Principais doenças oftalmológicas na infância: Refração em crianças
A maior parte do crescimento do olho ocorre no 1º ano de vida. O comprimento axial do olho apresenta 3 fases de crescimento, a 1ª, que é o crescimento mais acelerado, ocorre do nascimento até os 2 anos. Na segunda (2 aos 5 anos) e terceira (5 aos 13 anos) fases há uma desaceleração do crescimento. A córnea e o cristalino também tem um crescimento rápido no 1º ano de vida, tendo um achatamento progressivo ao longo dos anos, até atingir os valores médios encontrados em adultos.
À medida que o comprimento axial do olho aumenta, juntamente com o achatamento da córnea e do cristalino ocorrem alterações no estado refrativo. Tipicamente, os olhos apresentam hipermetropia ao nascer, que tende a aumentar até os 7 anos. Posteriormente, ocorre uma mudança em direção à miopia, esse processo é conhecido como emetropização, ajustando-se até alcançar um estado mais plano, por volta dos 16 anos, quando o olho atinge seu tamanho adulto.
Desenvolvimento Visual Normal
O desenvolvimento visual é um processo de maturação altamente complexo. Mudanças estruturais ocorrem tanto no olho quanto no sistema nervoso central. O desenvolvimento contínuo da função visual após o nascimento é acompanhado por grandes mudanças anatômicas ocorrendo simultaneamente em todos os níveis das vias visuais centrais. Nos primeiros anos de vida, os fotorreceptores são redistribuídos na retina, enquanto a densidade dos cones na fóvea aumenta em até 5 vezes. Isso permite que a retina alcance a estrutura típica do olho adulto, resultando em uma melhora da acuidade visual até 20/20.
Erros de refração
Nos olhos emetropes, os raios de luz são direcionados pela córnea e pelo cristalino, sendo focalizados diretamente na retina, o que permite a formação de uma imagem nítida, que é então enviada ao cérebro. O cristalino possui certa elasticidade, especialmente em pessoas mais jovens. Durante o processo de acomodação, os músculos ciliares ajustam a forma do cristalino para alcançar o foco adequado. Já nos casos de erros refrativos, o olho não consegue formar uma imagem nítida na retina, resultando em visão embaçada.
Miopia: os raios de luz provenientes de objetos distantes são focados antes de alcançarem a retina, o que pode ocorrer devido à curvatura acentuada da córnea ou ao comprimento excessivo do eixo ocular, ou ambos. Na miopia, a visão de objetos distantes fica embaçada, enquanto os próximos permanecem nítidos. Para corrigir esse excesso de convergência, são utilizadas lentes negativas (côncavas).
Hipermetropia: a imagem de um objeto distante tende a ser focada além da retina, seja pela curvatura mais plana da córnea ou pelo comprimento reduzido do eixo ocular. Crianças e jovens com hipermetropia leve podem ver nitidamente devido à capacidade de acomodação. A correção da hipermetropia é feita com lentes positivas (convexas), que compensam o excesso de divergência.
Astigmatismo: uma curvatura irregular da córnea ou do cristalino faz com que os raios de luz de diferentes orientações (como vertical, oblíqua ou horizontal) sejam focados em pontos distintos do olho. A correção é feita com lentes cilíndricas, que possuem poder refrativo em apenas um eixo, sendo côncavas ou convexas no outro.
Refração em crianças
É fundamental que crianças sejam rotineiramente avaliadas por oftalmologistas, pois dados da International Agency for Prevention of Blindness (IAPB) mostram que 5.5% das crianças em idade escolar podem ser afetadas com o diagnóstico de baixa acuidade visual e que desses, 80% podem ser corrigidos apenas com o uso de óculos.
Erros refrativos não corrigidos em crianças podem afetar o desempenho acadêmico, bem como o desenvolvimento neuropsicomotor. Além disso, a ambliopia, que é a principal causa de baixa acuidade visual unilateral, é prevenível ou reversível com detecção e intervenção oportunas.
Idealmente, recomenda-se que a criança passe por um exame oftalmológico completo entre 6 e 12 meses. Se a criança não puder fazer essa avaliação, recomenda-se pelo menos um exame oftalmológico completo entre 3 e 5 anos de vida e, idealmente, aos 3 anos de idade, devido ao melhor prognóstico para o tratamento precoce da ambliopia.
As recomendações atuais para a prescrição de refração da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica são:
Crianças portadoras de MIOPIA (sem anisometropia):
- Com idades entre 0 e 1 ano: corrigir graus ≥ – 4,00 Dioptrias (D)
- Com idades entre 1 e 2 anos: corrigir graus ≥ – 3,00
- Com idades entre 2 e 3 anos: corrigir graus ≥ – 2,50 D
Crianças com HIPERMETROPIA (sem anisometropia e ortofórica)
- Com idades entre 0 e 1 ano: corrigir graus ≥ + 6,00 D
- Com idades entre 1 e 3 anos: corrigir graus ≥ + 5,00 D
- Reduzir a prescrição final de 1,00 a 2,00 D
Crianças com ASTIGMATISMO (sem anisometropia)
- Com idades entre 0 e 2 anos: corrigir graus > 2,50 D
- Com idades entre 2 e 3 anos: corrigir graus > 2,00 D
Crianças com anisometropia ou com estrabismo, a prescrição segue outras recomendações, para maiores informações nesse cenário, ler o conteúdo de ambliopia e estrabismo dessa série.
Conclusão
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estabeleceu que a triagem escolar para detecção de erros de refração constitui uma das ações prioritárias, visando à redução da deficiência visual evitável na população infantil. Os erros refrativos não corrigidos representam a principal causa de deficiência visual evitável em crianças em escala global.
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