Estudo analisa respostas eletromiográficas dos músculos nas cirurgias pediátricas
Os agentes bloqueadores neuromusculares (BNM) são essenciais para facilitar a intubação traqueal e proporcionar relaxamento muscular durante cirurgias. No entanto, a monitorização quantitativa da resposta e recuperação destes fármacos é recomendada pela Sociedade Americana de Anestesiologistas (American Society of Anesthesiologists – ASA) e pela Sociedade Europeia de Anestesiologia e Terapia Intensiva (European Society of Anaesthesiology and Intensive Care), utilizando dispositivos de sequência de quatro estímulos (train-of-four – TOF). Apesar dessas recomendações, o uso de monitorização quantitativa ainda não é comum em pacientes pediátricos devido à falta de monitores confiáveis e desafios na calibração dos dispositivos. A aceleromiografia, que requer movimento livre do músculo-alvo, pode ser inviável em certos contextos clínicos. Alternativamente, dispositivos baseados em eletromiografia (EMG), que medem a amplitude das respostas musculares sem exigir movimento, podem ser utilizados.
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Na prática clínica, o monitoramento do bloqueio neuromuscular não recebe a sua devida importância. Nos últimos anos, a introdução do sugamadex para reverter de forma mais rápida e eficaz o bloqueio, especialmente profundo, em comparação com a neostigmina, gerou inúmeras discussões sobre a necessidade de um monitoramento neuromuscular quantitativo. Ademais, outros inúmeros fatores também podem influenciar a viabilidade deste monitoramento em pacientes pediátricos, culminando no uso limitado deste tipo de tecnologia nesta população. Um recente estudo avaliou a viabilidade de registrar respostas de EMG da extremidade inferior em pacientes pediátricos, comparando-as com as respostas da mão, oferecendo uma potencial solução para as limitações atuais no monitoramento pediátrico dos BNM. O artigo com os resultados foi publicado no Anesthesia & Analgesia.
Imagem de DC Studio/FreepikMetodologia
O estudo consistiu em uma análise comparativa prospectiva e foi conduzido no Nationwide Children’s Hospital, em Columbus, Estados Unidos. Foram incluídos crianças e adolescentes de até 18 anos. Esses pacientes foram identificados na área de espera pré-operatória no dia da cirurgia, no período de 13 de fevereiro a 20 de maio de 2023. Os pacientes com histórico de doença neurológica periférica, miopática ou neuropática, edema periférico ou nos quais o acesso a uma extremidade superior e inferior não estava disponível para colocação do monitor foram excluídos do estudo.
Os pacientes incluídos no estudo foram submetidos à EMG simultaneamente no pé (nervo tibial posterior, músculo flexor curto do hálux) e na mão (nervo ulnar, músculo adutor do polegar).
Resultados
O estudo incluiu 50 pacientes pediátricos com média de idade de 3 anos. Os seguintes resultados foram descritos:
- A amplitude inicial da primeira contração (T1) do TOF no pé (12,46 mV) foi 4,47 mV maior do que na mão (P < 0,0001);
- A razão TOF inicial (RTOF) antes da administração do BNM e a RTOF máxima depois do antagonismo com sugamadex não diferiram nos dois locais de conexão;
- O tempo de início até que o T1 diminuísse para 10% ou 5% do valor inicial foi retardado em cerca de 90 segundos no pé em comparação com a mão (ambos P = 0,014);
- A RTOF no pé foi recuperada (RTOF ≥ 0,9) 191 segundos mais tarde do que quando esse limite foi alcançado na mão (P = 0,017);
- T1 não retornou ao seu valor basal após o antagonismo, um achado típico com monitoramento de EMG, mas a recuperação fracionada (T1 máximo na recuperação dividido pelo T1 basal) na mão e no pé não foi diferente: 0,81 e 0,77, respectivamente (P = 0,68);
- A RTOF final alcançada na recuperação foi de aproximadamente 100% e não foi diferente entre os dois locais.
Conclusão
O estudo teve o objetivo de avaliar se as respostas de EMG dos músculos flexor curto do hálux (pé) e adutor do polegar (mão) são equivalentes em pacientes pediátricos. Os resultados mostraram que o início do BNM e a recuperação após antagonismo com sugamadex foram retardados no pé em comparação à mão. Isso significa que retardos no pé no início e na recuperação do BNM ao usar o pé como um local alternativo à mão para monitoramento quantitativo de EMG em pacientes pediátricos precisam ser considerados ao cronometrar a laringoscopia e a extubação, respectivamente.
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