O câncer de pulmão é a segunda principal causa de morte por neoplasia no mundo. O tabagismo e a poluição ambiental continuam sendo os principais fatores de risco. No entanto, o aumento no número de casos entre não tabagistas reforça a importância do estudo de mutações genéticas, a fim de melhorar a compreensão e o manejo da doença.
Tratando dessa questão no Congresso do American College of Physicians (ACP), Dr. Tejas Patil afirma que “Enquanto houver pulmões, pode haver câncer de pulmão“. Por isso, devemos estar prontos para identificar e tratar esses pacientes.
O impacto da imunoterapia
Nas últimas duas décadas, o desenvolvimento de novas terapias transformou o prognóstico do câncer de pulmão. No início dos anos 2000, a taxa de mortalidade em cinco anos era de cerca de 90%. Em 2016, surgiu o primeiro estudo pivotal com pembrolizumabe em pacientes com doença metastática e expressão elevada de PD-1. O uso da imunoterapia reduziu de forma expressiva e sustentada a mortalidade.
Além do pembrolizumabe, muitos estudos vêm desenvolvendo novas imunoterapias. Como o câncer de pulmão é uma neoplasia frequente, é cada vez mais comum encontrar pacientes em uso dessas medicações, tornando essencial o reconhecimento dos eventos adversos. Os mais comuns incluem tireoidite e dermatite — mas, como frisado pelo Dr. Patil, qualquer “ite” pode ocorrer. É fundamental estar atento aos sinais e sintomas, sempre em associação com a cinética da droga. Existe uma clara correlação entre o tempo de exposição e o início dos efeitos colaterais.
Avanços na terapia-alvo
O aprofundamento no conhecimento sobre o perfil molecular dos tumores possibilitou o desenvolvimento das chamadas terapias-alvo. Inicialmente testadas para doença sistêmica, essas terapias hoje também são avaliadas para tumores em fases iniciais.
A Dra. Narjust Florez discutiu a importância de irmos além da imuno-histoquímica: biomarcadores moleculares são essenciais para identificar possíveis alvos terapêuticos. Por exemplo, cerca de 40% dos pacientes com adenocarcinoma de pulmão não tabagistas apresentam mutação no EGFR. Esse grupo responde pior à quimioterapia e à imunoterapia, sendo prioritário o uso de terapia-alvo.
A Dra. Florez também destacou os avanços no manejo pós-ressecção. Estudos recentes mostram que após neoadjuvância e cirurgia, há benefício em manter a imunoterapia como adjuvância, consolidando a estratégia em “sanduíche”: quimioterapia + imunoterapia ➝ cirurgia ➝ imunoterapia.
A importância do rastreamento
A última palestra de sábado, dia 5 de abril do ACP 2025, da Dra. Kim Sandler, abordou o rastreamento do câncer de pulmão. Hoje, essa prática está bem estabelecida graças a estudos como NLST, NELSON e MILD. Contudo, apenas 15% dos pacientes elegíveis são rastreados na prática.
Para ampliar o acesso, foi desenvolvido um programa que associa mamografia e tomografia de tórax em pacientes com indicação dupla de rastreio. Essa abordagem aumentou a adesão e possibilitou diagnósticos precoces. Apesar de todos os avanços terapêuticos, a detecção precoce continua sendo o fator mais impactante na sobrevida dos pacientes.
Mensagens principais
- O câncer de pulmão deve ser abordado além da imuno-histoquímica, com ênfase no perfil molecular dos tumores.
- É fundamental que o clínico esteja familiarizado com os eventos adversos da imunoterapia e das terapias-alvo, frente ao aumento crescente do seu uso.
- Novas estratégias na doença inicial estão permitindo maiores taxas de sobrevida com melhor qualidade de vida.
- O rastreamento do câncer de pulmão é crucial, mas ainda está subutilizado na prática clínica.
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