Logotipo Afya
Anúncio
Endocrinologia7 abril 2025

ACP 2025: Síndrome do ovário policístico - Realmente uma doença do clínico

Confira o que é relevante o clínico médico saber a respeito do diagnóstico e tratamento da SOP.

Durante o ACP Internal Medicine Meeting 2025, a Dra. Melissa McNeil, professora de Medicina e Educadora Clínica na Warren Alpert School of Medicine da Brown University, apresentou uma palestra didática sobre o diagnóstico e manejo da síndrome dos ovários policísticos (SOP). Sua exposição foi guiada por quatro casos clínicos, cuidadosamente escolhidos para representar o espectro heterogêneo da SOP e suas manifestações ao longo da vida. 

Apresentação dos casos clínicos e importância clínica da SOP

A palestra teve início com a exposição de quatro pacientes distintas, cujos perfis ilustraram a variabilidade fenotípica da SOP. A primeira era uma adolescente com menarca recente, apresentando irregularidade menstrual e acne, com exames laboratoriais sugerindo hiperandrogenismo e ultrassonografia evidenciando ovários com morfologia policística. A segunda paciente era uma jovem adulta com hirsutismo progressivo, ciclos espaçados e sobrepeso, em que se observou também resistência insulínica. A terceira mulher, na faixa dos 30 anos, era obesa e buscava tratamento para infertilidade; seus exames revelaram dislipidemia, síndrome metabólica e anovulação crônica. A última paciente, já na pós-menopausa, tinha histórico conhecido de SOP e agora apresentava risco cardiovascular significativamente elevado, com hipertensão e intolerância à glicose. 

Esses exemplos permitiram à Dra. McNeil enfatizar que a SOP não é uma entidade estática, mas sim um distúrbio endócrino crônico e multifacetado, com consequências que se estendem desde a adolescência até a menopausa. Com prevalência estimada entre 8% e 13% entre mulheres em idade reprodutiva, a SOP representa uma das causas mais comuns de anovulação crônica e infertilidade, mas seus impactos vão além da esfera reprodutiva. Cerca de 75% das mulheres com a condição apresentam oligoanovulação e entre 60 e 90% apresenta hirsutismo, dois dos principais sintomas que impactam diretamente a qualidade de vida dessas mulheres. É importante ponderar que a presença de ovários policísticos no ultrassom não é um critério obrigatório e muitas mulheres sem SOP também apresentam ovários policísticos no exame. 

DIAGNÓSTICO E EXCLUSÃO DE OUTRAS ETIOLOGIAS 

Dra. McNeil reforçou os critérios de Rotterdam como base diagnóstica atual para SOP, exigindo a presença de ao menos dois dos três critérios: oligo/anovulação, sinais clínicos ou bioquímicos de hiperandrogenismo, e presença de ovários policísticos à ultrassonografia. Importante salientar que a SOP permanece um diagnóstico de exclusão. Assim, devem ser descartadas condições como hiperplasia adrenal congênita, síndrome de Cushing, tumores secretores de androgênio, e disfunções tireoidianas antes de se firmar o diagnóstico. 

IMPLICAÇÕES METABÓLICAS E SISTÊMICAS DA SOP 

A palestrante destacou a forte associação da SOP com resistência insulínica, obesidade, dislipidemia e risco aumentado para desenvolvimento de diabetes tipo 2, além da correlação crescente com a doença hepática esteatótica metabólica (DHEM). A condição também se associa a aumento de risco para hipertensão, apneia obstrutiva do sono e hiperplasia endometrial. Esses dados sustentam a necessidade de uma abordagem clínica multidimensional, que vá além do controle dos sintomas estéticos e menstruais. 

MANEJO CLÍNICO INDIVIDUALIZADO 

No que se refere ao tratamento, a Dra. McNeil defendeu uma abordagem centrada na paciente, com plano terapêutico personalizado segundo a fase da vida e os objetivos clínicos de cada mulher. A mudança no estilo de vida — com foco na perda de peso, alimentação balanceada e atividade física regular — foi considerada pilar fundamental, sobretudo para pacientes com sobrepeso ou obesidade, devido ao impacto positivo sobre ciclos menstruais, resistência insulínica e fertilidade. 

Para o manejo dos ciclos irregulares e do hiperandrogenismo, os anticoncepcionais hormonais combinados permanecem o tratamento de escolha. A médica destacou preferência por formulações com progestagênios de baixa atividade androgênica, como a drospirenona ou a ciproterona, e lembrou que a escolha deve considerar fatores de risco cardiovascular, adesão e efeitos colaterais. Em mulheres com hirsutismo persistente, a espironolactona pode ser utilizada como adjuvante, desde que se assegure contracepção adequada. 

Em pacientes com resistência insulínica ou comprometimento glicêmico, a metformina tem papel importante, com potencial de restaurar a ovulação, melhorar o perfil metabólico e reduzir o risco de progressão para diabetes. Para aquelas com infertilidade anovulatória, a Dra. McNeil enfatizou que o letrozol é superior ao clomifeno para indução de ovulação, com maiores taxas de gestação e menor risco de gestação múltipla. 

NOVAS PERSPECTIVAS TERAPÊUTICAS 

A médica também explorou potenciais terapias emergentes, como os agonistas do receptor de GLP-1, entre eles a semaglutida, atualmente em estudo para tratamento da SOP associada à obesidade. Embora ainda não aprovados especificamente para essa indicação, os resultados preliminares apontam para efeitos promissores na perda de peso, na melhora do perfil glicêmico e, possivelmente, na restauração da função ovulatória. 

ENCERRAMENTO E REFLEXÃO FINAL 

Ao final da apresentação, a Dra. McNeil reforçou que a SOP é uma condição com implicações ao longo de toda a vida da mulher, exigindo do clínico não apenas capacidade diagnóstica, mas sensibilidade para compreender o impacto físico e emocional da síndrome. O manejo adequado pode melhorar significativamente a qualidade de vida, prevenir complicações metabólicas e promover bem-estar em longo prazo. Assim, o clínico generalista, frequentemente o primeiro profissional a ter contato com essas pacientes, deve estar preparado para reconhecer a SOP em suas múltiplas formas e conduzir intervenções baseadas em evidências e em uma escuta ativa das necessidades individuais de cada mulher. 

Como você avalia este conteúdo?

Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.

Compartilhar artigo

Newsletter

Aproveite o benefício de manter-se atualizado sem esforço.

Anúncio

Leia também em Ginecologia e Obstetrícia