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Pediatria15 julho 2025

Eficácia da amoxicilina na nutrição enteral de crianças em UTI

Amoxicilina melhora a tolerância à nutrição enteral em crianças graves com INE, reduzindo sintomas gastrointestinais sem efeitos adversos.
Por Jôbert Neves

A intolerância à nutrição enteral (INE) é uma condição comum em crianças internadas em unidades de terapia intensiva pediátrica (UTIP), frequentemente associada à motilidade gastrointestinal reduzida. Os agentes procinéticos disponíveis apresentam eficácia limitada e riscos de efeitos adversos, o que torna o seu uso pouco prático. Alguns estudos preliminares sugerem que a amoxicilina pode ter efeitos procinéticos, melhorando a motilidade gastrointestinal, mas sua eficácia clínica em crianças criticamente doentes com INE ainda não havia sido avaliada.  

Nesse contexto, foi publicado no Journal of Pediatrics Gastroenterology and Nutrition (JPGN) um ensaio clínico randomizado, duplo-cego, controlado por placebo, com 90 crianças (1 mês a 12 anos) com INE após 7 dias de internação na UTIP do Hospital Universitário de Sohag, no Egito. Os participantes foram randomizados para receber amoxicilina (10 mg/kg) ou placebo por sonda nasogástrica, três vezes ao dia, durante 7 dias. O desfecho primário foi a tolerância alimentar no 7º dia (ingestão ≥ 2/3 da necessidade energética sem sintomas gastrointestinais). Desfechos secundários incluíram aumento da ingestão enteral e ocorrência de sintomas gastrointestinais adversos. Com destaque para os seguintes resultados:  

 

  • Tolerância alimentar no 7º dia foi alcançada por 75,6% das crianças no grupo amoxicilina, comparado a 31,1% no grupo placebo (RR: 2,4; IC 95%: 1,5–3,9; p < 0,001). 
  • Aumento da ingestão enteral: o grupo amoxicilina apresentou um aumento mediano de 60% (IQR: 40%–68%) em relação ao valor basal, enquanto o grupo placebo teve aumento de apenas 24% (IQR: 10%–50%) (p < 0,001). 
  • Vômitos ocorreram em apenas 2,2% das crianças tratadas com amoxicilina, contra 35,6% no grupo placebo (RR: 0,06; IC 95%: 0,01–0,45; p < 0,001). 
  • Diarreia foi observada em 8,9% do grupo amoxicilina versus 31,1% no grupo placebo (RR: 0,29; IC 95%: 0,10–0,80; p = 0,016). 
  • Volume gástrico residual elevado foi semelhante entre os grupos (24,4% vs. 31,1%; p = 0,480). 
  • Distensão abdominal ocorreu em 15,6% no grupo amoxicilina e 28,9% no grupo placebo (p = 0,128). 
  • Não houve casos de dor abdominal, melena, hematochezia ou rash cutâneo em nenhum dos grupos. 
  • A análise multivariada identificou a terapia com amoxicilina (aOR: 15,1), menor escore PIM-3 e maior ingestão enteral basal como preditores independentes de sucesso no desfecho primário.

Conclusão 

A amoxicilina administrada por sonda nasogástrica demonstrou eficácia significativa na melhora da tolerância à nutrição enteral em crianças criticamente doentes com INE, com redução de sintomas gastrointestinais e sem efeitos adversos relevantes. Os autores sugerem que os efeitos procinéticos da amoxicilina podem estar relacionados a mecanismos neurais não colinérgicos e interações com receptores GABAérgicos. Esses achados sugerem que a amoxicilina pode representar uma alternativa terapêutica promissora, embora estudos adicionais sejam necessários para confirmar sua eficácia a longo prazo e elucidar seus mecanismos de ação. 

Leia também: Uso de amoxicilina para o tratamento de infecções torácicas em crianças apresenta poucos efeitos

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Referências bibliográficas

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