A obesidade infantil é uma condição crônica e multifatorial que exige uma abordagem clínica estruturada e atualizada. Durante o Congresso da Academia Americana de Pediatria (AAP 2025), realizado em Denver/EUA, especialistas apresentaram avanços significativos no uso de medicamentos para o manejo da obesidade pediátrica, com base nas diretrizes da AAP de 2023.
A nova diretriz da AAP recomenda que adolescentes com IMC ≥ 95º percentil sejam considerados para tratamento farmacológico como complemento à intervenção comportamental. Para crianças entre 8 e 11 anos, a recomendação é mais cautelosa, baseada em consenso.
O tratamento farmacológico não exige um tempo mínimo de intervenção comportamental prévia. Os medicamentos atuam na biologia da obesidade e devem ser vistos como terapias crônicas, semelhantes ao tratamento de hipertensão ou diabetes. A interrupção geralmente leva à recuperação do peso.
Entre os medicamentos disponíveis, destacam-se:
- Semaglutida: maior eficácia (redução média de 16,7% do peso), administrada por injeção semanal.
- Fentermina + Topiramato: opção oral com eficácia moderada (até 10% de redução de peso).
- Liraglutida, Orlistat, Setmelanotida e Metformina: com perfis variados de eficácia e efeitos colaterais.
A escolha do medicamento deve considerar preferências do paciente, contraindicações, comorbidades, interações medicamentosas e acesso. O monitoramento clínico é essencial: exames laboratoriais, avaliação de comportamento alimentar, sinais vitais e rastreio de transtornos alimentares devem ser realizados antes e durante o tratamento.
O tratamento da obesidade pediátrica está evoluindo para incluir opções farmacológicas seguras e eficazes. O pediatra geral tem papel fundamental na identificação precoce, na indicação adequada e no acompanhamento longitudinal desses pacientes. Incorporar a farmacoterapia ao arsenal terapêutico pode melhorar significativamente os desfechos clínicos e a qualidade de vida de crianças e adolescentes com obesidade.
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Mensagem prática
Considere medicamentos como parte do tratamento crônico da obesidade, especialmente em adolescentes com IMC ≥ 95º percentil e comorbidades associadas.
- Não espere por “fracasso” da abordagem comportamental para iniciar farmacoterapia. A intervenção precoce pode ser mais eficaz.
- Escolha o medicamento com base em perfil clínico, preferências e acesso. Avalie contraindicações e potenciais interações medicamentosas.
- Realize monitoramento clínico regular, incluindo exames laboratoriais, rastreio de transtornos alimentares e avaliação de efeitos adversos.
- Utilize ferramentas no prontuário eletrônico para facilitar a discussão com famílias e o registro das opções terapêuticas.
- Acompanhe as políticas de cobertura de medicamentos em sua região, especialmente para fentermina, topiramato e agonistas de GLP-1.
- Eduque e envolva a família na decisão terapêutica, reforçando que o tratamento é contínuo e exige adesão e acompanhamento.
Confira os destaques do Congresso da American Academy of Pediatrics
Autoria

Jôbert Neves
Médico do Departamento de Pediatria e Puericultura da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (ISCMSP), Pediatria e Gastroenterologia Pediátrica pela ISCMSP, Título de Especialista em Gastroenterologia Pediátrica pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Médico formado pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Coordenador Young LASPGHAN do grupo de trabalho de probióticos e microbiota da Sociedade Latino-Americana de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (LASPGHAN).
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