EAPS 2024: TikTok e saúde mental de crianças e adolescentes
Durante o 10º Congresso da Academia Europeia de Sociedades Pediátricas (EAPS 2024), a pesquisadora Lisa Dittmer compartilhou insights críticos sobre os impactos do TikTok na saúde mental das crianças e adolescentes. Ela avaliou as práticas comerciais do TikTok e as consequências de seus algoritmos, que têm sido ao mesmo tempo revolucionários e controversos, moldando as experiências digitais de milhões de jovens usuários em todo o mundo.
O algoritmo acompanha os vídeos os usuários assistem, reassistem e pulam, permitindo que rapidamente construa um perfil das preferências individuais em questão de minutos. Essa abordagem personalizada torna a plataforma altamente envolvente, mas também contribui para o vício, o que tem gerado preocupações, especialmente nessa fase de grande desenvolvimento neurocognitivo. Além do TikTok, o algoritmo teve influência significativa em outras plataformas de mídia social, como o YouTube e o Instagram, que introduziram recursos semelhantes, como o YouTube Shorts e os Reels do Instagram.
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Saúde mental e o uso de mídias sociais
A pesquisadora Dittmer destacou uma preocupante correlação entre o uso de mídias sociais e problemas de saúde mental em crianças e jovens. Desde o início da pandemia de COVID-19, a quantidade de tempo que os jovens passam em plataformas como o TikTok aumentou significativamente, muitas vezes exacerbando problemas de saúde mental pré-existentes, como ansiedade, depressão e ideação suicida.
Um aspecto relevante do ambiente do TikTok é o espaço que ele oferece para os jovens compartilharem suas lutas com a saúde mental. Embora isso possa proporcionar um senso de comunidade e apoio, também cria um terreno fértil para conteúdos que romantizam o trauma, a depressão e a automutilação, segundo a pesquisadora. A Dittmer descreveu uma subcultura dentro do TikTok onde músicas melancólicas, imagens escuras e narrações transmitem sofrimento pessoal de maneiras que podem ser desencadeantes para usuários vulneráveis.
Durante a plenária um caso específico mencionado por Dittmer envolvia um vídeo com uma narração gerada por IA que fazia a pergunta: “Você já quis que tudo acabasse?”, normalizando os pensamentos depressivos.
Modele viciante e mudanças no cérebro
Um tema chave na apresentação da Dittmer foi a natureza viciante do TikTok. O recurso de rolagem infinita, a reprodução automática e o fluxo constante de conteúdo tornam difícil para os usuários se desconectarem. Esse modelo explora mecanismos psicológicos que recompensam os usuários com picos de dopamina, semelhantes aos desencadeados por substâncias viciantes. Com o tempo, isso pode levar ao uso compulsivo, onde crianças e adolescentes passam muito mais tempo na plataforma do que pretendem.
Foram apresentados outros dados sobre o uso excessivo de mídias sociais a vários problemas de saúde mental, como distúrbios do sono, déficits de atenção e aumento da ansiedade. Mais alarmante, o uso excessivo foi associado a mudanças estruturais no cérebro, particularmente em regiões ligadas à tomada de decisões, controle de impulsos e regulação emocional. A natureza viciante do modelo do TikTok, portanto, não afeta apenas a saúde mental dos usuários de forma pontual, mas pode levar a mudanças de longo prazo no funcionamento de seus cérebros.
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Implicações mais amplas para a indústria
O sucesso do modelo algorítmico do TikTok influenciou toda a indústria de mídia social, levando à adoção generalizada de práticas semelhantes em várias plataformas, criando um ambiente viciante e a amplificação de conteúdos em detrimento da saúde mental dos jovens usuários. A palestrante finalizou a sua apresentação ressaltando a necessidade urgente de maior regulamentação e responsabilização na indústria de mídia social, para que haja respeito à proteção de crianças e adolescentes expostos às plataformas. Além de fomentar uma reflexão sobre o papel das mídias sociais em nossas vidas e suas consequências de longo prazo para o bem-estar mental.
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