Na série especial “Histórias de Cuidado: Relacionamento médico-paciente”, compartilhamos relatos de médicos sobre casos que vivenciaram em sua rotina e como lidaram com cada situação de forma gentil e empática.
O objetivo é explorar a Medicina sob uma perspectiva mais subjetiva, revelando as nuances do cuidado com o paciente.
Boa leitura!
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Caso de hoje
Cheguei cedo no consultório, alinhei os prontuários dos pacientes, sendo alguns deles a primeira vez comigo.
Ao decorrer da manhã, lidei com diversas condições comuns do consultório de endocrinologia, como diabetes mellitus, hipotireoidismo e nódulos tireoidianos.
O último paciente era um caso de obesidade. Entretanto, algo a mais me chamou a atenção.
Tratava-se de um paciente do sexo masculino, 30 anos, com diagnóstico de obesidade grau I, praticava atividade física de modo regular há, pelo menos, 6 meses, porém com enorme dificuldade em seguir um plano alimentar adequado. Até então, o caso aparentava ser tranquilo de manejar.
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Particularidades do caso
O ponto de atenção para esse paciente é que desde os 10 anos de idade ele apresentava comer noturno. A noite se tornava um momento de tensão, principalmente ao se aproximar da hora de dormir, pois sempre tinha medo de acordar para comer. Não necessariamente ele comia algo excessivamente calórico, variava de frutas à latas de leite condensado.
À medida que a consulta foi se desenvolvendo, consegui sutilmente, por meio de perguntas, entender que tal comportamento em parte era explicado pela proibição de comer determinados alimentos durante a infância, o que motivava o paciente a comer escondido à noite. O paciente foi questionado sobre a sua infância, sobre os hábitos alimentares adquiridos e sobre sua relação com a comida, que foi descrita como “amor e ódio”.
Confesso que fiquei realizada por conquistar a confiança de um paciente novo com um relato tão íntimo e verdadeiro.
O paciente relatou que nunca se sentiu acolhido por um endocrinologista a ponto de querer buscar ajuda para tratar esse aspecto da obesidade. Abordamos sobre todos os pilares para um tratamento da obesidade de sucesso que, no caso dele, necessitava de uma equipe multidisciplinar principalmente com Psiquiatria, Psicólogo e Nutricionista.
Desfecho do caso
O fim da consulta foi preenchido de agradecimentos e expectativas positivas e realistas em relação ao seu futuro. Fiquei à disposição para ajudá-lo nessa jornada.
Tal caso mostrou que a medicina não é uma ciência exata e que nem sempre o tratamento é fácil. Um caso clínico que aparentemente parecia ser comum, ensinou que o ser humano é complexo e que muitas comorbidades requerem um olhar mais atento do médico.
Muitas vezes, é preciso deixar a precisão da ciência de lado e escutar o paciente com o coração para que a relação médico-paciente se solidifique e o tratamento seja eficaz.
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