sendo utilizado para se referir à rinite desencadeada pela exposição aos polens.
A rinite alérgica sazonal seria, portanto, caracterizada por sintomas provocados pela exposição a aeroalérgenos específicos, como os polens. Geralmente, ocorre em áreas onde as estações do ano são bem definidas, com destaque para a primavera, quando há maior polinização. No Brasil, essa condição é mais prevalente na região Sul, com sintomas que se iniciam em setembro e podem se prolongar até dezembro ou janeiro e, em alguns casos, persistir por períodos prolongados, secundariamente à exposição ao alérgeno.4
Os sintomas típicos da rinite desencadeada por polens são semelhantes aos de outras formas de rinite alérgica e incluem espirros, prurido, rinorreia e obstrução nasal.1,4 No entanto, alguns estudos indicam que pacientes com rinite sazonal têm a tendência a relatar menos sintomas obstrutivos, como congestão nasal e pressão facial.3 Prurido ocular, hiperemia conjuntival, lacrimejamento e tosse também podem estar presentes no quadro clínico da RA.1
Diagnóstico
O diagnóstico inicia-se com uma anamnese detalhada, em que o médico investiga os sintomas e seus gatilhos.1 Uma das características da rinite sazonal é a relação direta entre a exposição ao alérgeno e o aparecimento dos sintomas, com uma reação rápida após o contato. 3 O exame físico pode revelar achados típicos de rinite alérgica, como hipertrofia de cornetos inferiores, palidez de mucosa nasal, dupla prega de Dennie-Morgan, saudação alérgica (que se refere a uma linha horizontal no dorso nasal pelo movimento de coçar o nariz), olheiras alérgicas e sinais de respiração bucal.1 Exames adicionais, como a endoscopia nasal, podem ser necessários em casos refratários1, enquanto o Prick Test e a dosagem de IgE específicas são úteis para identificar a sensibilização do paciente aos polens e guiar terapia específica, como a imunoterapia.1
O V Consenso Brasileiro sobre Rinites, de 2024, pontua sobre a síndrome alérgica pólen-alimentos, que ocorre quando a IgE produzida contra os polens apresenta reatividade cruzada com proteínas de alimentos, como frutas, vegetais e castanhas.1 Embora a condição seja rara no Brasil, ela pode ser considerada em pacientes com sintomas de prurido oral ou nasal após o consumo desses alimentos, especialmente em áreas com intensa polinização.1 Nesses casos, está indicada a exclusão do alimento e intensificação do tratamento da rinite alérgica na estação de polinização. Imunoterapia com polens também pode ser indicada em alguns casos.1
Tratamento
No tratamento da rinite alérgica desencadeada por polens, o controle ambiental é um pilar fundamental, sendo recomendado reduzir a exposição ao alérgeno. Isso pode ser alcançado com medidas como manter janelas fechadas, secar roupas dentro de casa, evitar sair em dias quentes e secos, e utilizar filtros HEPA nos aparelhos de ar-condicionado. Além disso, o uso de óculos e máscaras ao sair de casa também pode ser eficaz para diminuir o contato com o alérgeno.3 Além do controle ambiental, é fortemente recomendada a lavagem nasal com soro fisiológico, promovendo remoção de mediadores inflamatórios e alérgenos, melhora dos sintomas nasais e do clearance mucociliar e redução das crises de rinite com prevenção da recorrência.1
O V Consenso brasileiro sobre Rinites cita os anti-histamínicos como primeira linha, aliviando de forma eficaz os sintomas de fase aguda, como prurido, espirros e sintomas oculares, no entanto atuam pouco sobre a obstrução nasal, sintoma de fase tardia, no qual o corticoide tópico tem eficácia comprovada.1
Os corticoides intranasais também são considerados tratamento de primeira linha e devem ser iniciados profilaticamente, ou seja, alguns dias antes do início da temporada de polinização.3 Segundo o V Consenso brasileiro sobre Rinites, os corticoides intranasais são os mais efetivos no tratamento de todos os sintomas da rinite alérgica, podendo ter um início de ação de 3 a 36 horas, mas, para suprimir a inflamação crônica, devem ser usados por pelo menos 60 a 90 dias.1
Os corticoides intranasais possuem ação local e a absorção sistêmica é mínima, isto é, a biodisponibilidade dessas medicações é muito baixa. O furoato de fluticasona, por exemplo, tem uma biodisponibilidade menor que 0,5%.5 Além disso, possui posologia cômoda, sendo utilizado uma vez ao dia e com indicação para pacientes acima de 2 anos de idade com RA sem sintomas oculares. Para o tratamento dos sintomas oculares, furoato de fluticasona é indicado para adultos e adolescentes a partir de 12 anos.6
Outras opções de tratamento são anti-histamínicos combinados com descongestionantes orais, que podem aliviar a congestão, mas não devem ser usados de rotina, além de ser necessária avaliação de comorbidades e risco-benefício, bem como um uso por curto período de tempo.1 Os corticoides orais podem apresentar certos benefícios, no entanto recomenda-se fortemente contra seu uso, devido aos frequentes efeitos adversos.1 A imunoterapia alérgeno-específica é uma opção adequada para os pacientes que não obtiveram melhora com o tratamento clínico.3
Autoria
Andrea Almeida
Médica pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Residente em Otorrinolaringologia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
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