EAPS 2024: Preditores de eficácia das terapias em crianças que vivem com obesidade
A obesidade infantil é um dos problemas de saúde pública mais alarmantes do século XXI, afetando milhões de crianças em todo o mundo. Com consequências que vão além da aparência física, a obesidade na infância está associada a uma série de complicações de saúde, incluindo diabetes tipo 2 (DM2), hipertensão arterial sistêmica (HAS) e problemas psicológicos. Nesse contexto, durante o 10º Congresso da Academia Europeia de Sociedades Pediátricas (EAPS 2024), o Dr. Brzeziński discutiu as necessidades de abordagens eficazes para o manejo e a prevenção da obesidade infantil e quais são os preditores para alcançar este objetivo.
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O papel dos pais no manejo da obesidade pediátrica
- Influência parental: O gerenciamento da obesidade em crianças muitas vezes envolve a família como um todo. As perspectivas e atitudes dos pais em relação à alimentação, atividade física e saúde são influenciadores significativos no comportamento da criança. Estudos mostraram que quando os pais se envolvem ativamente no programa de controle de peso de seus filhos, os resultados geralmente são mais positivos.
- Papel da Mãe vs. Pai: Pesquisas sugerem que mães e pais podem abordar a obesidade de seus filhos de maneiras diferentes. Por exemplo, as mães podem estar mais envolvidas na gestão diária da dieta e da atividade física, enquanto os pais podem assumir um papel mais distante. No entanto, quando ambos os pais estão envolvidos, os resultados tendem a melhorar;
- Lares com pais solteiros: Mães solteiras, em particular, foram identificadas como um grupo de alto risco para desistência de programas de gestão da obesidade. Isso é muitas vezes devido à pressão socioeconômica adicional e sistemas de apoio limitados. Abordar esses desafios por meio de apoio social pode melhorar a adesão aos programas de tratamento;
Perspectivas dos pacientes, fatores relacionados à idade e sociais
- Visão das crianças vs. Visão dos pais: Muitas vezes existe uma desconexão entre como os pais percebem o peso de seus filhos e como as crianças percebem isso. Os pais podem se concentrar mais nos riscos à saúde a longo prazo, enquanto as crianças podem não compreender totalmente a importância do controle de peso.Essa divergência pode afetar a motivação de ambas as partes para se envolverem no tratamento, logo, o alinhamento dessas perspectivas é essencial para o sucesso do tratamento;
- Idade como preditor de sucesso: Intervenções mais precoces levam a melhores resultados. Crianças que começam a gestão da obesidade em uma idade mais jovem, especialmente antes da adolescência, tendem a mostrar melhorias mais sustentáveis no IMC. Isso se deve, em parte, ao fato de que crianças mais novas podem ser mais adaptáveis a mudanças de estilo de vida, e hábitos formados cedo podem durar mais;
- Perfil Socioeconômico: Um perfil socioeconômico mais baixo tem estado consistentemente ligado a taxas mais altas de obesidade infantil. Famílias de contextos desfavorecidos frequentemente enfrentam barreiras como acesso limitado a alimentos saudáveis, espaços seguros para atividade física e educação sobre saúde.
Evolução do tratamento da obesidade pediátrica
- Cirurgia metabólica pediátrica: Ao longo da última década, a cirurgia metabólica se tornou um tratamento mais aceito para a obesidade pediátrica extrema, particularmente em casos onde intervenções tradicionais falharam. Embora não seja adequada para todas as crianças, oferece uma solução potencial para aquelas com complicações de saúde severas devido à obesidade.
- Intervenções farmacológicas: Novos medicamentos, como agonistas do receptor GLP-1, surgiram como ferramentas eficazes para o gerenciamento da obesidade, especialmente para crianças e adolescentes que podem não ser candidatos à cirurgia ou que precisam de suporte adicional ao lado de intervenções de estilo de vida. Esses medicamentos mostraram promessas em reduzir o peso e melhorar a saúde metabólica, mas levantam novas questões sobre o uso a longo prazo e acessibilidade.
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Quais as barreiras e facilitadores em programas de tratamento da obesidade?
- Barreiras ao sucesso: Uma das barreiras mais significativas para um tratamento eficaz da obesidade é o estigma. Crianças e suas famílias frequentemente enfrentam julgamentos sociais e, às vezes, até preconceitos implícitos de profissionais de saúde. Abordar a obesidade com empatia, evitando culpa e estigmatização, é essencial para manter crianças e famílias engajadas no tratamento;
- Taxas de abandono e diferenças de gênero: Meninos têm mais probabilidades de desistir de programas de gerenciamento de peso do que meninas. Isso pode ser devido a diferenças na forma como meninos e meninas veem seu peso, ou talvez porque os programas não sejam tão eficazes em atrair meninos quanto meninas;
- Facilitadores do engajamento: Criar ambientes envolventes e de apoio é fundamental para manter a participação a longo prazo em programas de tratamento da obesidade. Programas que oferecem atividades divertidas (por exemplo, esportes em grupo, aulas de culinária) tendem a ter taxas de retenção mais altas, pois as crianças são mais propensas a permanecer engajadas quando acham o processo agradável.
Preditores de sucesso a longo prazo no tratamento
- Engajamento e motivação: Segundo o Dr. Michal Brzeziński, as crianças que apresentam sinais precoces de problemas metabólicos (por exemplo, HAS, resistência à insulina) costumam estar mais motivadas a manter um programa. Essa motivação muitas vezes se estende aos pais, que podem se tornar mais envolvidos ao perceberem os riscos sérios que a obesidade representa. Da mesma forma, crianças com graus mais elevados de obesidade (obesidade mórbida) também podem ser mais propensas a permanecer engajadas devido ao impacto visível e imediato em sua saúde.
Mensagem prática
- Abordar a obesidade pediátrica requer uma abordagem holística que envolve a criança, seus pais, profissionais de saúde e a comunidade mais ampla;
- A intervenção precoce, o envolvimento dos pais, a compreensão dos desafios únicos de diferentes estruturas familiares e a incorporação de elementos sociais e educacionais nos programas de tratamento são essenciais para melhorar os resultados;
- Com os avanços tanto em tratamentos cirúrgicos quanto farmacológicos, o cenário está mudando, mas o foco contínuo na criação de ambientes de apoio e envolvimento continua sendo essencial.
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